Capítulo 45

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Ele caminhou devagar para a sala, a cabeça baixa. Cecília terminava de arrumar alguma coisa na cozinha, mas viu que o filho parecia chateado com alguma coisa.
— O que foi, querido? — ela perguntou.
— Ela acordou, vou levar a sopa. — ele disse simplesmente, mas Cecília sabia que ali tinha coisa.
— Aconteceu alguma coisa?
Miguel se apoiou no balcão e levou as mãos ao rosto.
— Ele bateu nela, as costas de Angélica estão cheias de cicatrizes.
Cecília sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Antes que Miguel percebesse, ela começou a falar:
— Não se preocupe, ela está conosco agora, e essas cicatrizes vão sumir com o tempo, eu tenho uma receita caseira ótima. — ela falou, forçando um sorriso. — Eu vou na horta pegar umas ervas, você esquente a sopa e leve para ela.
Ramiro e Tobias olhavam nervosos para o advogado. Daniel tinha chegado de viagem e a primeira coisa foi ir até a mansão, ele sabia que seria um caos a conversa, e culpava seu pai por isso. Otávio, seu pai, era advogado de Luís, pai de Ramiro, e quando Luís morreu e Ramiro já era um homem adulto, Otávio passou o caso para o filho.
— E então? — Ramiro começou. —Tobias te falou o que aconteceu, não falou?
Daniel olhou para Tobias, um pouco nervoso.
— Sim, ele fez um apanhado comigo. Por isso eu vim.
— E o que diz? Há algo que eu possa fazer para proteger minha família da falência?
A advogada respirou fundo.
— Na verdade, Ramiro... há algo que meu pai me falou quando eu virei o advogado da família Viana... que muda tudo.
Ramiro se levantou da mesa, nervoso.
— Mais?
— Primeiro você precisa entender que quem exigiu sigilo foi seu pai. — Daniel começou na defensiva.
— Daniel, fala logo. — Tobias pediu em desespero.
Daniel tirou um documento de dentro da pasta e estendeu para Ramiro.
— Luís tinha que cumprir o mesmo acordo que você, ter filhos legítimos. — o advogado começou a falar. — Mas ele descobriu a verdade, por isso mandou Iolanda e o Bernardo para fora da propriedade. Na mesma época, ele ficou um pouco sentido sobre o que fazer com você...
Ramiro olhou para Daniel, esperando.

— Meu pai o aconselhou a deixar você com Iolanda também, arranjar outra mulher e ter filhos legítimos... mas ele já era muito apegado a você, até então você era o que tinha sobrado de Maria Helena, você era o único filho com a mulher que ele amava.
— Por isso ele me deixou ficar.
— Para Luís você era o filho... naquela época não tinha essa coisa de DNA... então ele fez um documento te legitimando assim como outros antes dele fizeram com seus filhos. A sua legitimidade é incontestável, Ramiro.
Tobias olhou feliz para o pai, mas o homem parecia confuso.
— E vocês nunca pensaram em me contar sobre isso? Teriam me poupado uma dor de cabeça.
— Isso segue sendo um segredo, Ramiro. Ninguém esperava que isso viesse a tona para você e na verdade... a gente mesmo não sabia que você e Bernardo eram irmão. Luís não contou a história inteira, ele deu a entender que Maria tinha o traído.
Ramiro olhou para o documento novamente e respirou fundo.
— Então minha família está financeiramente segura... nada pode tirar isso delas... — ele perguntou.
— Não... nada. — Daniel olhou para o rosto do amigo. — Eu sinto muito, Ramiro. O que me foi dito pelo meu pai era que eu jamais poderia falar sobre isso com você, eu só precisava saber por emergência...
Depois que Angélica comeu, ela voltou a deitar. Miguel ficou ao seu lado, fazendo carinho em seu cabelo. Ela sorriu sem graça para ele, pegando sua mão e a beijando. Ele sorriu de volta, se inclinando para beijá-la na boca, devagar, delicado.
— Me desculpa... por mais cedo. — ela falou quando se afastaram, se referindo às cicatrizes.
— Não se preocupa... eu sei que você não fez por mal. — ele disse.
— Eu não tenho vergonha de você, tenho vergonha disso. — ela disse apontando para o olho.
— Quando ele fez isso?
— Na segunda-feira a noite... me bateu com um cinto. — ela falou devagar. — Ele ria, mas eu não conseguia nem chorar... estava em choque. O que me fez voltar para a realidade foi a foto do seu acidente...
Miguel a puxou para deitá-la em seu peito, tomando cuidado com as costas dela para não machucar.

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