Capítulo 29

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Ramiro pegou Angélica nos braços com ajuda do segurança. Chamou Joana para subir até o quarto de hospedes. Colocou a jovem na cama e foi até o banheiro ligar um banho quente.
— Joana, coloque ela no banho, por favor. — ele pediu.
O segurança os acompanhou com a mochila dela e Ramiro a pegou. Abriu e tentou achar alguma roupa quente, nenhuma, só tecidos muito leves. Ele respirou fundo e olhou para sua filha que tremia na roupa molhada.
— Vou até o quarto de Fernanda pegar alguma roupa mais quente.
Miguel olhava para Fabiana como se ela tivesse três cabeças e as três estivessem em chamas. As palavras não faziam nenhum sentido dentro de sua cabeça, mas ao mesmo tempo elas foram certeiras como nenhuma outra.
— Grávida?
Fabiana foi até a bolsa e pegou os exames. Estendeu a ele e cruzou os braços. Miguel olhava as folhas atento.
— Grávida, e é seu, antes que me pergunte. Ai tem a data gestacional e eu nunca te trai. Estou com quase três meses.
Miguel era puramente um misto de sentimentos. Um filho era uma benção, claro, mas um filho nessas condições podia beirar o pesadelo. Seu coração batia forte, seu corpo estava travado. Fabiana estava realmente grávida e pelas contas e o que estava escrito no papel... realmente ele era o pai.
— Como isso aconteceu? — ele perguntou, mais para ele do que para ela.
Eles eram tão cuidadosos, Miguel jamais gostaria de ter um filho fora do casamento, por isso sempre usava camisinha ou na pior das situações, tirava antes. Olhou para Fabiana buscando por resposta. Ela o olhou com uma cara irônica.
— Quer mesmo que eu te explique? Você estava com uma prostituta esse tempo todo, ela deve ter te ensinado muita coisa.
Miguel jogou os papeis na mesa de centro e passou a mão pelo rosto. Ele não conseguia raciocinar. Era seu filho na barriga daquela mulher detestável e era Angélica sabe-se Deus onde, em uma chuva desgraçada que caia na cidade. Miguel foi movido por um impulso e pegou as chaves do carro.
— Onde você pensa que vai? — ela perguntou ao vê-lo caminhar até a porta. — A gente tem muito o que conversar.

— Você parece ter tempo, tem pizza e um sofá confortável, você pode esperar. — Miguel falou nervoso e saiu.
Ramiro desceu as escadas passando as mãos pelo rosto. Viu Joana se aproximando do pé da escada com um chá para ele. O empresário aceitou de bom grado, caminhando até o sofá.
— Essa menina é... — Joana começou a perguntar.
— É Angélica... minha filha, Joana. — ele disse com um suspiro.
— O que aconteceu com a menina, Ramiro? — Joana perguntou.
— Eu não sei, ela não quis me dizer, e pediu para eu não falar nada para ninguém que ela está aqui... imagino que ela queira dizer o namorado... que eu tenho certeza que tem dedo daquele homem nessa história. — ele respondeu contrariado.
Joana se sentou ao lado do patrão, que ao longo dos anos mais se tornou um filho para ela. Ramiro a contratou quando ainda era um jovem que tinha recém assumido a empresa do pai, também recém casado. Joana cuidou dele desde então, depois cuidou dos meninos. Acompanhou tudo. E Ramiro também ajudou muito sua família, todos os seus filhos tinham se formado da faculdade graças a ele. Joana tinha muita gratidão, e era mútuo. Ramiro confiava em Joana com a sua alma, a mulher o conhecia de todos os jeitos.
— Ela é bem parecida com a mãe... — Joana disse, pegando a mão do homem na sua.
— Ela é... mas o jeito é meu, isso eu sei. — Ramiro disse com um sorriso fraco.
— Não se preocupa, Ramiro... ela está aqui e está bem, amanhã vocês conversam e você tenta entender o que aconteceu.
— Se aquele Miguel fez alguma coisa para machucar minha filha, Joana... eu não respondo por mim. — Ramiro disse em tom sério. — Por anos achei que minha filha estava morta, mas a vida me deu uma segunda chance e eu vou fazer de tudo para protege-la.
Miguel saiu com a caminhonete pelas ruas ao redor do sítio, depois foi se afastando mais e mais e quando viu estava no centro de São Paulo. Estava tão tarde, tudo estava vazio. Miguel tentou ligar no telefone dela diversas vezes, mas as chamadas caiam direto na caixa postal. Ele estava ficando agoniado. Foi até o conjugado de Berenice, mas estava tudo apagado. Onde diabos ela poderia ter ido? Um hotel?

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