Miguel sentiu seu corpo ser puxado de cima de Bernardo. Tobias o trouxe para perto, todos olharem na direção de Angélica, a mulher tinha uma expressão assustada. Pela primeira vez Miguel de fato olhou para ela, e o que viu o deixou assustado e com ainda mais raiva. Ela tinha um maldito olhou choro, pior do que aquele deixado por um cliente, estava pálida e emagrecida, sua postura era fraca.
O tiro, que agora era sua maior preocupação, não pegou nela. O homem loiro que a acompanhava entrou na frente. Quando Bernardo percebeu que o homem tinha a ajudado, deu mais dois tiros no corpo caído, apenas por raiva, pois o homem já estava nitidamente inconsciente.
Angélica fechou os olhos e levou as mãos ao rosto.
— Entra no carro! — ouviram Bernardo gritar para ela.
Ramiro tentou intervir, mas logo a arma de Bernardo estava apontada para o empresário. Tobias puxou o pai também, naquele momento não seria bom para ninguém um dos três levar um tiro, ou pior, Bernardo atirar em Angélica por raiva.
O homem era a visão de tudo que era ruim. Tinha a camisa suja do próprio sangue que saia de seu rosto, trabalho de Miguel. E muito bem feito. A boca de Bernardo sangrava, e ele cuspia o excesso no chão. O olhar tinha ódio, mas determinação também. Bernardo se aproximou devagar de Ramiro, mas o homem não recuou, se manteve firme em sua postura.
— Eu sei quem você é. — Ramiro sussurrou quando ele estava perto.
— Que bom, então não vai se importar se eu levar minha sobrinha para dar uma volta.
— Deixa Angélica fora disso, se você tem uma vingança que seja comigo. — Ramiro respondeu, o tom levemente desesperado.
— Minha vingança não é só com você, te garanto que se a vagabunda da tua mãe estivesse viva eu mataria ela também. — Bernardo disse um pouco transtornado. — Assim como matei Iolanda.
— Matou sua mãe...
— Matei a nossa mãe. — Bernardo falou nervoso. — Você saiu de dentro dela comigo, eu me recuso a não ser tão rico quanto você.
— O que deu errado... — Ramiro se questionou.
— Seu pai descobriu... graças a mim. Achei as cartas e entreguei para ele.
— Você era uma criança...— Mas eu sabia, eu via... o jeito como Iolanda te tratava, você era um rei para eles. Eu era apenas o filho de uma prima qualquer... achei que quando eu mostrasse as cartas para o grande idiota do Luís ele iria te expulsar junto com a gente... mas não... ele quis ficar com você.
— E expulsou você e sua mãe.
Ramiro viu, por alguns segundos, a dor de uma criança nos olhos de Bernardo. Viu ali um olhar traído e machucado. Bernardo foi se afastando, a arma apontada nunca falhando na direção. Caminhou de costas até entrar no carro, a arma em seu colo, seu olho ardendo seja pelos socos ou pelas lágrimas.
Bernardo levou a mão tremula até o rosto de Angélica e sorriu perturbado.
— Vamos ser muito felizes... querida.
Dizendo isso, Bernardo deu partida no carro e saiu cantando pneu. Tobias foi correndo até Lucas enquanto Miguel levava as mãos ao cabelo em sinal de nervosismo e Ramiro olhava para o carro tentando entender o que estava acontecendo ali.
— Está morto. — Tobias falou, triste.
— Temos que ir atrás deles! — Miguel exclamou.
— Temos que esperar a ambulância, não dá para largar o corpo aqui.
Não demorou muito para o resgate chegar, o segurança do prédio viu a cena toda e logo chamou socorro. Logo Ramiro viu 5 carros da polícia passando em alta velocidade, sentido para onde Bernardo foi.
Angélica deixava lágrimas silenciosas rolarem. Lucas tinha morrido por sua culpa, mais uma desgraça para sua bagagem. Bernardo dirigia sério, como se nada pudesse o parar. Ela se lembrou que Lucas ia avisar a polícia, e se iriam mesmo para o Guarujá, esperava que o carro fosse interceptado antes.
— Não queria matar Iolanda de fato... — ela ouviu a voz de Bernardo e se assustou.
O homem tinha ligado o rádio, uma música qualquer tocava. Até parecia que eles estavam fazendo uma viagem de verdade.
— Mas ela queria proteger Ramiro... queria que eu regenerasse... — Bernardo olhou para Angélica rapidamente. — Era para eu ter aquela vida.
Angélica não respondeu, não sabia se tinha condições para lidar com a instabilidade psicológica de Bernardo a essa altura do campeonato.
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Chão de Giz
ChickLitMiguel é um homem de fé e coragem, que não se abala ao sentir que sua missão era salvar uma mulher que estava à beira de arruinar sua vida. Contra seu melhor julgamento, a expectativa da família e apoio dos amigos, Miguel busca mostrar para essa mul...