Miguel voltou seu olhar para o homem mais velho que ele tinha como uma figura de pai. O olhar duro que Oxente tinha no rosto não era algo que ele estava acostumado, e até achou estranho.
— Que isso, Oxente? — Miguel perguntou.
Oxente puxou o homem para um canto para uma conversa, Miguel respirou fundo e cruzou os braços, esperando o julgamento que viria.
— Olha homem, eu vou ser sincero... porque com você eu sempre fui... — Oxente começou e Miguel apenas concordou. — Eu fiquei muito feliz quando Hugo me disse sobre o que aconteceu entre você e Fabiana.
Miguel já estava esperando, mas ainda assim ouvir essas palavras de Oxente o deixou surpreso.
— Mas meu amigo... mal a mulher saiu de tua casa e você já enfiou outra? — Oxente falou indignado. — E ainda por cima um mulher da vida?
— Oxente!
— Só pode ser, Miguel! Quando perguntamos como ela era e estava vestida, pensamos que só podia ser. E estou decepcionado, viu? — o homem mais velho disse balançando a cabeça.
— Oxente, não é nada disso que você está pensando. — Miguel começou. — Não me conhece, meu amigo?
— Justamente por te conhecer é que estou te estranhando! Uma facinha, Miguel?
— Não, Oxente! — Miguel exclamou, um pouco nervoso com a maneira como o homem se referiu a Poderosa. — Você está entendendo tudo errado.
— Então me explique.
— A Poderosa é diferente. Você não a viu, mas se a visse ia entender do que eu estou falando. — Oxente o olhou confuso e esperou o agrônomo continuar. — Eu a vi pela primeira vez e percebi que ela tinha medo do que fazia.
— Mas ainda assim faz.
— Por necessidade, Oxente! Por um acaso pensa igual Fabiana? Acha que essas mulheres vendem seus corpos por prazer?
Oxente se calou e esperou o homem continuar.
— Ela tem um medo e uma desconfiança no olhar, algo que eu nunca vi... ela faz isso mas é como se dentro dela tivesse uma inocência intocada, algo que não foi quebrado ainda. — Miguel olhou para o nada e suspirou. — Por isso a salvei ontem, um homem ia a levar e eu intervim... eu sinto que a salvei ontem de alguma forma.
Oxente pareceu tocado pelo relato do amigo, mas sua desconfiança coma vida era maior e ele não podia deixar de dar sua opinião pelo assunto. A amizade deles dava essa liberdade.
— Olha, Miguel, você é um homem que gosta de ajudar, mas pensa, tu salvou ela ontem, mas não pode salvar todo dia. — Oxente tocou seu ombro com carinho. — É a vida que ela leva.
— O alívio que eu vi nos olhos dela quando eu não a toquei ontem, Oxente...
— Entenda... ela pode ser novata nisso aí, mas pura ela com certeza não é mais, meu amigo.
Angélica estava terminando de arrumar a casa, deu comida para Caio e chamou Duplex, o vizinho que era um grande amigo das duas, para levar o garoto para o colégio. Berenice estava dormindo, descansando da noite. Duplex já era amigo de Berenice antes de Angélica chegar no conjugado, mas a ruiva já tinha entendido que a admiração do amigo pela morena ia além do que os outros homens estavam acostumados a ver. Duplex sabia exatamente o que Berenice fazia para viver, mas não se intimidava com isso e nem a julgava.
Duplex era o príncipe de Berenice, ainda que a amiga se recusasse a enxergar isso.
Depois que se despediu de Caio, viu a amiga se levantando da cama.
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Chão de Giz
Chick-LitMiguel é um homem de fé e coragem, que não se abala ao sentir que sua missão era salvar uma mulher que estava à beira de arruinar sua vida. Contra seu melhor julgamento, a expectativa da família e apoio dos amigos, Miguel busca mostrar para essa mul...