Capítulo 3

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Naquela dia, Miguel leu o livro de Oseias por inteiro, tentando entender o que Deus queria lhe dizer. Pouco fazia sentido para ele, mas se aquele livro foi o que apareceu, alguma coisa tinha. No resto do dia, Miguel não foi para o mercadão, mandou Hugo em seu lugar. Preferiu ficar em casa, arrumando umas coisas, pensando. Seu ajudante e fiel amigo, perguntou o que tinha acontecido e Miguel explicou por alto que as coisas com Fabiana tinham chegado ao fim.

Depois do almoço ele deitou na rede. O vento calmo batia contra seu rosto, o barulho das árvores conversava com ele. Seu peito estava mais leve, nem parecia que tinha saído de um relacionamento longo. Geralmente o fim de um relacionamento era sinônimo de tristeza, mas ele sentia que aquilo era um porta se abrindo para coisas maiores. Ficar preso a Fabiana não teria o levado para lugar algum.

Pensou em ligar para sua mãe para contar. Cecília nunca foi muito favorável ao relacionamento deles, talvez ela fosse ficar contente em ouvir a novidade. Mas Miguel se conteve. Se contasse a sua mãe, provavelmente ela iria ficar preocupada e resolveria vir para Mogi. Preferiu deixar passar por enquanto.

No fim da tarde, Miguel tomou um banho e colocou uma camiseta preta – marca registrada – e uma calça jeans, ficaria lendo alguns artigos sobre hidropônicos, a lasanha que tinha feito na hora do almoço serviria de jantar também se tivesse fome. Quanto mais a noite avançava, mais o foco dele saia da tela do computador. Com o passar das horas, a mente dele ia caminhando para o posto de gasolina de ontem, para aquele grupo de mulheres. Para a loira, em especial.

Algo dentro dele dizia para ele ia atrás dela, ele não entendia essa ânsia e ver essa mulher de novo. Nunca foi homem de usar mulheres, não começaria a ser agora. Imaginava que esse desespero crescente fosse pela solidão do fim de um relacionamento. Mas dentro de sua cabeça uma voz gritava para ele ir até o posto. Seu coração começou a ficar acelerado, uma sensação de perigo, de agitação.

Ele levantou do sofá contrariado, pegou a chave da caminhonete e caminhou para fora de casa, frustrado por ter essa necessidade de sair uma hora dessas. Ele acordaria cedo na manhã seguinte, poxa.

Mas uma força maior o fez entrar no carro, uma justificativa boba de que precisava encher os pneus, verificar a água e óleo. Tudo isso dez horas da noite. E foi assim que ele chegou no posto, uma cara deslavada de quem não tinha motivo nenhum para estar ali, mas ainda assim estava. E foi naquele momento que seus olhos foram até as mulheres da vida. E lá estava aquela dupla que chamou sua atenção. Estavam mais distantes hoje, será que brigaram?

Ele percebeu quando a morena o notou, logo se aproximando da loira e cochichando algo, apontando para ele. Miguel desviou o olhar para as rodas de seu carro, tímido por ter sido pego em flagrante. Mas sentia o olhar dela sobre ele, e foi inevitável não olhar de volta. Naquela hora, um carro chamou a atenção das duas. O coração de Miguel disparou, aquela sensação de perigo eminente tomando conta de seu corpo de novo. Não, a loira não podia entrar naquele carro. Aquela voz insistente em sua cabeça dizia para ele tirar ela dali antes que fosse tarde demais.

Por dentro Miguel se perguntava o que poderia fazer para isso. Pagar? Agir como todos os outros homens que as usavam? Mas ele sentia estar perdendo uma guerra. Entrou no carro rapidamente e deu partida, dirigindo até parar na frente do carro do tal cliente. Ele sabia que parecia desesperado, e estava mesmo. Ofereceu o dobro. O dobro! Ele nem ao menos sabia se tinha esse dinheiro na carteira! Será que ela aceitava transferência bancária?

Mas a sensação de alivio que tomou conta dele valeria a pena todo o dinheiro em sua conta. Sua herança, seu sítio, seu box. Tudo o deixou aliviado quando a loira caminhou até seu carro. Seu coração acalmou, sua respiração voltou ao normal e o sangue voltou a correr pelo corpo gelado. Quando ela entrou no seu carro, sorriu simpático e estendeu sua mão para cumprimentá-la.

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