Capítulo 8

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Depois da conversa com Oxente, Miguel ficou mais esperançoso sobre conseguir ajudar Poderosa. Sabia que no fundo isso se dava ao convívio que ele teve com Berenice hoje, viu que ela era uma moça boa que no final das contas só precisava de uma oportunidade. No caminho para casa, porém, ele se recusou a passar pelo posto de gasolina. Ele não queria ter que ver o lugar dela vazio, ou até mesmo ela lá, esperando. Berenice disse que ela estaria ali e provavelmente estava.

Não queria ver.

Por isso pegou um caminho alternativo que cortava a parte do posto, era uma espécie de matagal. Uma chuva chata caia na região e ele sentia que para chegar no sítio teria que acionar o 4x4 da caminhonete.

Passando por esse matagal, ele viu algo que fez seu coração parar. Era ela. Sozinha no meio da chuva, perdida, tinha uma das mãos no rosto. Ela parecia transtornada. Parecia não ter o reconhecido, pois quando o carro parou ao lado dela, a reação dela foi ir para trás, com medo.

Miguel não conseguia ver direito com a escuridão e a chuva, mas algo estava errado.

— Poderosa, sou eu! — ele falou em meio ao som de água batendo nas árvores.

— Sai de perto de mim. — ela falou, parecendo não o reconhecer.

Miguel se aproximou dela com pressa, a pegou pelos braços.

— Sou eu... Miguel... — ele falou para ela ouvir, tirando uns fios de cabelo de seu rosto, aquela mão que ela tinha no rosto não saia.

De repente ela começou a chorar desesperadamente e se agarrou no corpo dele como se só aquilo pudesse a salvar. Miguel a apertou contra ele, a chuva parecendo apertar junto. Ele sentiu o corpo dela tremer e puxou o rosto dela para perto do seu. Foi quando ele viu uma vermelhidão e inchaço se formando sem seu olho esquerdo. Miguel olhou para aquilo em desespero.

— O que fizeram com você? — ele perguntou mas ela nada respondeu, as lágrimas não cessavam.

Miguel a colocou no carro e colocou seu cinto, ela estava em choque, o choro a deixava ofegante. Ele logo entrou no carro antes que ficasse encharcado. Ligou o aquecedor como de costume sempre que estava com ela.

Miguel puxou a cabeça dela para um beijo na testa, apertou o corpo dela em conforto, tentando fazê-la entender que ela estava segura. Estava com ele.

Ele dirigiu para o sítio com rapidez. Percebeu que tanto mais próximos ficavam, mais o choro dela parava. No meio do caminho ele pegou a mão dela na sua e a beijou, deixando ela próxima de seu rosto.

A vontade dele era voltar e caçar aquele homem até o fim do mundo. Não sabia quem era, não sabia seu nome, mas se ela lhe desse uma pista de como ele era provavelmente passaria o resto da vida procurando e o faria pagar. Ele sentiu seu estômago apertar, a raiva queria tomar conta de seu ser, mas a proximidade dela o deixava calmo, o fazia pensar.

Chegaram no sítio e ele logo a guiou para dentro. A roupa dela estava molhada, então ele a levou para o banheiro e correu para seu quarto para pegar o pijama que ela tinha usado na primeira noite. Voltou e ela tinha a cabeça baixa. Miguel colocou o pijama em cima da pia e se voltou para ela, pegando seu rosto nas mãos. Seu olho ficava cada vez mais inchado e ele tinha certeza que amanheceria bem roxo pela manhã.

— Toma um banho quente, tira essa roupa que eu coloco na máquina para lavar. — ele falou com uma voz calma que conflitava totalmente com seus sentimentos ao olhar o olho dela.

Quando ela não respondeu nada, Miguel se virou para sair do banheiro. Foi quando sentiu a mão pequena na sua. Se voltou para ela, alerta. Quando ela não falou nada, ele deduziu sozinho.

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