Capítulo 12

48 8 0
                                    

Angélica se surpreendeu com aquela fala. Cecília não parecia brava nem nada, mas a ruiva tinha um medo do que poderia vir a seguir. Miguel tinha dito que falou para a mãe o que ela era, mas e se ela quisesse saber tudo que tinha feito, se no final dissesse que ela não era digna de estar naquela casa. Se esse fosse o caso, Angélica não poderia fazer nada se não concordar com a senhora.

Ela realmente não se sentia digna do cuidado de Miguel.

— Eu quero te conhecer... — Cecília continuou devagar. — Porque eu vejo algo bom em você... mas que ainda está escondido...

A ruiva a olhou surpresa. Sentiu os olhos queimarem com as lágrimas, mas não queria chorar. Não iria.

— Eu poderia dizer que entendo a vergonha que você sente ao ir nos lugares... — a senhora continuou. — Mas eu não entendo.... não entendo nada do que você passou.

Cecília esticou sua mão e puxou Poderosa para se sentar ao seu lado.

— Mas eu quero que saiba que eu estou tão... mas tão... feliz que meu filho está te ajudando, Poderosa.

Naquele momento, Angélica se permitiu chorar, se permitiu livrar do peso da vergonha que carregou o dia inteiro. Cecília não a conhecia, mas a olhava com cuidado, avaliava suas reações, avaliava seu comportamento. E desde ontem a vinha observando, pois esperava que um dia Poderosa olhasse para a trás com orgulho de ter superado tudo que poderia ter a derrubado.

— Eu não consigo entender como a senhora pode achar normal uma mulher como eu morar com seu filho. — ouviu a voz baixa da ruiva chegar aos seus ouvidos e apertou sua mão com força.

Respirou fundo antes de continuar.

— Eu vejo um senso de justiça sendo feito...

Angélica a olha sem entender, Cecília então desvia seu olhar para longe, se perdendo na sala em um ponto qualquer.

— O pai do Miguel... Alberto... era um homem horrível... — a mulher começou devagar e Angélica limpou as lágrimas, prestando atenção. — Um dia uma garota de programa apareceu na porta da minha casa dizendo que estava grávida dele. Miguel devia ter uns 5 anos na época.

A ruiva prendeu a respiração involuntariamente com o correr da história.

— Eu falei que ia a ajudar, pois eu conhecia Alberto o suficiente para saber que ele provavelmente jogou a mulher no lixo quando soube... naquele dia eu não falei com Alberto no jantar, tentava bolar um plano na minha cabeça... mas ele foi mais rápido e duas semanas depois eu descobri que a garota estava morta...

Angélica liberou o suspiro assustado, Cecília voltou seu olhar para a mulher. Tocou seu rosto devagar, passando a ponta do dedo abaixo de seu olho, onde ainda estava mais marcado do soco que ela havia levado. Cecília a olhava como se visse aquela garota de anos atrás.

— Ver o meu filho te ajudando me deixa feliz porque... é como se de alguma forma... eu pudesse me redimir de não ter ajudado aquela mulher... eu fico feliz de ver que você não vai ter um destino semelhante ao de Raquel...

A ruiva apenas olhou para Cecília e balançou a cabeça. Estava completamente chocada com a história. Então era por isso que o Miguel nem ao menos tocava no nome do pai. Se ele era tão ruim assim, com certeza a convivência com ele não tinha sido fácil para um homem tão gentil como ele.

— Eu sinto muito, dona Cecília... — ela falou, segurando na mão da senhora,

— Ceci... — ela corrigiu com um sorriso.

Cecília então levou a mão até o colo de Angélica, como se quisesse tocar em seu coração.

—Essa dor é algo que o tempo cura... — ela falou. — Mas e a sua dor? O tempo consegue curar?

Chão de GizOnde histórias criam vida. Descubra agora