Capítulo 33

33 2 0
                                    

— E então? — ela perguntou com os braços cruzados.
Bernardo parecia que ia explodir de tão vermelho, mas se sentou na cadeira de novo e respirou fundo, fechando os olhos.
— Está bem... eu aceito, mas você mora comigo.
— Não agora. — ela falou firme.
— Agora, Angélica.
— Não agora, Bernardo, mais para frente. Imagina o baque que o Ramiro vai levar ao saber desse noivado... me dê um tempo.
No final das contas, ele aceitou. Angélica concordou que falariam sobre o noivado em duas semanas, pro exigência de Bernardo, e isso seria feito no chá de bebê que Fabiana já estava planejando. A princípio ela pensou em contestar, queria ter tempo de pensar em como falaria para Berenice, para Ramiro e principalmente para Miguel. Nenhuma explicação lógica passava pela sua cabeça, ainda mais quando Miguel descobrisse que Bernardo era o homem que destruiu sua vida.
Quando saiu daquela empresa, se sentia sufocada. O ar estava abafado, nuvens de chuva começavam a se formar e cairiam a qualquer momento. Algo dentro dela tinha quebrado, o que ela tinha concordado em fazer acabaria com ela, mas ela não se destruiria sozinha, levaria Bernardo junto com ela.
Ela caminhou devagar até o táxi. Olhou e viu que tinha uma chamada perdida de Fernanda. Decidiu ignorar e ir para a mansão direto. No caminho recebeu uma mensagem de Miguel: precisamos conversar. Seu coração apertou, e ela simplesmente apagou a mensagem. Não tinham mais nada para conversar, sua decisão estava feita.
Quando chegou na mansão, esperava encontrar suas roupas em seu quarto. Fernanda tinha dito que iria até Miguel logo depois de tomar café. Nada. Logo Fernanda entrou em seu quarto de braços cruzados.
— Ele não deixou eu trazer. — ela disse simplesmente.
Angélica se virou para ela desacreditada.
— Como é?
— Ele não deixou, disse que se você quisesse suas roupas que você fosse buscar.
— Ele só pode estar de brincadeira, Fernanda. — Angélica falou séria, pegando seu celular.
— Miguel quer entender, só isso.
— Não tem nada para entender, Fernanda! Minha decisão está tomada. — ela disse de maneira rude, fazendo a loira se assustar.

— O que tem de errado com você? — Fernanda rebateu.
Angélica respirou fundo, passando a mão pelo rosto, antes de olhar para a irmã com arrependimento.
— Desculpa, você não tem culpa dos meus problemas.
Fernanda se aproximou de Angélica e a puxou pelos ombros para ficarem frente a frente.
— Não tenho, mas eu sou sua irmã e por isso enfrento eles com você.
Angélica sentiu o impacto das palavras.
— Você tem uma família agora, Angélica, não precisa passar por tudo isso sozinha. — Fernanda disse firme antes de sair do quarto.
O resto da tarde passou sem maiores caos, Miguel lhe mandou mais duas mensagens, mas Angélica ignorou as duas como fez com a primeira. No escritório de Ramiro ela se afundou no trabalho, mesmo sendo seu dia de folga. Existiam 4 mesas no grande escritório, até para trabalhar Ramiro gostava de ter os filhos juntos. Angélica leu todos os documentos que Fernanda tinha lhe dado para ler em duas semanas em uma única tarde.
Joana aparecia na porta de vez em quando, perguntando se ela precisava de alguma coisa, a resposta era sempre não. Quando deu por si, já era noite e Ramiro estava na porta do escritório.
— Joana me disse que passou o dia todo aqui dentro, tem que descansar minha filha.
Angélica tirou os olhos da tela do computador e sorriu.
— O jantar está pronto? — ela perguntou e Ramiro sorriu.
— Está sim, vamos descer.
Durante o jantar, porém, a mente dela estava em outro lugar. Apenas da visita de Tobias e Donatella para o jantar, ela não conseguia se envolver nas conversas, não conseguia se encaixar. E não fazia questão. Todas essas pessoas estavam felizes com sua presença, com a descoberta de mais uma integrante. Se eles ao menos soubessem que Angélica só estava trazendo ameaças para perto deles. Ela não deixaria Bernardo destruir uma família tão forte quanto a deles. Quanto a sua. Ramiro estava alegre, um riso fácil, se divertindo com algo que Tobias falava, Fernanda estava brincando com Donatella sobre como esses dois não cresciam nunca. Tudo era tão certo...

Angélica sentiu o celular tremer novamente no bolso da calça. Suspirou com raiva e largou o talher no prato. Ramiro se assustou com a violência.
— O que foi, Angélica?
A ruiva tirou o celular do bolso de trás e Fernanda se inclinou para ver o nome na tela.
— É Miguel. — Fernanda falou com um suspiro.
— Eu vou resolver isso. — disse a ruiva, se levantando com raiva da mesa.
— Onde ela vai? — Ramiro perguntou.
Logo Angélica desceu as escadas com pressa, os passos firmes e a bolsa na mão. Tobias entendeu que ela sairia, e logo interviu.
— Espera, aonde vai? — Tobias perguntou.
— Resolver esse assunto. — disse ela, caminhando firme até a porta.
— Em Mogi? — Ramiro exclamou se levantando da mesa. — Está tarde, volte para a mesa, Angélica.
Fernanda segurou o pai pelo braço.
— Deixa, pai, quem sabe eles não se acertam?
Tobias olhou para a irmã incrédulo.
— Uma hora dessas? — Tobias perguntou no mesmo tom do pai. — Em Mogi das Cruzes?
— Tobias! — Donatella cutucou o marido, concordando com Fernanda que talvez fosse uma boa ideia a ruiva ir atrás do agrônomo.
Angélica chegou no sítio uma hora e meia depois. Xavier estava calado, provavelmente com sono, e ela anotou em sua mente que daria um agrado para o homem depois de tirá-lo do seu momento de descanso. Eram quase dez da noite quando Xavier parou na porta do sítio. A casa estava escura, provavelmente Miguel estaria dormindo, mas agora acordaria... a se acordaria...
Ela entrou devagar, foi entrando na sala, aproximou-se da lareira apagada, mas sentiu que ela ainda estava quente. Miguel não tinha ido para a cama ainda.
— Anda, Miguel! Estou aqui, o que tanto você precisa falar comigo?
O agrônomo tinha acabado de entrar no quarto, ia pegar seu pijama para tomar um banho. Estava na esperança que Angélica o atendesse para que pudessem conversar, a carteira e a chave do carro no bolso, pronto para sair a qualquer sinal dela. Mas ela não o atendeu e ele percebeu que seria mais um dia sem se resolverem, sem ela voltar para casa.
Mas agora ela estava na sua sala, o chamando. Estava delirando?

Chão de GizOnde histórias criam vida. Descubra agora