Capítulo 32

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Angélica voltou do almoço em estado de reflexão. Fernanda perguntou o que ela tinha, mas alegou uma dor de cabeça. Sua irmã deixou de lado as perguntas, achou se tratar de saudades de Miguel. Mas dentro dela era um turbilhão de pensamentos. Apenas de Miguel fazer parte deles, não era do jeito que ela queria. E ainda tinha gente o fazendo companhia. Berenice e Ramiro.
Eram três pessoas inocentes, com os futuros em suas mãos. Ela sempre acreditou na capacidade de Bernardo em acabar com tudo a sua volta, mas dessa vez ele se superou. Destruiria a vida de Miguel, acabaria com o futuro de Caio e traria a tona o passado de Ramiro, um passado que ela nem ao menos sabia se era verdade. Mas uma coisa Bernardo tinha razão. Ele não era um mentiroso, quando falava que ia fazer algo não blefava.
Quando foi liberada por Fernanda, a loira estranhou Angélica pedindo um táxi.
— Não vai voltar para a mansão?
— Eu vou dar uma passada no shopping, pode ir indo. — Angélica respondeu com um sorriso fraco.
A verdade era que ela tinha se sentado em um banco do outro lado da rua do mercadão. Olhou para o grande edifício, pensativa. Suas duas grandes companhias trabalhavam alheios das ameaças que os rondavam. Angélica queria entrar, queria implorar por ajuda, queria sugerir de fugirem para outro país. Mas não era assim que funcionava, ela sabia. Bernardo a acharia no inferno.
Em certo momento ela viu a caminhonete saindo do estacionamento de funcionários, as caixas na caçamba vazias, os produtos vendidos. Ela não o viu, o filme das janelas do carro escuro demais. Logo se seguida, viu Duplex parar o carro longe, Berenice indo de encontro ao amado, o beijando.
Seu coração se apertava, cada vez ficava mais óbvio o que precisava fazer.
Voltou para casa já tarde da noite, enrolou tanto o taxista que o homem provavelmente fez o dinheiro das compras do mês. Passou pelo portão da mansão sem cumprimentar os seguranças. Estava cansada, seu ombro pesada, sua cabeça parecia que ia cair.
Entrou em casa e encontrou Ramiro sentado no sofá, um chá na mão e um livro na outra. Quando ele a viu, pareceu preocupado.

— Minha filha, está tarde, onde estava? — perguntou.
— Fui dar uma volta no shopping, acabei perdendo a noção da hora. — ela falou com um sorriso.
— Ficamos preocupados... e saiba que aqui eu gosto de jantar na companhia da família, viu? — ele disse com um sorriso.
Angélica riu dele.
— Tudo bem, eu prometo chegar no horário do jantar da próxima vez.
Ramiro estendeu a mão e quando ela a segurou, ele a puxou para se sentar ao lado dele.
— Eu fico tão feliz em te ter aqui, embaixo desse teto, você nem imagina...
Angélica sentiu o peito apertar. Se ele soubesse a bomba que poderia cair na cabeça dele caso ela dissesse não...
— Eu fico feliz... estou me adaptando ainda... mas acho que com o tempo eu pego esse negócio de ser filha...
Ramiro sorriu e perguntou se ela queria um chá. Logo Joana apareceu, de pijama, para levar a xícara até a cozinha.
— Joana, já deveria estar dormindo. — Ramiro falou sério.
— Enquanto todo mundo nessa casa não chega, eu não sossego. — ela falou e Angélica a olhou culpada.
— Desculpa, eu não sabia muito bem desses horários.
Ramiro passou a mão por suas costas.
— Está tudo bem, querida.
Joana se despediu dos dois logo em seguida e subiu para seu quarto. Tirando os seguranças, Joana era a única funcionária que dormia em sua casa e por isso Ramiro deixou um quarto preparado para ela no andar de cima, junto aos quartos da família. Para ele essa distinção de funcionário e familiar era ridícula, e quem vinha a sua casa sabia que deveria tratar Joana como tratava sua própria mãe.
Quando Joana sumiu de vista, Angélica se virou para Ramiro, que fechada seu livro e colocava na mesa de centro.
— Posso te perguntar uma coisa?
— Claro, filha... o que quiser...
Angélica olhou para suas mãos, nervosa.
— Como era a sua relação com seus pais? É que... eu não vejo fotos deles pela casa...
Ramiro a olhou surpreso, mas feliz que ela queria saber um pouco mais de sua família. Ele tirou o celular do bolso e abriu uma foto de uma foto bem antiga. Nela aparecia um casal com um filho, ao lado da mulher havia uma outra jovem com um menino na sua frente que parecia ter a mesma idade do menino entre o casal.

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