Capítulo 41

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Alerta! Gatilho: violência doméstica

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Angélica passou o dia no quarto. Não arriscava mandar mensagem para ninguém, não sabia em que nível era vigiada. Deixou seu celular em modo avião o tempo inteiro, procurava se distrair com alguns jogos aleatórios. Mas a distração ficava difícil quando ela sentia um peso constante em seu peito, algo que beirava o sufoco. Se levantou da cama passando a mão entre os seios, tentando aliviar aquela sensação horrível. O tempo estava nublado, a tarde já dava espaço para a noite, logo Bernardo estaria de volta para jantar.
Aquela era a segunda-feira mais estranha da sua vida, uma sensação de alerta, como se algo fosse acontecer a qualquer momento. Tentava deixar isso para lá, mas estar nessa casa ajudava muito pouco. Tinha um acordo com Bernardo, mas até que ponto ele era um homem de palavra?
— Senhora? — ouviu a voz de Lucas, um dos homens de Bernardo, em sua porta. — O patrão chegou, disse que já está pronto para jantar.
Ela olhou para a porta com ranço, odiava aquele rapaz assim como odiava a cozinheira. Eles pareciam saber exatamente porque ela estava presa aqui dentro, mas faziam pouco caso, como se fosse normal. A ruiva abriu a porta com força, assustando o homem loiro e olhos claros. Angélica olhou friamente para o homem e saiu do quarto, descendo as escadas devagar.
Betânia, a cozinheira, era a pior. Ao mesmo tempo que a olhava com pena, compactuava com Bernardo. Eles conversavam sobre o tempo, Betânia parecia estar acostumava com o olhar duro do chefe. Quando a viu, a cozinheira voltou para a cozinha de cabeça baixa.
Angélica se sentou na mesa em o cumprimentar, mas Bernardo não a repreendeu. Ele começou a comer devagar, observando que ela mal tocava na comida.
— Não está com fome, querida? — ele perguntou, a falsidade mais clara que o dia.
— Não. — ela falou simplesmente.
Aquele aperto em seu peito parecia crescer a cada barulho do relógio na sala.
— A comida do sítio era melhor? — aquela pergunta chamou sua atenção, automaticamente ela começou a girar o anel em seu dedo.
— Era. — ela respondeu, o olhando fundo nos olhos.
— Que bom que você teve tempo de apreciar antes de vir para cá.

Angélica sentiu o sangue fugir, a pressão despencando consideravelmente. Apenas o olhou firme, qualquer coisa que dissesse poderia entregar sua culpa. Bernardo levantou da cadeira devagar, caminhando até ela com as mãos no bolso. O homem se colocou em pé atrás dela, abaixando o suficiente para sussurrar em seu ouvido.
— Eu disse para não me desobedecer, não disse? — ele falou. — Mentir muito menos... onde estava na sexta-feira?
Angélica continuou com os olhos fixos na cadeira onde ele estava segundos antes. Não se daria por vencida, não com ele.
— No hotel.
A próxima coisa que sentiu foi uma pancada em sua cabeça, a desequilibrando e a fazendo cair da cadeira que estava sentada. Angélica olhou para cima assustada.
— É uma vagabunda mentirosa a minha querida noiva. — ele disse enquanto tirava o cinto.
Antes que pudesse levantar, Bernardo lhe deu um tapa tão forte no rosto que ela sentiu o mundo girar e jurou que iria desmaiar. Quando se situou, estava tendo a camisa rasgada de seu corpo, e quando achou que ele iria quebrar o acordo que tinham feito, sentiu o cinto batendo com força contra suas costas.
— Eu poderia ser um bom marido, mas você preferiu assim. — ele disse, rindo enquanto lhe dava cintadas nas costas.
Angélica não gritou, não chorou, estava em estado de choque. Sentia a fivela rasgar suas costas, mas era como se não sentisse dor. Sabia que aquilo não era a pior coisa que Bernardo poderia fazer com ela.
Foi então que um barulho de mensagem chamou a atenção de Bernardo. Ele foi até a mesa pegar seu celular enquanto Angélica ficou esticada no chão, as costas nuas cheiras de riscos vermelhos, pontos de sangue. Ele riu, se aproximou dela e a puxou pelos cabelos, fazendo o rosto vermelho das lágrimas o encarar.
— Olha isso aqui... veja o lado bom... você não foi a única a pagar.
Quando olhou o que ele mostrava, Angélica sentiu seu coração se rasgar de vez. Era uma foto da caminhonete prata capotada no fim de uma ribanceira, a próxima foto era ela em chamas.

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