No outro dia, logo após a aula eu vou para o meu trabalho de meio período. Não é muito longe de casa, então Ji Soo me acompanha boa parte do caminho.
— Não chegue muito tarde — avisa, assim que paramos em frente ao Café.
— Você também.
Ele encolhe os ombros, indiferente. Ji Soo trabalha como entregador em uma pizzaria, então sempre chega tarde. Depois pega a mochila que está no meu ombro e sai andando despreocupadamente, sem ter ideia do que o simples gesto faz com meu coração. Respiro fundo, enquanto observo ele ir. Ji Soo trabalha muito, desde novo. Ele não tem escolha, afinal é só ele e sua mãe na família e ela não ganha muito como cozinheira. Eu me sinto mal por não poder ajudar com minha fortuna, por isso insisti em trabalhar também. Eles não deixaram a princípio, mas foram obrigados a ceder, meu salário é pequeno, mas indispensável.
Entro no Café e avisto minha chefe atrás do balcão.
— Está atrasada Yoo Nah.
— Sinto muito, o ônibus atrasou.
Ela bufa e faz sinal para que eu comece logo. Corro para os fundos e passo para a pequena cozinha onde estão os aventais. Depois de cumprimentar a outra ajumma* (Senhora) que trabalha comigo, eu volto para o balcão da recepção. Não demora muito, minha chefe me entrega a caderneta de pedidos.
— Você fica como garçonete hoje.
— Sim.
Há apenas um casal sentado em uma das mesas, então me dirijo para lá. Geralmente não temos clientes nesse horário, mas quando começa a escurecer eles vão aparecendo, seja para comer algo ou apenas tomar um café. Pessoas cansadas do trabalho que querem relaxar um pouco antes de voltar para casa também sempre passam aqui, bem como amantes de leitura, visto que é um local tranquilo. E na maioria, casais em busca de privacidade para seus encontros.
Depois de servir os dois pombinhos, eu fico no balcão atendendo alguns telefonemas. O Home Coffe pode não ser muito grande, mas é bem conhecido, a ponto de termos que fazer entregas, então depois de juntar alguns pedidos, eu os levo para minha chefe, senhora Hong.— Aish são todos longe, vou ter que ir dessa vez — reclama ela, se levantando da poltrona para pegar a chave do carro. — Quando você vai aprender a dirigir Yoo Nah? — Olha para mim, suplicante.
— Não tenho condições para isso ainda sajangnim* (Chefe).
— Pois dê um jeito de ter ou vou ter que contratar um entregador! — bufa e sai pisando duro.
Não sei porque ela está tão brava, eu sempre entrego quando o endereço é neste bairro. Se não está satisfeita, por que não contrata alguém logo? Volto ao balcão para continuar meu trabalho. O tempo passa devagar e observo por uma das vitrines, as pessoas passarem de um lado para o outro apressadas, como se o tempo do lado de fora fosse bem mais curto do que aqui dentro, chega a ser engraçado.
Depois fico jogando no celular enquanto não há clientes, hoje está mais parado que o de costume. De repente escuto um estrondo na porta da frente, como se uma multidão tivesse a arrombado ou algo assim. Analiso a situação e arregalo os olhos quando não vejo uma multidão, mas sim um rapaz. Um rapaz muito estranho. Ele está todo molhado, embora não esteja chovendo. As roupas resgadas por todos os lados e o cabelo completamente bagunçado. O olhar dele encontra o meu do outro lado do local, e parece se assustar tanto quanto eu quando me vê. Sinto medo e olho para os lados há procura de alguém para me socorrer, mas em vão, a ajumma já foi embora a essa hora, estou sozinha.
Engulo em seco e esfrego uma mão na outra, tentando me acalmar. O estranho finalmente se senta em uma das mesas e não tenho coragem de olhar para saber se ele ainda me encara. Alguns minutos se passam e o silêncio fica cada vez mais constrangedor. Eu preciso fazer algo. Passo os dedos pelo meu colar até encontrar a pequena pedra negra, e a seguro forte, como se isso me desse força. Então tomo coragem, pego a caderneta e ando devagar até a mesa dele. O estranho mantém a cabeça abaixada e parece não notar quando me aproximo.
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PARADOXO
Science FictionKang Yoo Nah é uma jovem estudante da Coreia do Sul, que tem vivido com amigos da família desde que seu pai desapareceu sem deixar vestígios. O problema é que Yoo Nah não vê o filho da sua tutora como irmão, e precisa esconder isso. Mas sua vida se...