Vinte e Oito

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  Depois da situação constrangedora com Ji Soo, ando pela escola um pouco mais devagar, mil coisas passando pela cabeça ao mesmo tempo. Quando estou passando perto da biblioteca sinto um estalo na mente que me faz entrar. Se Jong Wook estivesse me esperando em algum lugar, seria esse.

  Quando alcanço aquele corredor entre as estantes, porém, fico decepcionada ao encontrá-lo vazio. Dou alguns passos por ali, passando os dedos pelos livros, como me acostumei a fazer quase todos os dias. Agora que penso nisso, essa é a última vez que poderei estar aqui, a partir de hoje não serei mais uma aluna do Sweet Korean.

  Suspiro, triste com esse fato, mas não só por isso. Queria tanto que eles estivessem mesmo aqui... Bato a cabeça na prateleira de livros, freneticamente, desejando me transformar em um livro para nunca mais precisar sair dali.

  — Hor, você ainda faz isso?

  Olho em direção a voz, a qual eu me lembro perfeitamente. Então o vejo parado no final do corredor, as mãos nas costas e um sorriso no rosto.

  — Achei que depois de um ano te encontraria mais madura — comenta, fingindo estar decepcionado.

  Ando devagar em sua direção, como se qualquer movimento brusco pudesse fazê-lo desaparecer bem diante dos meus olhos.

  — Você... está aqui? De verdade?

  Ele sorri largamente, depois mexe apenas os lábios, dizendo a frase "senti saudades" sem emitir nenhum som, exatamente como fez daquela vez.

  É o suficiente.

  Imediatamente o abraço, emocionada demais, chocada demais para dizer qualquer coisa. Ele me abraça de volta, fortemente, e quando se afasta, noto as lágrimas em seus olhos.

  — Por que demorou tanto? — choro também, em meio as palavras.

  — Me perdoa, foi um pequeno erro de cálculo. Só descobri que chegamos um ano depois do que queríamos há algumas horas. — Ele beija a minha testa e me abraça outra vez. — Fiquei apenas seis meses sem te ver, mas senti como se fosse um ano também.

  — Um ano e três meses — corrijo, fazendo-o sorrir.

  — Obrigado por ter voltado... Eu nunca deixei de esperar... Senti tantas saudades... — Choro alto, pondo para fora tudo o que reprimi durante os últimos quinze meses.

  Jong Wook escuta em silêncio, enquanto passa a mão pela minha cabeça, e espera pacientemente até eu conseguir me acalmar. Quando isso acontece, já nos encontramos os dois sentados no chão, ainda abraçados. O som da nossa respiração é a única coisa que ouvimos.

  — Você realmente... vai ficar?

  Ele afasta sua cabeça da minha para me olhar nos olhos, a expressão confusa.

  — Você tem uma vida no futuro, uma família. Eu vi as fotos — explico, tentando esconder a tristeza que a questão causa em mim.

  Jong Wook acaricia a lateral do meu rosto com a mão antes de responder.

  — Eu não tenho família Yoo Nah. Sou órfão.

  Meu queixo vai ao chão ao saber disso, mas ele dá de ombros como se não fosse grande coisa.

  — Cresci em um orfanato, as pessoas naquelas fotos trabalhavam lá. Eram pessoas boas, mas perdi o contato com eles há muito tempo — esclarece, sem nenhum pingo de ressentimento na voz — Eu nunca tive família, mas também nunca me importei. Para falar a verdade, muitas vezes me considerei sortudo por poder me dedicar a ciência sem essas distrações.

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