PARADOXO

Vinte e Dois

  Estamos no carro, a toda velocidade. Não temos um plano, mas isso não importa mais. Tudo o que importa agora é: Tirar Yoo Nah daquele lugar, antes que seja tarde. 

  Vamos todo o caminho em silêncio, até que meu sósia resolve quebrá-lo.

  — Eu a amo.

  Olho para ele, surpreso. Não por ele ama-la, isso não me surpreende, mas sim por ter resolvido admitir.

  — Eu sei — respondo e volto a encarar o trânsito.

  — Eu só queria protegê-la — continua, a voz embargada — Pensei que fazendo a extração ela... ficaria a salvo...

  — Não precisa me dar explicações Jong Wook — o corto, friamente — Sei muito bem o que pensou, porque tive o mesmo pensamento quando permiti que ela entrasse naquela maldita cápsula.

  Ele engole seco, angustiado, e o silêncio toma conta outra vez. Eu sei que a culpa está o corroendo por dentro, mas não posso fazer nada, ele tem que lhe dar com isso.

  Depois de um tempo, porém, acabo suspirando.

  — Pare de se culpar — falo, cedendo ao sentimento de pena. Aish. — Eu poderia ter evitado isso se tivesse te contado tudo antes, então também sou responsável. — Olho para ele. — Vamos nos perdoar, para poder nos concentrar no que temos que fazer agora, ok?

  Ele não fica aliviado como pensei que ficaria, mas concorda com a cabeça. Não temos mais tempo para conversar, pois em seguida chegamos na fachada do prédio da WWB. Então estaciono um pouco mais para frente, para decidirmos como iremos entrar.

  * * *

  Entro na WWB como se fosse mais um dia normal de trabalho. Eu deixei Yoo Nah em frente a empresa de forma anônima, então ninguém sabe que fui eu quem a trouxe. Enquanto pego o elevador, tento não pensar no que fiz, preciso me concentrar. Mas é impossível.

  "Eu acabei percebendo... que amo... vocês."

  Suspiro com amargura ao ouvir essas palavras na minha mente, ao mesmo tempo em que o remorso começa a me consumir de novo. Não, preciso me concentrar em tirá-la daqui!

  As portas se abrem e volto a andar, indo em direção a sala de pesquisa, onde Yoo Nah deve estar presa. Sinto meu estômago embrulhar ao imaginar qual será sua expressão ao me ver. Será que algum dia ela vai me perdoar?

  Finalmente chego em frente à sala e respiro fundo antes de entrar. Depois que entro, vou até a cela de vidro, mas não a encontro. Onde será que ela está? Checo a sala toda e o banheiro, mas nada. Vou até a sala de treino, onde faziamos as análises, mas ela não está lá também. Começo a ficar desesperado. Para onde a levaram? Será que chegamos tarde?

  Começo a suar enquanto sigo pelo corredor, em direção a sala de extração. Me controlo para não correr e parecer suspeito, mas falho na metade do caminho. Depois sou obrigado a pegar mais um elevador para chegar até lá, o que só aumenta meu desespero.

  O elevador finalmente se abre, me fazendo pular para fora. Quando vou virar a próxima esquina, porém, me deparo com Kim Dong Man, acompanhado de vários seguranças. Em seguida surgem mais seguranças atrás dele, trazendo Yoo Nah.

  — Até que enfim o encontramos, pensei que teria que pedir para um de seus assistentes iniciar o processo — diz ele, impaciente.

  Eu assinto com a cabeça, mas não sou capaz de falar. Faço uma força surreal para não olhar para Yoo Nah e acabar me entregando.

  — Vamos para a sala de extração — ordena Dong Man, recomeçando a andar.

  Os seguranças o seguem e eu fico parado enquanto o grupo que está com ela passa por mim. Nesse momento, vejo seu rosto virar em minha direção. Embora consiga vê-lo por apenas alguns segundos, na minha cabeça acontece em câmera lenta. E assim vejo, nitidamente, o olhar de mágoa e decepção que Yoo Nah direciona a mim. E eu não posso dizer nada. Já passei por muitas coisas na vida, e posso dizer com convicção que nunca senti algo tão doloroso como o que senti nesses poucos segundos. Mil facadas no peito não seriam o suficiente para representá-la.