Oito

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  Vejo Sang Hoon surgir no quarto em que estou, aquele que é separado com um vidro.

  É mais um dia de treino e análise.

  Espera, treino para quê? Análise do que? Parece que eu sei o que está acontecendo dentro do sonho, mas a minha consciência fora dele não.

  Me levanto cansada, não sei mais quanto tempo vou aguentar ficar nisso, sem enlouquecer.

  O que é "isso", exatamente?

  Estamos na esteira outra vez, e consigo gerar um pouco mais de matéria do que ontem. Mas ainda não é suficiente.

  Gerar... matéria... outra frase que não faz sentido.

  Finalmente me jogo na cadeira para descansar, enquanto Jong Wook faz as anotações.

  Jong Wook não, esse é Sang Hoon! Que sonho mais louco é esse que me faz mudar o nome das pessoas?!

  Seu cabelo negro esconde as rugas que a sua testa faz quando está concentrado. Não sei porque, mas vê-lo assim me conforta. Parece ser a única coisa interessante para fazer nesse lugar.

  Que lugar? O que está havendo?

  — Por que não me tira daqui? — pergunto, quebrando o silêncio.

  Ele levanta os olhos sérios para mim, mas não responde.

  — Você é inteligente, sei que consegue, se quiser.

  — Quem disse que eu quero?

  Eu já esperava essa resposta. Jong Wook é completamente rígido com seu trabalho e a sua frieza deixa claro que essa é a coisa mais importante para ele.

  Mas Sang Hoon não é rígido, nem frio! Quem é este que tem sua aparência, mas é completamente diferente?

  — E se eles não nos soltarem, mesmo depois que conseguirem o que querem?

  — Eles vão soltar.

  Suspiro, frustrada com a resposta tão direta. Ele não hesita nem um pouco quando acha que está certo. Tenho vontade de questionar, mas não o faço. Ao em vez disso, solto a minha vulnerabilidade em cima do meu carcereiro, desesperada pela garantia.

  — Você promete?

  Ele finalmente olha para mim, e parece entender a responsabilidade do que estou perguntando, mesmo assim responde sem hesitar outra vez.

  — Eu prometo.

  O alívio me consome de tal forma, que acabo sorrindo. Jong Wook desvia o olhar parecendo embaraçado, e volta a se concentrar. Então resolvo acreditar nele...

  Dou um pulo na cama, desesperada. Demoro alguns segundos para encontrar minha respiração, depois passo a mão pelo rosto e percebo que ele está todo suado. O que foi isso? Me encosto na cabeceira, completamente perturbada. Foi o mesmo sonho que tive quando desmaiei na escola, mas agora os cenários estavam mais vividos, os diálogos mais claros, e havia tantos detalhes que parecia real. Mas não é real, que absurdo!

  — Por que eu estaria presa em um lugar estranho como aquele? Francamente! — bufo, inconformada — Eu me superei na habilidade de imaginar coisas bizarras dormindo.

  Além disso, por que Sang Hoon estaria lá, usando outro nome e me tratando tão friamente? O rosto amistoso do meu professor aparece na minha memória, me fazendo suspirar. Ele jamais agiria daquele jeito... acho.

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