PARADOXO

Três

   Assim que entro na sala, escuto os risos abafados dos alunos. Ah o que ela fez dessa vez? Instintivamente olho para Ha Ri, mas ela conversa com sua amiga, como se fosse inocente. Vou até minha mesa e checo bem a cadeira e a mesa antes de sentar. Nada de tinta ou cola... o que deve ser? Assim que me sento os risos aumentam mais ainda. Então olho para a frente e vejo uma caricatura horrível na lousa com meu nome em baixo. Aish, tinha que ser. 

  Vou até a lousa para apagá-la, mas quando volto e me sento, escuto o barulho de algo quebrando. Me levanto imediatamente e vejo as migalhas de um ovo quebrado sujando toda a cadeira. Com certeza, boa parte dessa sujeita está na saia do meu uniforme. Os risos estouram pela sala, me deixando constrangida. Não entendo que graça há nisso, de verdade. Depois de respirar fundo, eu pego uma toalha de mão que tenho na bolsa para limpar.

  — Todos sentados — avisa a professora, entrando na sala.

  Todos se sentam, menos eu.

  — Sentados! — diz ela outra vez, agora olhando para mim.

  Dou uma breve olhada pela sala e vejo todos sérios, eles se perguntam se vou falar dessa vez. Não, não vou. Então me sento novamente, sujando a saia outra vez. Os alunos tentam segurar o riso e a professora percebe.

  — O que é tão engraçado? — pergunta, a voz dura, mas só recebe o  silêncio como resposta. — Que cheiro horrível de ovo é esse?! — continua, agora fungando o ar.

  Ninguém ousa responder, são uns covardes.

  — Sou eu sonsaengnim.* (Professor(a)) — falo, me levantando devagar. — Posso ir me limpar?

  — Que horror Yoo Nah! Que tipo de garota trás ovo cru para a escola? — exclama, perplexa — Saia já, só volte quando se livrar disso.

  Os risos soam mais alto ainda enquanto caminho para fora. Corro para o banheiro feminino e me tranco lá. A humilhação é tão grande que tenho vontade de ficar lá até o horário de ir embora. Mas infelizmente eu consigo limpar bem, e até tirar o cheiro da minha saia, então sou obrigada a voltar. Aish.

  * * *

  Nos dias seguintes não encontrei mais o stalker no trabalho. Ele parou de ir ao Home Coffe desde o dia em que pedi para que parasse de me deixar desconfortável. Embora tenha me feito passar vergonha, parece que resolveu atender meu pedido, afinal.

  Eu e Ji Soo caminhamos para a escola, quando somos abordados por três garotas do nosso ano.

  — Annyeong* (Oi) Ji Soo Oppa! — diz uma delas, sem se dar ao trabalho de me cumprimentar. — Eu gostaria de lhe entregar isso.

  Ela estende um envelope para ele. Uma carta. Olho para Ji Soo, tão ansiosa quanto as garotas pela sua reação. Ele vai aceitar? Então Ji Soo estende a carta novamente para a menina.

  — Sinto muito, mas não posso aceitar.

  Isso. Sorrio, enquanto o sorriso da garota de desfaz. Finalmente ela se lembra que eu existo e se vira para mim.

  — Então vocês são mesmo um casal? — pergunta, fazendo meu corpo todo enrijecer.

  — Claro que não, por que está dizendo isso? — pergunta Ji Soo, bravo.

  — É o que todo mundo diz! — ela quase grita, com a voz de choro.

  Ji Soo olha para mim por um instante e eu balanço a cabeça em sinal de negação. De fato, eu não fazia ideia de que diziam isso!

  — Ela é minha irmã — diz por fim, fazendo a expressão da garota tranquilizar um pouco.

  — Então por que...