Seis

132 16 6
                                    

  Enquanto atendo uma das mesas do Home Coffee, escuto a porta se abrir. Levanto os olhos e vejo Sang Hoon acenar para mim com um sorriso no rosto. Sorrio também, mas termino de atender o casal para só depois ir até ele.

   — Olá chingu* (amigo) — cumprimento — O que deseja?

  — Você.

  Arregalo os olhos, fazendo ele gargalhar.

  — Me refiro a sua companhia chingu — explica.

  — Ah é mesmo... — Me sento na cadeira e estreito os olhos para ele. — Você gosta de me fazer passar vergonha.

  — Ah, você notou?

  — Notei — respondo, lembrando da vez em que o questionei aqui mesmo e ele fez aquela cena. Balanço a cabeça rindo, então algo passa pela minha mente. — Já que agora somos amigos, poderia explicar o que houve com você aquele dia?

  — Que dia?

  — Aquele em que entrou aqui molhado, com as roupas rasgadas — explico — Acho que foi a primeira vez que nos vimos.

  — Ah, aquele dia. — Ele fica em silêncio, parecendo perdido em pensamentos. — Podemos deixar para outra hora?

  — Wuae?* (Por quê?)

  Ele suspira.

  — Não quero falar sobre isso Yoo Nah.

  Fico intrigada ao notar o quanto a questão o perturba, então resolvo não insistir. Acabamos conversando sobre outras coisas, mas não demora muito para chegar clientes, então preciso deixá-lo para ir fazer meu trabalho. Mesmo assim não paro de sorrir diante da situação inusitada. Meu primeiro amigo feito na escola é um professor, aigo!

  Quando estou quase finalizando meu expediente, minha chefe me pede para fazer uma última entrega em um bairro distante. Não me animo muito, pois terei de pegar dois ônibus para chegar lá. Mesmo assim não recuso, afinal faz parte do meu trabalho.

  Assim estou andando pela calçada, porém, Sang Hoon surge do meu lado.

  — Pensei que já tinha ido, o que você faz aqui?

  — Eu fui, mas depois estava passando e por coincidência a vi saindo.

  Algo em seu tom de voz parece sugerir que ele está mentindo. Se for o caso, onde ele estave desde que saiu do Home Coffee? Penso em perguntar, mas acabo deixando, já que como sempre ele não vai querer responder. Me sinto bem em ter sua companhia, isso basta.

  — Aonde você mora? — pergunto, quando paramos no ponto de ônibus.

  — No mesmo bairro que você.

  — Chincha? (Sério?) — fico surpresa — Eu nunca o vi por lá.

  — Faz pouco tempo. — Encolhe os ombros, indicando é normal eu não tê-lo visto.

  Quando o ônibus chega nós entramos juntos. Mas ele está tão cheio que somos obrigados a ficar de pé, não que eu me importe, já estou acostumada. Como é difícil conversar com tanto barulho, nós ficamos apenas olhando um para cara do outro, sem jeito. Quando o ônibus faz uma parada, porém, o efeito da gravidade me faz ser jogada em cima dele, mas me afasto rapidamente morrendo de vergonha. A partir de então, luto para não encará-lo, mas quando acabo o fazendo o encontro sorrindo para mim, achando graça do meu embaraço.

  Depois surgem alguns lugares e acabamos nos sentando um ao lado do outro. Ficamos em silêncio por um tempo. Parece que todo o assunto que tínhamos já foi gasto. Já que ele é meu amigo, acho que é meu dever pensar em algo não? De acordo com os dramas que assisti, amigos de verdade nunca ficam sem assunto.

PARADOXOOnde histórias criam vida. Descubra agora