Lembro-me do primeiro dia em que fui para o infantário, foi à muito tempo que idade tinha eu nessa altura? Três anos acho, mas mesmo assim tenho uma vaga memória desse dia. Estava sol era verão ainda e eu sentia-me tão feliz por ir para o infantário, sentia-me crescida. Eu e o meu pai fomos a pé, eu insisti para não irmos de carro, na minha cabeça era muito melhor e eu fosse a pé para o meu primeiro dia no infantário e sinceramente, não sei porquê que pensei isso. Não me lembro do que eu e o meu pai conversamos no caminho, não me lembro de quase nada nesse dia, exceto a enorme mistura de sentimentos que senti, quando o meu pai me deixou no infantário fiquei a velo a ir-se embora, e nessa altura, já não me senti uma menina crescida, senti-me sozinha e abandonada. Esqueci completamente que era o meu primeiro dia no infantário e todos os meus pensamentos felizes deram lugar a buracos negros de tristeza e solidão. Chorei, solucei e gritei pelo meu pai até a educadora lhe telefonar para ir-me buscar, sentia que o meu pai me tinha abandonado e não me tinha apenas deixado no infantário, todos os cenários terríveis que uma criança de três anos pode imaginar passaram-me todos pela cabeça.
Não sei porquê que lembro tão bem disso, talvez porque foi a primeira vez que realmente senti medo de alguma coisa e de certa forma, esse dia deixou-me uma cicatriz interior que jamais desaparecerá. Na verdade consigo imaginar-me a deixar os meus filhos no infantário e de eles fazerem a mesma coisa que eu fiz, não sei porquê mas acho doloroso pensar nisso.
Quando a Zoe morreu senti a mesma coisa que senti no meu primeiro dia de infantário, abandonada, triste, solitária, cheia de buracos negros de tristeza, mágoa e solidão. Na verdade também chorei, solucei e gritei por ela, mas ao contrário do meu pai que me foi buscar ao infantário, a Zoe não voltou e por mais que eu gritasse por ela, nada acontecia, ela não voltava e os buracos negros de tristeza continuavam lá à espera de alguém que os decidisse tapar.
Sentia-me tão incompreendida, nem poderia adivinhar sequer que uma simples coisa que podemos fazer no dia a dia me lembra-se dela e que me desse vontade de chorar, soluçar e gritar, como um simples rádio de um carro.
Hoje, percebi que havia alguém que podia compreender aquilo que passava na minha cabeça, alguém que não acha-se estúpido aquilo que um mero objeto pode fazer alguém sentir interiormente.
O Harry percebeu o que e senti, ele não me julgou nem disse que eu estava a ser parva. Na verdade ele não fez nada, nem sequer disse que lamentava, toda a gente diz que lamenta, mas o Harry nunca me disse isso.
O som do telemóvel a vibrar contra mesinha de cabeceira ecoa pelo meu quarto. Alevanto-me das minhas almofadas fofinhas e estico o braço e agarro no telemóvel. O nome da Claire brilha no ecrã quando vou a atender, é como se uma força qualquer não me deixa-se deslizar o dedo pelo ecrã e atender a chamada.
Neste momento toda a minha mente está concentrada numa única coisa, todos os meus pensamentos que voara durante uma hora que eu estive deitada sobre as almofadas da minha cama depois do Harry me ter deixado em casa, fizeram-me chegar a uma conclusão.
Tenho de visitar uma pessoa, uma pessoa muito importante.
Volto a pousar o telemóvel em cima da mesinha de cabeceira e salto para fora da cama, apressadamente, calço os meus converse cinzentos e abandono o quarto sem me preocupar sequer com o telemóvel, não quero que nada me interrompa depois.
"Pai, vou sair e vou levar o teu carro" grito enquanto deixo as escadas apressadamente, se eu me despachar não me vou ter tempo para me arrepender da minha decisão.
"Onde vais?"
Não lhe respondo pois assim que ouço a sua voz a porta de casa já está a ser fechada. O sol continua a iluminar o dia, fico grata por ainda não ter escurecido, carrego no botão das chaves do carro e este fica destrancado, entro e rapidamente faço a manobra e quando dou por mim já estou na estrada.
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Always | H.S |
Fanfiction"De todos os sentimentos, o amor é o que nos mais faz sofrer" -Harry Styles