11º Capitulo

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Uma semana passou, uma semana sem nada de Harry misterioso, nada de Liam choroso, nem de estranhos a pedirem-me boleia. Mas posso afirmar que fico satisfeita que nenhum desses seres ter falado comigo esta semana. Fez um mês que a Zoe morreu na segunda-feira, já dá para imaginar que esses dias têm sido um inferno para mim.

Tentei distanciar-me um pouco, não fiquei fechada em casa todo o dia, não andei a chorar por todo o lado, apenas a pensar e a sentir a dor, que o mundo exige que eu sinta. Houve um dia que até cheguei a ir assistir a uma das aulas de culinária do meu pai.

É sábado por isso o meu pai está em casa e supostamente a minha mãe também deveria estar mas foi sair com uma amiga que já não via à algum tempo. Durante esta triste semana o meu querido pai tentou animar-me a semana toda, fez piadas sem graça, okay tenho de admitir que algumas delas tinham graça, mas em fim ele não parou de tentar alegrar-me, fiquei-lhe bastante grata por isso.

"Tenho fome" Reclamei pela centésima vez neste dia.

"Já está a sair do forno." Vi o meu pai a meter-se de cócoras a enquanto tirava o seu maravilhoso bolo de chocolate do forno. Como eu adoro o seu bolo de chocolate.

"Já me podes dar uma fatia?"

"Deixa arrefecer um pouco"

Meti a mão na barriga enquanto a sentia a barriga roncar, sinto que está a haver a terceira guerra mundial dentro do meu estômago, eu só queria tomar o pequeno almoço, as dez da manha, mas claro que o meu pai tinha de dizer: "Vou fazer um bolo de chocolate para te adoçar o dia, não demora nada" . Claro que não demora nada, só estou aqui à espera à uma hora.

"Já podes-me dar uma fatia?" Alevantei-me da cadeira e caminhei até junto do meu pai onde este estava a meter o bolo num prato, cortando-o depois em vazias fatias.

"Peut manger, Madame" O meu pai deu-me uma fatia de bolo para as mãos. Não consegui controlar não revirar os olhos quando ouvi palavras francesas a saírem da boca do meu pai, ele andou assim a semana toda.

"Não fales francês, por favor" Pedi enquanto dava uma dentada no maravilhoso bolo.

"Não gostas, filha" Um beicinho engraçado cresceu na sua cara, tive de me rir, a sua cara foi hilariante.

"Não é não gostar, o problema é que eu não percebo o que tu dizes" Esclareci.

"A culpa é do Enzo" Rime mais uma vez. Enzo o novo aluno francês que está nas aulas de culinária do meu pai. O meu pai culpa-o pelo seu novo pequeno vício de usar palavras francesas.

Vi o meu telemóvel a vibrar em cima da mesa, sou rápida a agarrar nele a desbloqueia-lo e a ver quem me mandou uma mensagem. Hm, parece que o Harry não morreu durante está silenciosa semana.

"Estou há tua espera, há frente da tua casa. Despacha-te!"

Sempre muito querido, sentem a ironia? Eu sinto.

Na verdade, parte de mim, queria que ele voltasse a falar comigo, a parte curiosa, claro, mas depois tenho aquela parte irritadiça que nunca mais o queria ver, pelo simples facto dele fazer-me sentir ignorante quando estou perto de si.

Respirei fundo e alevantei-me da cadeira da cozinha, sem pressa subi as escadas até ao meu quarto e aguarei num bolsão preto, tirei as minhas confortáveis pantufas de pelo e calcei umas botas até ao tornozelo castanhas.

Assim que sai, depois de avisar o meu pai que ia sair, avistei o Ford Fucos preto do Harry que estava mesmo há frente da minha casa, caminhei até ao seu carro entrando por fim para o lado do pendura. Assim que entrei senti o olhar do Harry a queimar em cima de mim, olhei para ele, parece zangado, bastante até.

"Porquê que me estas a olhar assim?" Perguntei ao mesmo tempo que punha o cinto de segurança. Voltei a olhar para ele.

"Demoras-te muito" Sim, eu fiz de propósito, agora a tua cara de zangado já me parece mais divertida.

Encolhi os ombros. "Talvez para a próxima se me avisasses com mais ade cedência, não demorarei tanto." Ouvi o som de um grande suspiro a sair dos seus lábios.

"Talvez para a próxima, entre em tua casa e trago-te em cima do meu ombro, seria muito mais fácil" Revirei-lhe os olhos.

Rapidamente o Harry começou a conduzir, não faço ideia para onde, nem o que me espera.

"O quê que vais querer desta vez?" Perguntei curiosa.

"Explico assim que chegarmos"

"Vamos para onde?" Fiz outra questão.

"Já vês" Disse secamente. Ele está a ficar irritado, eu sei disso. 

O carro ia num completo silêncio, apenas se podia ouvir o som das nossas respirações. Harry olhava para a estrada de sobrancelhas franzidas, reparei que se forma uma pequena ruga no meio delas, a sua língua passava pelos seus lábios vezes sem conta, talvez isso seja um tique que ele tenha. As suas mãos agarravam firmemente o volante, por vezes uma das suas mãos puxava o seu cabelo castanho encaracolado para trás quando este lhe caia para os olhos. Na realidade ele até faz estes gestos bastantes vezes puxar o cabelo para trás, e passar a língua pelos lábios, será um tique nervoso, ou apenas faz por fazer?

"Estas a olhar para mim, à mais de dois minutos" A sua voz rouca acabou com o silêncio do interior do carro.

"Porquê que estas sempre a lamber os lábios e a puxar o cabelo para trás? É um tique?" Perguntei-lhe sem sequer estar preocupada de ele ter-me visto a olhar para ele mais tempo do que devia.

Os seus olhos fitaram os meus, e pode ver quase um pequeno sorriso a crescer na sua cara.

"Acho que isso é um vício que tenho desde sempre" Contou.

Estou um bocadinho chocada, esperava que ele apenas olhasse para e depois voltasse a desviar o seu olhar sem me dar uma única resposta. Mas pelos visto estava enganada, acho que é a primeira vez que o Harry decide partilhar alguma informação sobre si comigo.

"És sempre assim?" Os olhos verdes do Harry olharam para mim durante meros segundos até voltarem-se a fixar na estrada.

"Assim como?"

"Atenta aos pormenores" Esclareceu-se.

"Sim, eu gosto de olhar para as coisas com atenção"

E voltamos ao silêncio, mas nenhum de nós disse nada. Isto fez-me lembrar quando dei boleia ao Oliver, durante a viagem não houve um minuto de silêncio, e agora estou há mais de dez minutos no carro com o Harry e a nossa conversa nem dois minutos deve ter demorado.

Quando entrei no carro pensei que o Harry iria dizer-me para nunca mais o voltar a seguir, tenho a certeza que ele iria dizer que: 'se eu não soubesse ser discreta para não os seguir, não a ele', tal como me disse quando eu lhe menti. Felizmente ele nem puxou esse assunto, e com certeza que eu também não vou falar sobre isso, seria a mesma coisa de eu dar a senha da minha conta bancária a alguém, eu sairia mas perder a única diferença é que o Harry não ganharia nada.

"Chegamos"

Always | H.S |Onde histórias criam vida. Descubra agora