Capítulo 1: Nada de férias

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Detetive Gonzalez

Um suspiro escapou dos meus lábios ao olhar para a pilha de documentos em cima da minha mesa antes de desviar o olhar para o relógio em meu pulso tentando conter um sorriso de satisfação. Desde que fechei meu último caso acabei sendo empurrado para fazer trabalho administrativo, algo que fez todos me olharem com simpatia, já que como um agente especial era alocado para os casos mais interessantes e desafiantes. Mas ao contrário do que imaginavam, eu estava realmente feliz por ficar sem fazer nada.

Fazer trabalho administrativo durante meses poderia ser visto como um castigo, uma pena que se assemelhava a morte para outros agentes, mas não para mim. Estava aproveitando os dias em que consegui adormecer no trabalho sem me preocupar com os olhares do meu chefe ou com os murmúrios das demais pessoas. Passar dia após dia fazendo trabalho interno era relaxante e sem qualquer perigo. Nem sequer precisava pensar seriamente sobre algo. Tudo o que tinha que fazer era chegar no horário e dormir em minha mesa. Eu estava vivendo a vida dos meus sonhos, pelo menos, até o exato momento em que a sobrinha do governador do Texas apareceu morta no meio do nada.

Obviamente, se eu pudesse escolher, teria optado por ignorar o caso e continuar trabalhando em minha mesa, aproveitando o ar condicionado, as pausas constantes para o café e me deleitando com as fofocas, mas infelizmente estava sem sorte. Por algum motivo que nem queria compreender, o Governador Falcon tinha ouvido falar sobre o meu sucesso no ultimo caso em que participei, onde destruí uma seita que sequestrava, assassinava e vendia mulheres e crianças. Ainda que todos ignorassem a cruel verdade. Eu não tinha feito tudo sozinho, pois sem Dimitri Petrovis – o delegado viciado em adrenalina cuja família fazia parte da seita – seria impossível destruir tudo tão rapidamente.

E por mais que eu insistisse em mencioná-los todos pareciam querer ignorar, varrer para debaixo do tapete o fato de um delegado estar associado a uma organização criminosa. E provavelmente esse foi o motivo pelo qual fui enviado para o trabalho administrativo.

Ser forçado a fazer trabalho administrativo foi uma benção, um paraíso que poderia aproveitar lentamente, mas ser obrigado a estar a frente do caso Falcon fazia com que eu quisesse gritar para qualquer um que me encarasse. Internamente o assassino da sobrinha do governador estava sendo chamado de "o ceifador", mas para a mídia apenas mencionaram "caso Falcon".

― Apenas se comporte e resolva o caso — O meu chefe, Norman Xavier, falou ao me encarar furiosamente. Ele parecia não ter me perdoado pela minha identidade ter sido revelada no meu ultimo caso — A vitima é a sobrinha do governador, se comporte – Continuou insistindo parecendo esquecer que dificilmente o escutaria. Durante todos os meus anos como agente federal tinha agido de acordo com meus próprios instintos ignorando os sermões e as ordens. Honestamente Norman deveria me odiar, já que eu deveria ser o único subordinado que tinha mais reclamações registradas do que casos resolvidos.

― Farei o meu melhor – Não menti. Eu realmente iria tentar ao menos durante os dois primeiros dias. – Mas não pode enviar outra pessoa? Eu ainda não descansei o suficiente.

Norman me olhou friamente e era visível o fato dele estar se segurando para não pular em meu pescoço. Deveria enviar um e-mail ensinando técnicas de meditação?

― O Governador Falcon tem um amigo influente e ele insistiu para que você estivesse a frente do caso – Bufou ao desviar o olhar. Parecia que eu não era o único que não queria ser enviado para lá. – De qualquer forma, se comporte. Caso algo saia dos trilhos sua carreira pode acabar.

Suas palavras não me preocuparam, afinal agentes federais demitidos por insubordinação sempre eram contratados por iniciativas privadas. Receberia mais, trabalharia menos e poderia agir mais inconsequente. Não seria algo tão ruim e, além disso, sempre poderia retornar a delegacia do Petrovis e implorar por um trabalho. Ele costumava resolver todos os casos, e se eu pensar bem, nem sequer precisaria ir para o trabalho. Seria perfeito.

Dinastia - Livro 2 de ImpérioOnde histórias criam vida. Descubra agora