Capítulo 30: Clube

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Vanessa Mistres

Continuei olhando para o agente federal ainda sem acreditar em tudo que estava acontecendo. Não sei o que tinha me dado para abrir a porta e confessar coisas que nunca tinha contado a ninguém.

Nem a minha família sabia sobre o tempo em que vendia o meu corpo para ganhar o máximo de dinheiro possível. Mas mesmo que soubessem, duvidava muito que se importassem.

Apenas pessoas sem amor estava disposta a fazer tudo por dinheiro. Isso foi algo que Clarice tinha me dito uma vez quando estávamos tristes e bêbadas. E ela tinha razão.

Encarei o Agente Especial Gonzalez com um pouco de curiosidade, já que não era toda vez que fazia uma insanidade depois de tudo o que aconteceu. Permiti a entrada dele e comecei a confessar tudo com extrema facilidade.

Talvez estivesse cansada demais para continuar escondendo tudo.

O olhar dele não mudou como se não me julgasse pelas minhas escolhas ou pela situação estranha que havia me enfiado por livre e espontânea vontade.

— Então, qual o nome do clube?

Pisquei desconfortável tentando encontrar motivos para mentir ou para contar a verdade. Na verdade, não queria me envolver em toda aquela merda novamente. Me escondi no apartamento escuro para poder viver um dia de cada vez.

Viver não! Estava apenas sobrevivendo como um inseto se rastejando no esgoto.

— Não irei revelar que foi você a minha fonte.

Ele me tentou. Engoli em seco desconfortável com o seu semblante focado e a ansiedade em seus olhos.

— Isso... como isso poderia ajudar?

— Alguém do clube pode ser o culpado. Preciso investigar as pessoas com quem ela teve algum problema. Além disso, essa pessoa é suspeita de assassinar brutalmente outra pessoa.

Outra pessoa? Comecei a rir.

Rir de verdade com um tipo de risada que há muito tempo não acontecia.

— Sabia desde o inicio que o seu interesse na morte da Clarice não era por ela. Agentes especiais não tentam encontrar quem matou uma pessoa como ela ou como eu. Vocês só aparecem quando algo com pessoas ricas acontece. E eu sei que um assassino matou a sobrinha do governador e, por algum motivo, acredita que os crimes estão ligados. Aos seus olhos, Clarice e eu somos só uma peça qualquer a ser montada. Somos descartáveis, mas quando uteis somos usadas.

O detetive pareceu surpreso pelas minhas palavras, mas não tanto quanto eu. Cerrei os punhos, segurando-me para não gritar, chorar ou simplesmente fugir da minha própria casa. Desviei o olhar ao respirar fundo, controlando-me.

— Não está errada. — Ele começou sendo ao menos sincero. — Começo pedindo desculpas pela negligencia policial que a levou a tudo isso. Alguém deveria ter levado justiça a Clarice, independente do assassinato de outra pessoa. Mas eu quero encontrar a pessoa que as matou, não é pelo fato da outra vitima ser a sobrinha do governador, mas pelo assassino ter acabado com, pelo menos, duas vidas. Duas jovens que ainda tinham a vida toda pela frente.

— Sim, Clarice tinha uma vida pela frente. — Murmurei com a voz embargada de choro. Se pudesse voltar no tempo teria feito de tudo para poder salvá-la e a mim mesma. Coloquei a mão nos olhos, escondendo qualquer lagrima que estivesse prestes a sair antes de respirar fundo. Precisava manter o controle. — O nome do clube é Ritual. Mas somente pessoas convidadas podem entrar. E não importa se você é policial ou senador. Só entra com um convite.

— Como conseguiu trabalhar lá? Imagino que para trabalhar também seja necessário indicação ou algo similar.

Por um instante fiquei perdida em pensamento. Sim, para trabalhar lá precisei ser indicada assim como a Clarice. Poderia dizer que a pessoa que nos indicou era culpada por toda a nossa miséria e desgraça?

— A Clarice foi convidada por uma garota. O nome dela era Edna.

— Edna?

Ele gritou surpreso como se essa informação fosse a coisa mais importante para ele. Assenti sem muita vontade dando de ombros. Edna poderia ter sido culpada por um momento, mas, na verdade, a culpa era do assassino e do nosso próprio desespero.

— Como ela conheceu a Edna? E sabe o sobrenome?

— Não sei nenhuma resposta dessas. ­— Suspirei. — Vanessa nunca pareceu muito aberta para falar sobre a Edna. Só disse uma vez que essa Edna tinha uma família rica ou algo assim.

— Qual motivo você e a Vanessa estavam se escondendo?

— Na verdade eu era a única. Clarice acreditava que nada iria acontecer. Mas achei que algo tava errado naquela merda toda. Um clube como aquele não era normal. Tudo era assustador mesmo que tentassem parecer normal. O clube só aceitava membros com um cartão especial que tinha um logotipo estranho. Lembrava um círculo com algo no meio. Eu nunca entendi bem o que era e nem quis me aprofundar muito, sabe? Pessoas que sabem muito nunca se dão bem em lugares assim.

— A localização. Eu realmente preciso da localização.

Sorri sem vontade. Ele realmente achava que isso seria muito fácil? Um lugar feito para pessoas ricas desabafarem seus desejos nunca seria tão fácil de ser localizado.

— Esse clube se mudava a cada seis meses de lugar. Éramos avisadas por mensagem apenas quando precisavam da gente. Posso te dar o número, mas não vai adiantar. Sempre mudam.

— Tudo é muito organizado. Não parece ser algo feito por pessoas sem poder.

Ele murmurou alto o suficiente para que eu ouvisse. Só que ele estava certo.

Pessoas poderosas frequentavam o lugar tinha até visto um governador uma vez por lá. Se eu contasse isso para ele, sua expressão deveria ser muito boa.

— Não tenho como ajuda-lo em relação ao clube. Vou te dar a localização dos lugares de antes e os números que me ligaram. É a única coisa que posso fazer.

— E sobre os clientes, o que pode me falar sobre eles? Imagino que tenha visto a identidade deles.

— Sim. Eu vi. Mas e daí? Acha realmente que aquele lugar tinha clientes normais que a policia poderia alcançar? Isso é apenas um sonho. Uma ilusão acreditar em algo assim. Uma vez vi até um governador lá. Todo mundo falando sobre a moral daquele filho da puta quando ele curtia meninas que pareciam muito novas.

— Governador? Quem?

— Não sei o nome dele. Ele é um governador que apareceu na televisão um tempo desses falando da sobrinha ou filha. Não sei. Não prestei atenção.

— Filho da puta!

O policial gritou parecendo estar realmente enfurecido. Fiquei o encarando dando um passo para trás, talvez por medo ou por reflexo.

— Sabia que a família dele sabia alguma coisa.

CONTINUA...

Dinastia - Livro 2 de ImpérioOnde histórias criam vida. Descubra agora