Capítulo 9: A loucura em si

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Gonzalez

Odiava lidar com mentirosos em casos de assassinatos e odiava mais ainda, lidar com mentirosos de cidade pequena. Eles achavam que todos eram tolos ao ponto de não enxergar os sinais em neon sobre suas mentiras. Respirei fundo, controlando a raiva e sentindo saudades do cachorro louco, Dimitri Petrovis, o delegado que apreciava trabalhar duro deixando os outros policiais descansando na delegacia.

Deveria me demitir e buscar refugio em sua delegacia? Comecei a pensar seriamente nisso quando vislumbrei a expressão de horror no rosto de Edna Falcon, a irmã aparentemente azarada. Não que realmente me importasse com tudo isso.

Meu objetivo era resolver o caso mais rápido possível e retornar para o meu trabalho administrativo. Sentia saudades do ar condicionado, da cadeira confortável e da mesa perfeita para adormecer.

Mas, infelizmente, parecia estar sem sorte. Edna fazia o possível para evitar meus olhos, permanecendo em silencio mesmo tendo aumentado o meu tom de voz. Ou ela não era tão simples assim ou tinha mais medo das consequências.

— O que tornava a Elina louca?

Edna pareceu se retrair ainda mais como se estivesse se recordando de algo sombrio. Semicerrei os olhos, odiando cada vez mais esse trabalho.

— Todos a viam como alguém perfeita, mas Elina não era assim. Ela se esforçava muito, sabe? — Disse implorando por aquiescência recebendo apenas o silencio. Pouco me importava se Elina era perfeita, Deusa ou qualquer coisa assim. Só queria resolver o caso antes que tudo se tornasse ainda mais complicado. — Ela odiava quando alguém era melhor que ela. Algumas vezes sua agressividade me assustava.

— A loucura dela era sobre sua agressividade? — Edna assentiu ao abaixar a cabeça. Isso não fazia sentindo. Ninguém tinha comentado sobre essa parte da personalidade dela, apenas irmã. Uma irmã odiada em casa. — Elina já atacou alguém?

— Algumas pessoas. No colégio houve umas três pessoas, mas não lembro de terem prestado queixa. Quando ela foi estudar, soube que agrediu Flávio, o amigo dela no mês passado.

O nome de Flávio Aguilar surgia sempre ao interrogar alguém. Ele era realmente odiado ou tinha algo com o crime. Perguntei quem mais Elina tinha atacado, brigado, discutido ou qualquer coisa assim.

— Não sei exatamente o que minha irmã fazia no ultimo ano. Honestamente, ela se afastou das pessoas e vivia em seu outro celular. Elina tinha dois e não sei quando comprou o segundo e nem o numero. — Semicerrei os olhos, concentrado em sua linguagem corporal e em seus olhos. Edna parecia uma pobre menina indefesa, desesperada e amedrontada. Mas por algum motivo sentia que ela escondia algo.

Talvez estivesse traumatizado o bastante com os outros casos estranhos ao ponto de desconfiar de todos.

— Não chegou a desconfiar de algo? Afinal vocês são irmãs, quero dizer, eram, desculpe. — Falei sem qualquer traço de desculpa. Olhei para sua expressão encontrando-a inalterada. Edna não parecia sentir tristeza ao mencionar a morte de sua irmã, como se suas reações anteriores tivessem sido ensaiadas. Pelo menos, essa foi a minha impressão sobre tudo isso.

— Eu não queria atrapalhar a vida dela, sabe? Achei que se permanecesse distante, tornaria sua vida mais fácil. — Ela abaixou a cabeça novamente, levando a mão até o rosto em um estado de desolação.

Eu deveria acreditar nela, afinal todos são inocentes até que se prove o contrário, porém havia algo nela que me deixava desconfortável. E também se tornava cada vez mais difícil confiar em suas palavras quando seus olhos se tornavam esquivos. O movimento ocular indo da direita para a esquerda na parte superior e às vezes na parte inferior, apenas me fazia querer prendê-la para a interrogar.

Mas sabia que não podia. Afinal, ela era a sobrinha do governador, a irmã da vitima. Os jornais iriam cair em cima de soubessem de algo assim. Mas algo em seu breve depoimento não se encaixava.

­­— Como sabia que ela vivia em seu outro celular? Disse que não eram mais tão próximas quanto antigamente.

Não foi impressão. Por um breve segundo senti uma intensa raiva em seus olhos ao me encarar. E isso ficou um pouco mais interessante. A indefesa e amedrontada garota poderia ter tanta ódio se tornou incomum.

— Não parece que você tinha tanto contato com ela. — Persisti curioso sobre ate onde ela iria. E dentro das minhas expectativas, vi como cerrou seus punhos e abaixou a cabeça antes de ergue-la e sorrir. Um sorriso frio e indiferente, bem diferente de antes. — Parece que finalmente deseja ser sincera.

Edna curvou os lábios ao desviar os olhos.

— O modo como fala parece que sou suspeita. Mas Elina era minha irmã e nunca faria mal a ela.

— Sim, pode ser verdade. Mas já vi pais matarem os próprios filhos, então uma irmã matar a outra não é nada. Só preciso que revele a verdade e ajude na investigação.

— Claro que ajudarei. — Sua promessa eram palavras vazias. Tão vazias quanto o vento. Uma criança realmente achava que poderia me enganar? — Realmente não encontrava minha irmã, mas isso não significa que não ia encontra-lo em segredo. Sabe, realmente admirei minha irmã, apesar de seu péssimo humor e suas fantasias de grandeza. Gostava de observá-la a distancia era divertido. Elina realmente se achava especial. — Ela gargalhou com lagrimas saindo de seus olhos. — É estranho? Essa foi a única forma de vê-la, afinal Elina nunca gostou de mim.

— Talvez ela tivesse medo.

Edna parou para pensar durante alguns segundos como se realmente considerasse a questão.

— Bem, isso faz um pouco de sentido.

Não havia nada de angelical ou inocente em seus olhos. Edna parecia mais com um demônio.

— Você seguia e observava a sua irmã como um daqueles doentes?

­­ — Não sei sobre doentes, mas, sim, fazia isso como uma forma de nos manter unidas. Elina se afastou de mim depois de receber um premio importante. Trocou a fechadura como se soubesse que invadia sua casa quando não estava, parou de atender minhas ligações e me ignorou. Eu fui uma boa irmã, a observando e tomando conta dela, mas o que recebi em troca? Apenas frieza. Apesar de sua perfeição, Elina era cruel, não concorda?

Fiquei em silencio. Quem em sã consciência iria querer manter uma irmã louca por perto? Talvez nem Edna percebesse como seus olhos eram vivos ao falar de sua irmã. Seu amor fraternal era como uma obsessão.

— Se a observava com frequência deve saber com quem se encontrava.

— Infelizmente não sei. Elina me evitava e parecia saber quando a observava. Também quero saber quem a matou.

Sua fúria não parecia mentira, tornando toda aquela merda ainda pior. Já imaginava as reportagens absurdas sobre como uma irmã se tornou louca após sua irmã ser famosa. Ou algo como "As consequência de morar com uma gênia da musica: loucura".

Estalei a língua, cansado de tudo aquilo e quando me virei encontrei os olhos desinteressados do pai ela. Parecia que a loucura de sua filha era conhecida.

Uma irmã obcecada.

Um suposto amigo que brigou com a vitima.

Uma jornalista exageradamente interessada no caso.

Parecia que minha lista de suspeitos começava a aumentar. 

CONTINUA...

Dinastia - Livro 2 de ImpérioOnde histórias criam vida. Descubra agora