Capítulo 22: Segredos escondidos

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Gonzalez

Quão bem uma família poderia esconder os seus segredos podres? Não muito bem. Os Falcon eram um exemplo perfeito sobre isso, afinal bastou escutar o relato emocionante de Alisson para instigar a minha curiosidade.

E a única coisa que me fazia querer trabalhar, além do salário e os benefícios, era minha curiosidade. Vaguei despreocupado pela cidade, comprando coisas, rindo e conversando com alguns moradores, especialmente os mais velhos e os adolescentes. Ambos eram especialistas em saber sobre a vida alheia e despreocupados demais para pensar sobre o que deveria falar ou não.

Sorri para a Senhora Geofrey sentada ao meu lado, no banco de um parque da cidade. Ela tinha falado sobre a sua família nos últimos trinta minutos. Já sabia o nome de todo mundo, o que fazia e até quanto ganhavam. Fiquei surpreso no quanto ela dizia para os estranhos.

Mas em um momento oportuno, aproveite para perguntar sobre os Falcon. A sua expressão ficou diferente. Como se ponderasse se deveria me contar, eu acho.

— Bom, todos são amados por Deus. Não importa o que façam.

Quase gargalhei pela sua fala ilusória, mas finge concordar. Perguntei aparenta desinteresse excitar mais sobre eles, pois escutei alguns rumores.

— A família Falcon é como uma maldição aqui. Eles lhe dão algo, mas querem a sua alma em troca. — Franzi a testa, consciente que a cidade parecia amar palavras como maldição, demônio e coisa assim. Exageradamente religiosos? Não ia ficar surpreso se a cidade fosse um grande esquema de seitas. — Quando chegaram trouxeram trabalho. A cidade não tinha muitos jovens na época. A maioria preferia sair daqui para ter uma vida melhor, sabe? Ninguém pode culpá-los. Quem quer viver em um lugar pequeno, sem oportunidades a vida toda? Se eu pudesse, até eu sairia daqui. — Ela riu ao balançar a cabeça. — Se eu fosse vinte anos mais nova, com certeza iria com eles.

Disse algumas palavras de conforto como a idade não ser um problema e tudo mais. Quanto mais compreensivo fosse, mais ela acabaria falando.

— Desde que chegaram sempre causam confusão. A senhora Falcon, mãe da Elina e a Edna, vivia dentro de casa e quando saia o marido parecia segui-la. Nem consigo imaginar como funcionava a relação deles. Ouvi histórias sobre Edna e Elina. Muitas versões diferentes acusando as pobres meninas.

— Acha que as meninas Falcon são diferentes?

— Não. Só que elas, talvez, foram forçadas a serem assim pra sobreviver. As pessoas daqui não são fáceis ou compreensivas demais.

Ela não continuou falando, se levantou, despediu-se e seguiu em frente aparentemente mais rápido do que alguém da sua idade se sentiria confortável fazendo. Mas dei de ombros, já que isso não tinha nada a ver comigo.

Aparentemente, nada nas Falcon era normal.

Estalei a língua antes de pegar o celular e falar com o meu chefe.

Porra Gonzalez! Quando você liga é só pra me foder. Qual a porra do problema? Espero que tu não tenha fodido tudo.

Suas palavras gentis quase me fizeram chorar.

Ele realmente achava que eu só ligava para relatar problema. Ele me conhecia bem demais.

— Dessa vez não fui eu. Parece que precisa avisar ao governador que as coisas podem sair do controle. Os Falcon são problemáticos pra caralho. A Edna tem uma fixação nada saudável em sua própria irmã, a vítima Elina. Elina parecia ser uma daquelas pessoas que odiamos na escola. E isso só descobrir há pouco tempo.

Porra! Vou falar com ele. Mas mantenha tudo o mais confidencial possível. Merda. Sabia que deveria ter recusado essa merda quando ele falou. Continue e me reporte durante a semana.

Ele desligou sem continuar me xingando. Parecia que estava realmente preocupado.

Tudo o que precisava fazer era continuar a investigação o mais rápido possível, só não sabia se deveria incluir Alisson como suspeita ou testar Melissa. Ainda sinto que uma delas, ou talvez as duas, tenham alguma relação com o caso.

O interesse exagerado nunca é bom sinal.

Sabia disso desde o momento em que me envolvi na investigação da seita, invadindo a vida do delegado Petrovis. Claro que a minha curiosidade foi um ponto. Curiosidade em conhecê-lo e saber o quanto estava envolvido e, também desejava destruir algo tão doentio e extremista.

Só que começava a me perguntar se minha curiosidade não me levava para caminhos perigosos demais mesmo sendo um agente federal.

Semicerrei os olhos, suspirando ao bagunçar os meus cabelos e olhar preguiçosamente para a frente. A calmaria da praça parecia contrastar com os diversos segredos sombrios escondidos no passado de cada morador. Por mais que eu quisesse buscar alguma explicação lógica para tudo, se tornava cada vez menor a probabilidade de me enganar.

Talvez devesse começar a encarar Elina como a culpada por algo.

Não acreditava tanto que o ser humano pudesse ser destrutivo de forma tão irracional, afinal os interesses de uma pessoa iriam guiar, moldar, a sua moral.

Pensando assim, o que faria uma pessoa atacar Elina Falcon? Ela era uma pessoa sem muitos amigos, uma gênia pianista e conseguia ser a personificação de uma princesa enclausurada em sua própria torre de marfim.

Mas isso era realmente ela?

Elina fazia as pessoas sofrerem na adolescência e pessoas assim não muda drasticamente, apenas se algo serviu como um gatilho.

Elina quem era você?

— Detetive. — Fiz uma careta antes de me virar sorrindo e encarar Melissa Castro, a jornalista que tinha fodido a minha vida. — Consegui informações sobre Elina que talvez possa te interessar.

Suas palavras foram extremamente tentadoras. Mas do que estar em um mar de chocolate. Sorri o mais agradável possível nem um pouco preocupado com a moral, bom senso ou qualquer outra coisa como integridade. Precisava encerrar o caso o quanto antes para voltar ao escritório e dormir em minha mesa.

— O que quer em troca?

— Nada. — Suas palavras falsas soavam como uma cobra tentando me levar para o seu ninho. Mas e daí?

Nos encaramos durante um longo tempo, até concordar em ir com ela. Suas informações tinham um preço, mas só precisava saber o quanto estava disposto a pagar. 

CONTINUA..

Desculpa não ter postado no domingo gente.. Mas no próximo domingo estarei por aqui!

Dinastia - Livro 2 de ImpérioOnde histórias criam vida. Descubra agora