Introdução: O silêncio da morte

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Em toda a sua vida, Elina Falcon foi aclamada como um gênio sempre que suas mãos tocavam as teclas de um piano. Não importasse o lugar ou a pessoa que a escutasse acabaria derramando lagrimas seja por felicidade ou tristeza. Elina era um gênio entre os gênios, a mais respeitada aluna de uma prestigiada universidade.

A jovem que sempre manteve um sorriso apaixonado no rosto chorava histericamente sem se preocupar com a sua imagem. Suas mãos atadas já tinham deixado de doer, aproveitando o estupor causado pela interrupção do fluxo sanguíneo, continuou a implorar desconhecendo sua própria situação. Seus olhos vendados a impediam de enxergar o lugar em que foi confinada, sua própria condição e o entorno.

Em seus vinte e um anos jamais sofreu daquela forma. Apesar de suas pernas não estarem amarradas, permaneceu imóvel, incerta sobre o lugar em que estava e os possíveis perigos. O que lhe restou foi continuar chorando em silencio ao rogar a Deus para que saísse com vida.

Quanto mais se desesperava, o cheiro fétido da morte entrava pelas suas narinas. O abominável odor era similar ao do necrotério, onde uma vez entrou por erro. Ela tinha quase certeza que havia um corpo em putrefação próximo a ela. Ao pensar nessa suposição, um gosto amargo subiu pela sua garganta, mas evitou vomitar. Ela queria ter forças para tentar fugir assim que tivesse uma chance.

Tudo o que Elina ansiava era uma chance para escapar da situação em que estava. Ainda se recordava de estar saindo do teatro, acompanhada por sua amiga quando se sentiu tonta. Logo, tudo se transformou em uma mancha. Não conseguia se recordar de nada e quando acordou encontrava-se com as mãos presas, vendadas em um lugar sem qualquer som.

― Eu vou morrer aqui? – Se perguntou pela primeira vez com medo da resposta. Mordeu seu próprio lábio para conter sua ansiedade e angustia ao começar a tatear o chão, sentindo um liquido grudento e frio. O cheiro acompanhado pelo liquido a fez gritar. Ela tinha certeza de ser sangue. Desistiu de qualquer esperança ao começar a gritar, desesperada. Gritou o mais alto que conseguiu, implorando, prometendo entregar toda a sua fortuna se pudesse ser libertada, mas nada ouviu.

Não havia resposta por mais alto que gritasse ou por mais desesperada que estivesse. Era como se ela estivesse sozinha.

Aos poucos, o desespero deu lugar a negação e em seguida a barganha e, por fim, a aceitação de sua própria morte. Tudo o que ela queria era saber o motivo de estar presa. Mesmo que não soubesse por quanto tempo estava presa, a sede e a fome a fez estipular um horário estimado de vinte e quatro horas. Recordou-se das primeiras vezes em que ensaiou para tocar em uma orquestra, a dor que sentiu em seus dedos, a ansiedade por não cometer erros e a fome que sentiu depois de ensaiar por vinte horas seguidas.

Sempre direcionou todos seus esforços para a musica, o piano era sua única paixão. Nunca se apaixonou. Somente amava o piano. O piano era a sua vida e a sua alegria e por ele estava disposta a fazer tudo.

Mas se perguntassem se ela estava disposta a morrer pelo piano, a resposta seria não. Elina ainda preservava a sua vida acima de tudo, pois desejava ser reconhecida como a pianista mais ilustre antes dos seus trinta anos.

― Parece que você está desesperada – A voz desconhecida soou fazendo com que Elina estremecesse. Ainda que tentasse identificar ser um homem ou mulher não conseguiu, e imaginou ser devido a algum dispositivo que modificava a voz. O temor da jovem era falar algo que deixasse a pessoa com raiva. Ela estava disposta a tudo para sobreviver. – Depois de gritar por tantas horas, perdeu a voz?

― Não – Respondeu baixo mantendo um tom normal. A última coisa que desejava era demonstrar raiva ou medo. A resposta que recebeu foi uma gargalhada macabra da pessoa – O que deseja?

Dinastia - Livro 2 de ImpérioOnde histórias criam vida. Descubra agora