Gonzalez
Lidar com pais que estavam imersos em negação. Negando a sua própria responsabilidade sobre o comportamento dos seus filhos sempre me fazia querer soca-los. Eles gostavam de colocar a culpa na sociedade, no comportamento dos filhos, em tudo menos, em si mesmo.
Ao menos a minha mãe dizia que a culpa era do homem que contribuiu com o esperma pelo meu comportamento desenfreado, apesar de nunca ter conversado com ele de pai para filho. Como se isso fosse algo que eu quisesse.
Mas olhar para Fernando Falcon e ver a completa ausência de empatia ou culpa por ter causado isso a própria filha foi estranho. A maioria das pessoas não se importavam com as crianças que enfiavam no mundo?
Talvez esse fosse um problema a ser discutido em alguma aula sociológica ou filosófica. Mas para mim, bastava uma confissão.
— Eu não sei. Realmente não sei.
Fernando murmurou parecendo mais velho.
— Preciso do depoimento dela. Já tenho testemunhas que alegam a sua participação em aliciamento de mulheres. E tenho certeza que a sua família está envolvida, se quiser diminuir a sua pena, aconselho a cooperar com a investigação.
— Edna nunca faria isso.
O encarei, ficando cansado. Talvez prendê-lo alegando ser suspeito no desaparecimento da filha pudesse melhorar a sua cooperação. Pensei seriamente sobre isso até Alisson aparecer na sala do interrogatório. Nos encaramos por segundos até ela puxar a cadeira ao meu lado e se sentar.
— Senhor Falcon, o seu irmão não poderá salvá-lo e quando for oficialmente suspeito do desaparecimento de Edna e o assassinato de Elina ninguém ficará ao seu lado. O seu irmão será o primeiro a culpa-lo por tudo. Os jornalistas vão amar escrever muito sobre você e associá-lo ao caso da seita. — Ri com muita felicidade ao imaginar tudo. — Estou dando uma ultima chance.
Fernando Falcon, o irmão do governador não parecia ser excessivamente seguro sobre suas próprias decisões. Seu rosto pálido era apenas uma motivação maior para continuar a instiga-lo a confessar tudo.
Ele parecia o típico cara facilmente influenciado pela família. Alguém sem força de vontade ou desejo de escolha.
— Senhor Falcon, a cidade não gosta da sua família. Todos desprezam suas filhas, o comportamento de rico exagerado que vocês possuem e todas as suas atitudes narcisistas e egoístas. E farão de tudo para destruir e acusa-lo por tudo. — Alisson resolveu lançar a melhor estratégia: medo. Não demorou dois segundos para o Falcon medroso nos olhar com horror. — Podemos ajuda-lo, mas precisamos de informações uteis.
— Concordo com tudo o que ela falou. — Afirmei contente. — Agora, senhor Falcon, conte-me tudo.
Não havia um tom solidário ou amigável, afinal estava pouco me fodendo para a situação da família Falcon, e honestamente, um tanto animado ao pensar no semblante do meu chefe ao descobrir o caos que causaria assim que essa noticia vazasse para a imprensa.
As pessoas tinham direito de saber que seus impostos estavam indo para pessoas sem escrúpulos como os Falcon.
— Edna era obcecada pela Elina. Não tenho culpa por isso! — Seu grito desesperado quase me fez querer rir. — Depois que Elina foi para faculdade, ela se tornou mais distante da gente. Não sabíamos lidar com o problema, então a deixamos sozinha. Pensamos que no ano seguinte tudo ficaria bem, mas não ficou. Edna começou a passar noites fora, sem falar com quem ia e para onde. Um dia, ouvi uma ligação dela com o meu irmão, o governador, mas não entendi sobre o que falavam. Parecia estar marcando algum encontro.
— E não sequer pensou em procurar saber? Parece não gostar de suas filhas.
— Eu amo elas.
— Então porque não consigo ver isso? Desde o assassinato de Elina não vejo vocês se mobilizarem pedindo ajuda ao publico. Vocês ignoram tudo seletivamente apenas se importando, ou melhor, fingindo quando são chamados ate a delegacia. Elas não são suas filhas?
— Elas são minhas filhas! Como pode ter a coragem de falar algo assim? O fato de agirmos assim não significa que a gente não se importe.
— Sim, significa exatamente isso. Sou Agente especial há anos e nunca vi uma familiar se comportar assim antes. Isso me diz duas coisas: elas não são suas filhas ou vocês são culpados.
— Eu... Eu...
Ele ficou balbuciando por incontáveis minutos antes de erguer a cabeça com seus olhos vermelhos.
— Eu... Não foi minha culpa.
CONTINUA...
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Dinastia - Livro 2 de Império
Mystery / Thriller**** AVISOS*** A historia contém cenas desconfortáveis relacionadas a morte, tortura e feminicidio. É a história do detetive que aparece em Império, um tipo de continuação. A morte da jovem pianista, Elina Falcon, sobrinha do governador, foi o únic...