Camila
O Guilherme me quer longe dos bastidores. Assim como o treinador e o Wallace.
— Ele precisa focar sua atenção, por isso vá pro seu lugar, você está distraindo ele demais – Guilherme me diz. E embora ele seja o que considero o mais gentil dos homens da equipe, Guilherme realmente parece frustrado hoje. Talvez porque seja seu aniversário de 29 anos e ele preferisse estar em outro lugar.
— Toma! Pegue este ingresso e vá conhecer as meninas perto de você. Elas são legais e estão aqui conosco. Mais tarde teremos uma festa. – ele fala. Minutos depois, descubro que as meninas se parecem tanto com candidatas a Miss Universo, como aquele tipo de mulher que anda de biquíni em eventos como este. Mas o sorriso delas quando me aproximo do assento parece verdadeiro, e não posso deixar de notar como seus olhares observam minha curta saia preta com top brilhante de manga curta com um ar de aprovação.
— Oi, eu sou Yasmim e esta aqui é a Pri – diz a morena que estava dançando em cima da mesa de café do Shawn recentemente, e então sinaliza para a loira a seu lado.
— Oi, sou a Camila.
— Ah! Você é a garota que foi na suíte na outra noite – diz a Yasmim.
— Não fui a lugar nenhum – respondo, irritada com o fato de que elas sabiam o que eu tinha feito. Quer dizer que o Wallace tinha contado que era eu?
Que vergonha. Yasmim se inclina e cochicha em meu ouvido:
— Eu acho que o Shawn quer transar com você.
Fiquei quase sem ar e me ajeitei em meu lugar, e então a outra garota,a Pri, se inclina para mim também.
— O Shawn quer mesmo transar com você. Ele ficou tão duro quando você veio pra sala e falou com o Wallace. Eu senti isso quando estava no colo dele, foi só ele ouvir a sua
voz e pá, ficou com força total.
— Sério? Eu não precisava saber disso – grito, balançando a cabeça com um riso nervoso. Estou completamente vermelha agora, lutando com mil e uma emoções, tudo ao mesmo tempo.
— Eu até me ofereci pra cuidar disso – acrescenta a tal Pri — Mas ele me deu um “chega- pra-lá-que-estou-bem” e se mandou, dizendo que a gente podia ficar com os amigos dele. Foi pro quarto e se trancou lá dentro. O Guilherme quer se certificar de que isso não volte a acontecer hoje à noite.
Olho para o meu colo e um enorme sentimento de posse, que eu nunca soube que poderia experimentar me varre por completo.
— Por que ele tem que fazer sexo todas as noites? – pergunto, incapaz de esconder a minha indignação.
— Você está brincando? Ele é o Shawn. Ele costumava fazer isso de montão, todos os dias!
Com uma atitude de ironia, agito minha mão e me viro para olhar para o ringue vazio, realmente sem vontade de pensar o quanto “disso” Shawn costuma fazer. Mas o visual de seu belo corpo entrelaçado com o de outra pessoa deixa o aperto no estômago muito desconfortável, e se eu tivesse comido alguma coisa recentemente, correria o risco de ter que colocar para fora. Dez minutos mais tarde, ouço o nome dele sendo berrado pelos alto-falantes:
— E agoraaaaa, senhoras e senhores, digam alooouuu ao primeiro e único Shawn Mendes, o matadoooooooooooooorrrrrr!
Um fluxo de sensações sobe por meu corpo enquanto ele vem trotando, e sinto imediatamente o calor líquido na minha calcinha. Deus, como eu odeio todas as vezes que olho para ele desejando que seja meu. Quero tocar nele, conhecer esse homem. Shawn sobe no ringue com aquele roupão brilhante que contrasta completamente com sua masculinidade total, e no instante em que se despe diante da multidão, todo mundo grita. Assim como faz meu coração, quando o absorvo como se precisasse de minha dose. Seu cabelo negro está todo preso hoje, os músculos bronzeados flexionando enquanto ele estende os braços e faz a sua voltinha. E aqui estou eu, minha respiração presa entre meus pulmões e meus lábios, quando ele se vira e dá uma olhada geral na multidão. Assim que me vê, seus olhos ganham vida e ficam tão vivos quanto eu quando ele sorri para mim. Ele sustenta o meu olhar quando as covinhas se mexem, e juro que olha para mim de uma forma que me faz sentir que sou a única mulher presente. Toda vez que ele está no ringue, e está sendo o Mendes matador. E os seus olhos apenas... Me tomam. Sei que não é verdade. Sei que estou vendo só o que eu quero ver. Mas apenas por um segundo, só quero ficar sentada nesta cadeira idiota e acreditar que existe este tipo de magia entre duas pessoas e que eu posso ser a escolhida por esse homem sexy e primitivo que é tão forte, misterioso e divertido comigo. Ele me excita como nada na minha vida jamais fez. Não posso deixar de pensar que ele não teve relações sexuais com as garotas que o Guilherme e o Wallace trouxeram, e isso é tudo que penso quando o vejo detonar seu primeiro adversário, agradando não só a mim, mas também às centenas de outras mulheres com o poder e a graça de seu corpo perfeitamente treinado. Ofegante, vejo quando derrota o segundo e o terceiro, e sinto uma onda de orgulho toda vez que a palavra “vencedor” é ligada a seu nome. Ele trabalha tão duro, treina tão intensamente, e agora conheço os termos do boxe e posso ver com exatidão o que ele faz. Eu vejo seus golpes um-dois. Seus jabs. Seus ganchos. E de repente, com o braço esquerdo, ele bloqueia um soco vindo da mão direita de seu adversário. Em seguida enterra um gancho de esquerda nas costelas do oponente e segue com um cruzado de direita no queixo que derruba completamente o homem. O homem tenta se levantar, mas cai de novo, exausto e ensanguentado.
O público ruge seu nome por todo o ginásio:
— O matadoooooorrrrrrr!
Meu Deus. Ele luta como um verdadeiro campeão, e merece ser o campeão no final de tudo isso. O coração bate com violência dentro de mim, e vejo quando o mestre de cerimônias se aproxima para levantar seu braço, e espero com uma estranha mistura de ansiedade e expectativa pelo momento em que ele é declarado vencedor, pois sei que neste instante o olhar dele vai procurar o meu, como tem feito em todas as lutas desde a primeira.
— Nosso vencedor, senhoras e senhores: o matadoooorrr!
No momento em que aqueles olhos de chocolate derretido me procuram nas arquibancadas, meu coração pulsa com força em minhas têmporas, e minhas entranhas borbulham de emoção quando ele me vê. Ele olha direto nos meus olhos, e seus olhos são só meus, e seu sorriso é só meu, e por esta fração de um instante, nada mais importa além de nós. Hoje à noite sinto muita falta da Taylor. Taylor, que teria gritado para ele ao meu lado e lhe contado tudo o que eu gostaria de dizer, mas sou covarde demais para falar em voz alta. Mas em minha mente eu a ouço, e queria que ela viesse me visitar, e então eu poderia gritar do jeito que ela faz, e contar a Shawn Mendes que ele é gostoso demais e que não posso mais suportar isso.
********
Subimos no carro mais de uma hora depois, e tanto Wallace quanto Guilherme parecem estar indo em um carro separado, com a Yasmim e a Pri, enquanto um motorista do hotel leva Shawn e eu em uma caminhonete preta. Não sei quem organizou isso dessa maneira, mas me disseram para esperar no carro preto e de repente ele desliza ao meu lado no banco de trás, e meu peito fica apertado de nervoso e de emoção porque ele tinha tomado banho depois da luta e vestia um jeans preto e uma camisa de abotoar preta com as mangas arregaçadas até os cotovelos, e o cheiro do seu sabonete provoca dores instantâneas em meus pulmões. O assento é espaçoso, mas de alguma forma percebo Shawn sentado perto de mim enquanto avançamos pelo tráfego. Ele está muito perto. Posso sentir as costas da mão dele contra a minha. Talvez eu devesse tirar a mão, mas não faço isso. Ao contrário, olho para fora da janela do carro, para as luzes noturnas espalhadas pela cidade a caminho da boate, mas na verdade vejo sem enxergar. Meu corpo está focado na parte onde nossos corpos se tocam. Por que ele está me tocando? Acho que me observa, medindo minha reação, ao mexer seu polegar e passá-lo por cima do meu. Quero tremer, fechar os olhos. Absorvê-lo. Não consigo esquecer o que as garotas me contaram, e aquela pequena vela de esperança que as duas acenderam para mim agora está ardendo feito uma tocha. Preciso saber. Se ele me quer mesmo. Será que é verdade? Ele parece tão incrivelmente bonito que minhas entranhas vibram com renovada intensidade.
— Você gostou da luta? – pergunta Shawn, em voz baixa e áspera enquanto estuda meu perfil nas sombras do carro, seus olhos brilhando intensamente. Ele sempre me faz essa pergunta depois de um evento no Underground. Como se a
minha opinião fosse importante.
— Não, não gostei – respondo e olho para ele, então sorrio quando ele franze a testa. — Você foi incrível! Adorei!
Ele ri, um som delicioso e masculino, então me assusta quando pega a minha mão em sua mão quente e a levanta. Minha respiração congela quando ele roça lentamente os lábios sobre meus dedos, e consigo sentir a maciez de sua boca carnuda até a deliciosa cicatriz em seu lábio inferior, que agora está quase completamente curado. Um pequeno zumbido percorre a minha corrente sanguínea enquanto seus olhos me prendem por todo o tempo que ele me roça. A maneira como olha através daqueles cílios pesados faz meus mamilos pulsarem.
— Bom. – Seu sopro é quente e úmido contra a minha pele, e quando ele abaixa a minha mão de volta para o banco do carro e lentamente desembaraça seus dedos dos meus, tenho que trazê-la de volta para o meu colo e segurá-la junto de minha outra mão, só porque de repente se formou um vazio para ela. O clube que eles escolheram esta noite está bombando e com filas enormes de pessoas querendo entrar, mas no segundo em que Shawn sai do carro, ele me transporta até o segurança, que imediatamente nos permite entrar onde o Gui e o Wallace já esperam por nós, em uma sala privada na parte de trás.
— O Gui tá recebendo um lap dance – diz Wallace ao Shawn — Você não se importa de lhe dar uma dessas como presente de aniversário?
Através da porta aberta, vemos uma mulher em um biquíni prateado brilhante se aproximando do Gui, que está sentado em um sofá, sorrindo ao vê-la chegar. Fico tão desconfortável com isso que acho que encolhi, porque de repente Wallace olha para mim, as sobrancelhas atirando-se para cima.
— Você fica envergonhada com essas coisas, Camila? – pergunta ele, divertido. Meu coração para quando percebo que Shawn também está olhando para mim. Ele observa atentamente nos meus olhos, então seu olhar desce para a minha boca, e volta para os olhos. Sua mão de repente envolve a minha e ele sussurra:
— Você quer assistir?
Balanço a cabeça dizendo que não, e ele me leva para o bar e a pista de dança. Há uma quantidade absurda de ruído e toda a pista de dança pulsa com a música e o calor ardente dos corpos dançantes.
— Aiih! Eu amo essa música! – grito, ao detectar a Yasmim pulando no meio da pista, e ela me avista e chega para me puxar para o meio.
— Shawn! – Pri o esmaga no meio da multidão, ao mesmo tempo que Yasmim grita e me puxa firmemente junto ao seu corpo, agarrando meus quadris e começando a se agitar num movimento sexy. Eu rio e me viro com meus braços no ar, com “Scream”, de Usher, enchendo o espaço com música. E então vejo Shawn a apenas alguns passos de distância, elevando-se entre a multidão. Ele não está dançando. Na verdade, ele nem sequer está em movimento. Ele está me observando, o seu sorriso no lugar, os olhos brilhando, e num repente ele me agarra e me bate contra o seu corpo, abaixando-se no nível do meu pescoço. Ele afasta o meu cabelo para o lado e pressiona seu corpo em minha coluna, me respirando tão forte que posso sentir sua profunda inspiração. Meu estômago se aperta em resposta, e sinto sua boca na minha nuca. Ele roça minha pele com os dentes e, em seguida, é sua língua que vem me lamber. Meu corpo se eletrifica. Ele me atinge por trás e eu pego sua cabeça e a seguro para baixo, enquanto sigo o movimento de seus quadris, as pessoas dançando em torno de nós, o calor aumentando no ambiente. As mãos dele pegam os meus quadris, apertando-os ao mesmo passo que ele me puxa com mais força contra a frente de seu corpo, e minhas nádegas sentem o quanto ele está duro. Ele quer que eu sinta o quanto ele me deseja. Sua língua sobe do pescoço e chega atrás de minha orelha. Um arrepio me percorre quando ele espalma a mão na minha barriga e me vira para encará-lo. Nossos olhos se encontram. Em espera. A música pulsa dentro de mim, o desejo por ele se torcendo em meu estômago, então envolvo meus braços em torno dele e empurro meu corpo, inclinando minha cabeça contra a dele. Preciso conhecer seu gosto. Preciso ter a sensação dele. Ele não dormiu com essas putas. Sua ereção naquele dia tinha sido minha. Ele não olhou para uma mulher sequer a noite inteira. Nem na luta, e nem aqui. Ele não tem olhos para ninguém a não ser para mim. E eu não tenho olhos para ninguém, para nada, a não ser para esse homem lindo de fazer cair o queixo que está diante de mim, que toca músicas para mim e que corre comigo e que põe gelo no meu machucado. Olhos castanhos vidrados com a luxúria, os cílios escuros pesados me encarando nos olhos, na boca, então ele agarra o meu rosto, orelha a orelha, e me respira novamente, os olhos fechados enquanto fuça meu rosto com seu nariz.
— Você sabe o que está pedindo? – ele pergunta em meio a uma respiração áspera e rouca. — Sabe, Camila?
Não posso responder, e ele agarra minha bunda e me puxa para ele, colocando sua boca quase, quase, na minha. Ele está me deixando louca. Maluca. Quero ter esse homem. Quero me permitir ter esse homem. Deslizo meus dedos pelo peito dele, pelos cabelos, tão sedosos sob meus dedos.
— Sim, sei. – Meu coração bate em meus ouvidos quando me ergo na ponta dos pés, puxando a cabeça dele para baixo, quando alguém esbarra em mim por trás. Tropeço para frente. Shay me pega com um braço e me leva protetoramente para seu lado.
— Ora, ora, se não é o Mendes e sua nova putinha.
Minha cabeça gira e percebo quem me empurrou, e me toco que não foi um empurrão por acaso. Quatro homens se reúnem em torno de nós, e todos eles são enormes. Um tem uma tatuagem nojenta de um lobo preto na face direita, e ele é ainda maior do que os outros. Shawn olha para eles como se fossem tão significativos quanto um bando de moscas, e então coloca o braço em volta de mim e me leva para fora da pista de dança.
— Qual é o nome da sua namorada? Qual nome ela grita quando você fode ela, hã?
Shawn está mudo quando me leva para o bar, mas seus dedos estão fechados com raiva em um punho na parte de trás de meu top enquanto ele me empurra para frente. Os homens marcham atrás de nós, mas Shawn continua a ignorá-los. Ele me vira de costas e bloqueia a minha visão deles com a parede do peito.
— Volte para o Wallace e peça que ele a leve pro hotel – diz Shawn em voz baixa. Campainhas de alarme soam dentro da minha cabeça quando percebo que isso é mera provocação para colocar Shawn em apuros. Estive com a equipe tempo suficiente para saber que uma briga fora do ringue pode colocar o Shawn na cadeia e fora da competição.
— Você não pode entrar em uma briga, Shawn – eu o advirto, quando de repente o mais robusto dos quatro homens fala, erguendo a voz o suficiente para ser ouvido perfeitamente por cima da música.
— Estamos falando com você, seu merda.
— Eu ouvi, idiota, e não dou a mínima pro que você tem a dizer – responde Shawn. O amigo do grandão tenta dar um soco, mas Shawn se abaixa rapidamente e o empurra para trás com força, o sujeito tropeça e cai. De repente, percebo a tática. Os amigos do cara de lobo vão bater em Shawn e ele não vai ter escolha senão responder, esmurrar todos eles e ser expulso da liga e, possivelmente, atirado na cadeia, ao passo que o cara de Lobo não terá feito “nada”. E se esse é o cara que Shawn precisa bater na final, então vai gostar de ver seu oponente ser retirado do jogo. Mas que babaca! Shawn está ficando com muita raiva ao meu lado, agarrando um dos sujeitos pela camisa e falando devagar, enfurecido:
— Suma daqui ou vou cortar suas bolas e dar pra sua mãe comer!
Ele empurra o sujeito e depois pega os outros dois e os empurra do mesmo jeito, um com cada braço, ao mesmo tempo. Ele parece tão irritado que estou ficando mesmo bem preocupada. As veias aparecem nas mãos, braços, pescoço, e quando o terceiro homem se aproxima por trás, o cotovelo de Shawn voa atrás do corpo e pousa perfeitamente no rosto do pobre homem.
— Desculpe, cara, foi mal – ele se desculpa, e o homem xinga baixinho e cobre o nariz sangrando. Enquanto isso, vejo o cara com a tatuagem de lobo olhando com um sorriso.
— Ah, não, você não vai fazer isso!
A resposta estilo fugir-ou-lutar está no meu corpo por completo, agora. Meu cérebro vibra quando o sangue dispara quente e urgente através de meu organismo. Já o sinto alimentando os meus músculos, meu coração bombeando loucamente. Corro para o bar, avanço por cima do balcão, pego duas garrafas e volto para lançá-las na cabeça de dois dos imbecis. Eles desabam no chão ao mesmo tempo que os cacos de vidro se espalham. Vou pegar outra garrafa e voltar correndo, indo para acertar o terceiro cara, quando noto como o Shawn olha para mim com um olhar de horror e um rosto que está progressivamente ficando vermelho. Ele pega a garrafa da minha mão, bate-a de volta no bar e em seguida me joga em suas costas como um saco de batata, avançando em meio à multidão para procurar o Gui.
— Shawn– reclamo, batendo nas costas dele com os punhos enquanto me contorço. Meus hormônios disparam quando percebo que uma de suas mãos está na minha bunda. Ouço quando ele sussurra alguma coisa para o Gui e, finalmente, o sangue volta na direção correta quando ele me empurra para dentro do carro. A adrenalina bomba em mim. Nunca estive em uma luta. É uma sensação incrível. Incrível. O nosso motorista do hotel desliza para trás do volante e voa pela cidade, e noto que Shawn está respirando forte e depressa no banco de trás. Como eu. Nossos olhares se encontram nas sombras do carro, e seus olhos estão estranhamente escuros, seu rosto gravado com fúria incandescente.
— Que diabos você acha que estava fazendo? – ele explode. Suas mãos estão fechadas em punhos sobre suas coxas, e por um momento penso que ele vai esmurrar a parte de trás do banco do carro. O olhar que ele tem é estranhamente cru e esquisito. Quase animal. Tipo... possessivo. E isso causa uma emoção um pouco estranha vibrando dentro de mim. Eu estava pronta para beijá-lo. Minhas mãos estão apertadas no meu colo enquanto tento mantê-las paradas. Mas, Deus, estou tão tensa, nem consigo pensar com o desejo que sinto ao olhar para
ele. Sem pensar, e partida por dentro por causa do desejo doloroso de querer estar com ele. Seus dedos estão inquietos e só quero pegar sua mão e colocá-la ao redor de meus seios e implorar para que ele me toque.
— Estava salvando você e achei isso incrível! – respondo, e um novo fluxo de adrenalina me percorre com essa lembrança. Shawn parece emocionalmente muito abalado enquanto esfrega o rosto e apoia os cotovelos sobre os joelhos, inclinando-se para frente, esfregando a parte de trás de sua cabeça com as mãos que, agora noto, estão tremendo ferozmente. Ele também não respira direito.
— Pelo amor de Deus, porra, nunca, mas nunca mais faça isso de novo. JAMAIS. Se um deles colocar a mão em você, eu mato todos eles, e não vou dar um caralho se alguém estiver vendo!
Um tremor de excitação me atinge enquanto ele se recosta no banco e me olha com um desejo que é alucinante. Ele pega meu pulso e aperta tão forte, eu suspiro e ele olha para baixo e me libera.
— Falei sério. Nunca mais faça essa porra de novo.
— Claro que eu vou fazer isso de novo. Eu não vou deixar você ficar em apuros.
— Jesus, você é assim mesmo? – Ele estava mais agitado do que tudo que eu já tinha visto dele, esfrega o rosto e olha desolado para fora da janela, com o corpo tremendo de raiva. — Você é uma banana de dinamite, sabia disso?
Dou de ombros e concordo com a cabeça, sentindo-me tão excitada quanto ele. Quando subimos de elevador, estamos sozinhos, mas ele fica de pé do lado oposto ao meu. Está irritado. Excitado. Seus olhos olhando para tudo, exceto para mim. Ele estala os dedos e, em seguida, seu pescoço.
— Está tudo bem – digo, tocando suavemente em seu ombro, e ele endurece como se tivesse sido eletrocutado, olhando para a minha mão em seu ombro. Eu volto para meu canto, e ficamos nos olhando nos olhos. O ar entre nós quase troveja. Ele parece querer saltar sobre mim e se afastar, tudo de uma vez. Shawn flexiona as mãos ao lado do corpo e suaviza a voz ao descermos o corredor para nossos quartos, mas ela ainda parece saturada e rouca de emoção.
— Eu sinto muito que você teve que ver esses idiotas – murmura. É fácil de ver que Shawn está tentando se acalmar ao passar a mão pelo cabelo bagunçado.
— Vou quebrar todos os ossos do Lobão quando o encontrar e arrancar os malditos olhos dele.
Concordo com a cabeça para satisfazê-lo, porque acho que ele está mesmo sedento para usar de violência contra aqueles homens. Mas estou tão alerta que não sei o que farei sozinha em meu quarto. Não sei onde colocar as mãos, meus pensamentos, todo esse fluxo dentro de mim dando voltas e voltas e indo a lugar nenhum.
— Posso ficar em seu quarto até os caras voltarem? – peço. Ele hesita, depois o vejo assentir e eu o sigo até a porta. Nós nos acomodamos no sofá da sala de estar e ele liga a tevê no primeiro canal que aparece.
— Quer beber alguma coisa?
— Não – respondo. — Eu nunca bebo um dia antes de voar ou eu fico muito desidratada.
Ele concorda e traz duas garrafas de água do bar. E senta-se bem ao meu lado. Sua coxa acaba muito perto, consigo sentir seu músculo. Meu coração ainda bate feito louco. Eu me lembro do jeito que dançamos, e minha pele fica quente novamente.
— Por que você ficou em apuros quando era profissional? – pergunto.
— Por causa de uma briga como essa que você impediu.
Ele olha para a tevê, o queixo trabalhando, e eu olho impotente para o jogo de luz e sombra no rosto dele, hipnotizada. Ele estende o braço direito no sofá atrás de mim com uma calma enganadora, mas posso sentir a tensão que emana de seu corpo, e de repente sinto o meu coração acelerar em antecipação. Barulhos estranhos da tv filtram-se em minha mente, e então percebo que o casal está se beijando na tela. Meu estômago aperta. Nunca vi esse filme antes, mas quando a música de fundo se inflama, sei que uma cena de sexo escaldante virá pela frente. Um flash de tormento passa por seu olhar enquanto ele pega o controle remoto e desliga o aparelho, então joga o controle de lado e desce a mão na minha nuca. Ele curva seus dedos suavemente ao redor da parte de trás do meu pescoço, quentes e incrivelmente fortes, quatro dedos indo para um lado, o polegar para o outro, e então circunda o polegar com delicadeza sobre minha pele, virando-se para mim. Esse toque me desperta de tal forma que me faz sentir como se estivesse bêbada, e fico incrivelmente trêmula.
— Por que você faria isso por mim? – sua voz é insuportavelmente íntima quando ele olha para mim nas sombras.
— Porque sim.
Nós dois estamos nos olhando tão intensamente quanto jamais fizemos, e estou absolutamente consciente de cada ponto de contato de nossos corpos. Sua coxa contra a minha. Sua mão na minha nuca, apertando de forma suave.
— Por quê? Alguém lhe disse que não posso cuidar de mim mesmo?
— Não. – digo.
Ele olha meus lábios, depois meus olhos, e então fecha os olhos lentamente e apoia sua testa na minha, e tudo que posso fazer é respirar Shawn como se fosse uma drogada, minhas entranhas intoxicadas apenas com uma inalação. Nunca na minha vida tinha sentido um cheiro tão bom quanto o dele. Ele depois do banho. Ele suado. Apenas ele. Sua respiração atinge meus ouvidos, e eu me vejo tocando sua boca com um dedo solitário. Seus lábios são cheios e firmes, e ao mesmo tempo sedosos e suaves. Sinto um rápido toque de umidade enquanto sua língua aparece para me lamber, e um estremecimento desce pela minha coluna. Ele geme e puxa todo o meu dedo em sua boca e fecha os olhos quando o suga.
— Shawn... – sussurro.
— Querida, cheguei!
Nós nos separamos ao som de uma porta batendo e da voz sarcástica do Gui.
— Só queria ter certeza de que vocês dois tinham chegado bem. O Lobão parece querermuito ver seu rabo de volta na cadeia.
As luzes se acendem e Shawn deixa cair meu dedo como se fosse uma arma carregada, levanta-se e vai até a janela, e de forma audível está respirando depressa. Tanto quanto eu. Fico instantaneamente de pé.
— É melhor eu ir.
Guilherme assiste à cena com um rosto impassível, e não diz nada enquanto corro pela sala para sair.
— Vou esperar por você aqui, Shawn – diz o Gui calmamente.
Shawn não responde, mas me segue até meu quarto. Sinto seu corpo quente em minhas costas enquanto deslizo a chave na ranhura da porta. Eu o ouço respirar atrás de mim, ainda um pouco irregular, contra o meu cabelo. Eu o desejo, mas agora consigo ver pela porta entreaberta a primeira das camas, e o pé de Diane está lá. Meus mamilos são dois pontos duros empurrando contra o meu sutiã, minha calcinha encharcada de todas as noites querendo-o desesperadamente. Eu o desejo tanto que sinto um nó de necessidade e frustração em minha garganta, porque não posso tê-lo. Como as coisas vão mudar se não fizermos nada? Isso não pode dar certo. Não pode. Eu sou empregada dele e isso é apenas temporário, e uma transa com esse homem não é mais uma opção. Ou é? Eu gosto dele. Oh, Deus. Eu gosto dele. Muito. Demais.
— Boa noite – sussurro, forçando-me a olhar para o seu rosto bonito. A violenta ternura em seus olhos se infiltra em todos os poros do meu corpo, e ele me pega e dá um beijo em meus lábios, rápido e seco, mas isso vai explodir uma riqueza de desejo dentro de mim, como aconteceu na primeira noite em que ele me beijou no Rio, e Shawn fala baixinho:
— Você está linda. – Depois, corre o polegar com desespero ao longo do meu maxilar, e inclina meu queixo para cima, beijando meus lábios, seca e rapidamente de novo. – Tão bonita que eu não conseguia tirar os olhos de você a noite toda.
E então ele se vai, e estou uma vez mais em meu quarto, ouvindo esse homem dizer que sou linda, que sou muito linda, e tremo como se estivesse nua e sozinha no meio de um furacão. Me cubro com todos os cobertores da cama e coloco meu punho contra os lábios como se isso pudesse bloquear o beijo que ele deu neles, e, uma eternidade depois, eu me odeio porque ainda estou acordada e ainda tremendo. Não sei o que vou fazer, porque quero torná-lo meu mais do que jamais desejei qualquer coisa. Até mesmo mais do que as Olimpíadas.* LAP DANCE: dança no colo é uma dança erótica, comum em clubes de striptease, onde a(o) dançarina(o) move-se sensualmente com ou sem roupa chegando a sentar no colo do cliente