Camila
No hospital, ele está em um quarto particular. Ao longo da primeira semana, me sento em uma cadeira e fico olhando para o seu belo rosto com o tubo que o ajuda a respirar, e choro de raiva e frustração e impotência. Às vezes coloco seus fones de ouvido em sua bela cabeça e toco cada música das que trocamos entre nós, esperando para ver se os olhos se contraem ou se há alguma indicação de pensamento por lá. Outras vezes, ando no corredor apenas para acordar minhas pernas e braços que caíram no sono. Não vi o Gui até agora, e ninguém me diz onde ele está. Hoje o Wallace está na sala de espera, onde estou agora, olhando para meu saco de amendoins. Eu não sabia o que pegar que pudesse ser moderadamente saudável, e já terminei todas as granolas. Acho que perdi um pouco de peso, pois os meus jeans estão soltos dos quadris, mas meu estômago está tão fechado como um punho e nas poucas vezes em que parece relaxar o suficiente para me deixar comer alguma coisa, minha garganta é a responsável por não deixar passar.
— Ele está acordado. – diz Wallace.
Piscando, fico de pé imediatamente. Lanço o saco de amendoins na cadeira vazia ao meu lado, e em seguida corro pelo corredor só para parar e olhar para a porta de seu quarto. Com medo de vê-lo. Medo do que eu vou dizer. Tenho pensado muito nestes dias. Isso é tudo o que fiz, na verdade. Mas quando entro, minha mente se esvazia de todos os pensamentos. Uma profunda angústia me oprime quando caminho para a cama. Pensei que estivesse ficando dormente, mas percebo que não. Ando lentamente para frente e foco os meus olhos no único local onde o meu mundo parece girar. E eu o vejo. Seus olhos estão abertos. Não me importo de que cor eles são. Ele ainda é o Shawn Mendes, o homem que eu amo. Ele vai ficar bem, e eu não. Não acho que um dia eu vá ficar bem. As lágrimas explodem, e de repente, todos os meus pensamentos vêm correndo de volta para mim. Tenho tantas coisas para dizer, e fico no meio do quarto e falo tudo em meio a soluços. Minhas palavras são ditas com raiva, mas não são compreensíveis através dos meus soluços:
— Como v-você se atreve a me f-fazer assistir à-quilo...? C-como pôde ficar lá e me fazer a-assistir àquele h-homem destruir vo-você! Seus ossos! Sua cara! V-você era... meu! M-meu... Pra... Segurar... C-como se a-atreve a se quebrar?! C-como se a-atreve a me quebrar?!
Seus olhos ficam vermelhos também, e sei que eu deveria parar, porque ele não pode sequer responder, mas esta represa abriu e eu não posso parar com isso, simplesmente não consigo. Ele me fez assistir e agora tenho que fazê-lo me ouvir, o que sua estúpida
merda fudida me fez!
— T-tudo o que eu queria era ajudar minha irmã e não lhe c-causar p-problemas. Eu q-queria também proteger, cuidar de você, e-estar com você. Eu queria f-ficar com você até que enjoasse de mim e não precisasse mais de mim. Eu queria que você me amasse porque eu... Eu... Oh, Deus, mas você... Eu... Eu não posso mais. É difícil vê-lo lutar, mas vê-lo se suicidar é... Eu não vou fazer isso, Shawn!
Ele faz um som de dor na cama e tenta mudar de posição, mesmo com um braço engessado, e seus olhos estão queimando vermelhos e me cortando de dor. Não suporto o jeito que ele está olhando para mim. A maneira como seus olhos se prendem dentro de mim. Destruindo-me. Lágrimas quentes continuam escorrendo pelo meu rosto enquanto cedo ao impulso imprudente de ir até ele. Toco a mão livre e dobro a cabeça para seu peito enquanto beijo freneticamente os dedos, consciente de que estou deixando-os molhados com as minhas lágrimas, mas não posso parar porque é a última vez que vou beijar essa mão e isso dói. Ele geme quando desajeitadamente coloca a mão de seu braço engessado na parte de trás da minha cabeça e acaricia meu cabelo. Sua garganta está entubada, mas quando enxugo minhas lágrimas e olho para ele, seus olhos estão gritando coisas para mim que não posso suportar ouvir. Estou agindo como a covarde que a Taylor diz que sou, e ele pega a minha mão e não vai me deixar ir. Não quero que ele faça isso. Puxo minha mão com força e dou um beijo em sua testa, um beijo que espero que ele vá sentir no fundo de sua alma, porque é de onde está vindo. Ele faz um som áspero e começa a puxar o tubo em sua garganta, e a máquina faz um ruído quando ele começa a ter sucesso em arrancar fora todas as coisas ligadas a ele.
— Shawn, não, não! – imploro, e quando seus esforços apenas se intensificam e ele rosna com raiva, abro a porta e grito por uma enfermeira. — Enfermeira! Por favor!
Uma enfermeira entra no quarto, e dói quando ela injeta uma espécie de tranquilizante nele, e é como se não existisse nada mais para eu sentir exceto essa massa de dor que
me consome. Não posso acreditar que vou fazer isso com ele, que sou tão covarde, tão inútil, como todos os outros. Mas quando a enfermeira o arruma na cama e ajusta seu respirador, olho para ele da porta, sua aparência mais calma agora quando olha para mim, e sorrio, um sorriso que é falso e que treme horrivelmente no meu rosto, e vou embora. É terrível saber que ele vai acordar novamente com seus belos olhos de chocolate e não se lembrar do que eu disse, nem de onde estou, nem do que aconteceu comigo. Mas eu simplesmente não posso ficar. Encontro o Wallace na lanchonete e mostro um envelope que eu tinha comprado de uma das enfermeiras há vários dias.
— Estou indo, Wallace. Meu contrato acabou há vários dias. Apenas... Diga adeus a o Gui e, por favor... – eu entrego o envelope com o nome do Shawn, vendo como chacoalha violentamente no ar. — Entregue isso a ele quando seus olhos estiverem claros de novo.