Capítulo 14

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Camila


O Shawn está treinando hoje da forma como o treinador acha que ele deveria ter lutado ontem. Já nocauteou dois de seus companheiros de treino e o treinador está irritado mais uma
vez.
— Esses são seus companheiros de treino, Mendes! Se você tivesse parado de nocautear os caras e se divertisse e trabalhasse os seus movimentos, você ainda teria alguém com quem treinar hoje. Mas, agora, não há mais ninguém.
— Então pare de me arrumar esses viadinhos, treinador – cospe Shawn. – Mande o Wallace aqui pra cima.
— Nem mesmo se ele fosse suicida. Eu preciso dele amanhã, e consciente.
— Ei,eu posso ajudar – digo ao Wallace, de onde assistíamos, em um canto do lado de fora do ringue.
A cabeça do Wallace se vira para mim, e de repente ele parece impressionado.
— Você acaba de se oferecer pra subir lá com esse cara?
— Claro que sim. Eu posso mostrar a ele alguns movimentos que ele nunca viu – acabo de me gabar, mas francamente, só quero a oportunidade de chutar a bunda do Shawn, por ser esse idiota mulherengo que me faz fantasiar dia e noite. E por lamber o pacote de energético depois que eu lambi. Imbecil paquerador.
— Tudo bem, Shawn, eu tenho uma coisa pra você – chama Wallace, batendo palmas para chamar sua atenção. – E tenho certeza de que ele não vai nocautear este ajudante, treinador – chama Lupe no outro canto, e sinaliza pra mim, rindo. Shawn me vê, e joga o protetor de cabeça no chão enquanto subo ao ringue, em meu agasalho preto apertado. Seus olhos me examinam, como sempre faz. Ele é um homem, e não deixa de me checar cada vez que eu ando na direção dele. Mas quando me aproximo, seu brilho nos olhos é de diversão, e lentamente o sorriso aparece, o que só aumenta minha irritação. Ele está mal-humorado hoje, é o que posso dizer... E seus companheiros de treino nocauteados também... Mas meu próprio mau humor deve bater com o dele. Nem mesmo o café melhorou as coisas, nesta manhã, e sei que isso aqui vai me fazer bem. Mesmo que eu perca, só quero mesmo brigar com alguém.
— Não fique rindo assim. Posso derrubá-lo com os pés – aviso.
— Isso aqui não é kick boxing. Ou você vai morder também? – ele diz. Levanto minha perna no ar precisamente num movimento de kick boxing, que ele desvia muito levemente, e ergue uma sobrancelha. Tento mais um, que ele desvia, e então percebo que ele está de pé no centro do ringue, enquanto eu estou basicamente circulando-o. Sei que não posso ter uma chance se me basear na força, mas meu plano é deixá-lo tonto e, em seguida, tentar derrubar pra ele baixar um pouco a bola. Wallace chama aquilo que estou fazendo de “esquivas”. O que é apenas ficar girando e girando em torno de seu oponente até que ele erre. Então giro um pouco e me esquivo, e ele está claramente entretido comigo, quando tento um soco de teste. Ele o pega facilmente com seu punho e então abaixa meu braço.
— Não – ele repreende suavemente, e enrola a mão ao redor da minha para mostrar como fechar os dedos de forma correta. – Quando você dá um soco, precisa alinhar seus dois ossos do braço, rádio e ulna, par a par com seu pulso. O pulso não pode estar frouxo, por isso mantenha perfeitamente reto. Agora comece com o braço dobrado em seu rosto, aperte os dedos, e quando der o soco, gire o braço de forma que o rádio, a ulna e o pulso pareçam uma única peça de osso quando bater. Experimente.
Eu tento, e ele aprova.
—Agora, use o outro braço pra se proteger.
Mantenho um braço dobrado para cobrir o meu rosto, e depois ataco novamente, e novamente, percebendo que ele está apenas se cobrindo, mas não contra-atacando. Já a adrenalina corre inebriante no meu corpo, e eu não sei se é a luta simulada, ou aqueles olhos de chocolate tão fixos em mim, mas me sinto, de repente, eletricamente carregada.
— Mostre um movimento que eu não sei – digo sem fôlego, gostando disso mais do que eu esperava. Ele estende a mão para os meus braços e dobra-os para proteger meu rosto com meus punhos.
— Tudo bem, vamos fazer um movimento um-dois. Sempre cubra o rosto com as mãos, e seu tronco com os braços, mesmo quando está atacando. Solte primeiro à esquerda – ele puxa meu braço em direção ao seu maxilar –, então você muda o equilíbrio em suas pernas pra que possa seguir com um soco potente com a mão direita. Você precisa de um bom trabalho de pés aqui. Obtenha a força do soco aqui embaixo – ele empurra um dedo no meu abdômen, arrastando a mão depois para o braço e para o meu punho – e envie essa força toda para os dedos. Ele faz um golpe duplo simulado que é fluido e perfeito e que faz com que pequenas gotas de suor apareçam ao longo do meu decote, e então eu tento. Bato à esquerda, me abaixo, mudando de posição, e bato mais forte com a direita. Seus olhos faíscam, deliciados.
— Tente de novo. Me Bata em um ponto diferente no seu segundo soco. – Ele fica na posição, com as mãos abertas para pegar meus golpes. Seguindo as ordens, uso o primeiro braço para desferir um soco rápido para a mão esquerda, e ele facilmente pega meu golpe, então solto um soco do outro lado com a minha direita. Meus golpes são gostosamente exatos, mas acho que preciso colocar mais força.
— Soco duplo no seu lado esquerdo – fala Shawn, e move sua mão para pegar meus golpes.
— À sua direita – ele diz, e no meu primeiro soco, acerto a mão aberta com o punho, puuuf! Então, decido surpreendê-lo e faço meu soco mais forte chegar ao seu abdômen, que se contrai automaticamente quando bato e envia uma dor surpreendente pelos meus dedos. Mas até mesmo Shawn está surpreso de eu ter conseguido acertar esse.
— Sou boa demais – ameaço quando me afasto, saltando sobre minhas panturrilhas como ele faz e, brincando, ponho minha língua para fora. Ele nem percebe isso, porque está olhando para os meus peitos pulando.
— Boa mesmo – diz ele, voltando na posição. Seus olhos escureceram de uma maneira que faz com que minhas entranhas cozinhem com o calor, e decido que este momento em que ele está distraído com meus filhinhos é melhor do que qualquer um. Começo a gingar como aprendi na autodefesa. As pernas são a parte mais forte do corpo de uma mulher e, certamente, no de uma ex-velocista. Meu objetivo é atingir o tendão de Aquiles dele com o peito do meu pé, e derrubar tanto seu corpo quanto seu ego no chão. Mas ele se move no instante em que dou o golpe, e acerto seu no seu tenis. A dor sobe por meu tornozelo. Ele rapidamente me pega pelo braço e me endireita, as sobrancelhas se erguendo franzidas.
— O que foi isso?
Gemo.
— Você deveria cair. - digo. Ele só olha para mim, com o rosto sem expressão por um momento.
— Você está brincando comigo, né?
— Eu já derrubei homens muito mais pesados do que você!
— Uma porra de uma árvore cai mais fácil do que Shawn, Camila – grita Wallace.
— Bem, isso eu já percebi – resmungo, e grito para ele: — Obrigada pelo aviso,Wallace. Xingando baixinho, Shawn segura meu braço e me leva, saltando, até o canto, onde cai em uma cadeira e, como só há uma, me puxa para cima dele, para que possa ver o meu tornozelo.
— Você fodeu seu tornozelo, não foi? – pergunta, e é a primeira vez que eu realmente o ouço parecer tão... irritado comigo.
— Parece apenas que mandei de um jeito errado todo o meu peso ao meu tornozelo – admito contrariada.
— Por que você me bateu? Está com raiva de mim?
Faço uma careta.
— E por que estaria?
Os olhos dele me observam de forma atenta, e ele parece assustadoramente sério e definitivamente irritado.
— Me diga você.- ele fala. Abaixando a cabeça, me recuso a vomitar tudo que sinto para outra pessoa que não seja a Taylor.
— Ei, dá pra conseguir um pouco de água aqui? – ele grita, com uma nota aguda de frustração em suas palavras. Wallace traz um Gatorade e uma água sem gás e coloca as duas garrafas no chão, aos meus pés.— Estamos finalizando – ele nos diz, e então, parecendo preocupado, me pergunta: — Você está bem, Camila?
— Ótima. E me chame amanhã, por favor. Não vejo a hora de voltar ao ringue com este cara.
Wallace dá uma risada, mas Shawn apenas o olha de modo rápido. Seu peito está encharcado de suor e a cabeça escura está abaixada ao inspecionar meu tornozelo, os polegares pressionando ao redor do osso.
— Isso dói, Camila?
Acho que ele está preocupado. A gentileza repentina que ele fala comigo faz minha garganta doer, e não sei por quê. Acho que é como quando você cai e não se machuca,
mas chora porque se sente
humilhado. Mas eu já caí de um jeito muito pior na frente do mundo, e desejei não ter chorado naquela época, tão ferozmente como desejo não desabar na frente do homem mais forte do mundo. Franzindo a testa em vez disso, me abaixo para tentar inspecionar meu tornozelo, mas ele não move sua mão e, de repente, vários de nossos dedos cercam meu tornozelo, e tudo que posso sentir são os seus polegares na minha pele.
— Você pesa uma tonelada – reclamo, como se fosse culpa dele o fato de eu ser uma idiota.
— Se você pesasse um pouco menos, eu teria derrubado você. Eu até derrubei meu instrutor. – continuo dizendo, Ele olha para cima, franzindo o cenho.
— O que posso dizer?
— Que sente muito? Pra consolar o meu orgulho ferido?
Ele balança a cabeça, claramente ainda irritado, e eu sorrio, com ironia, me abaixando para pegar o Gatorade e desapertando a tampa. Os olhos dele caem sobre meus lábios enquanto tomo um gole, e posso sentir, de repente, algo inconfundível quando estou sentada em seu colo, logo abaixo de minha bunda. O líquido gelado correndo na minha garganta me faz perceber que todo o resto do meu corpo está quente, e ficando ainda mais quente.
— Posso pegar um pouco? – Sua voz está estranhamente rouca ao sinalizar para a minha bebida. Quando concordo, ele pega a garrafa em uma mão e a inclina à boca, e meus hormônios descarregam tudo de uma vez com a visão de seus lábios pressionando contra o aro da
garrafa. Bem no local onde tinham estado os meus. Sua garganta se move ao engolir, então ele abaixa a garrafa, os lábios agora úmidos e,
quando entrega o Gatorade de volta para mim, nossos dedos se encostam. Um relâmpago corre para cima em minhas veias. E fico hipnotizada pela forma como as pupilas dele escureceram, e pela maneira como fica olhando em meus olhos, sem diversão na sua expressão. Quando automaticamente tento disfarçar meu nervosismo tomando outro gole, ele me olha com mais atenção, os lábios sem sorrir. Lindamente rosados. O corte no seu lábio ainda sarando. Aquele que desejo lamber. Uma fita de profundo desejo se cresce dentro de mim. Isso dói. Estou sentada em seu colo, e percebo um braço poderoso em torno da minha cintura, e nunca estive tão perto. Perto o suficiente para tocá-lo, beijá-lo, enrolar todo o meu corpo ao redor do dele. De repente, sinto que estou morrendo e voando eu quero ele, eu quero ele tanto. É preocupante , muito preocupante, Nunca me senti assim. Sei que isso é loucura, que nunca vai acontecer, que nunca poderá acontecer, mas não posso evitar. Ele é como as Olimpíadas para mim, algo que nunca vou ter, mas que desejo com todo o meu ser. E detesto por completo a ideia de que seus braços estiveram envolvendo uma, talvez duas mulheres, há menos de 24 horas, quando eu quis que estivesse comigo. Novamente agitada com essa lembrança, tento ficar de pé, com cuidado. Ele pega meu Gatorade e o coloca de lado, depois pega duas toalhas de uma cesta e envolve uma delas no pescoço. Em seguida, enrola a outra no meu pescoço, me segurando pela cintura o tempo todo.
— Vou ajudar você, assim poderá pôr gelo nisso aí.
Ele me desce do ringue como se eu não pesasse mais do que uma nuvem, e então tenho que me apoiar nele, meu braço em volta de sua cintura estreita à medida que caminhamos para fora.
— Está tudo bem – eu continuo dizendo.
— Pare de discutir – diz ele. No elevador, ele me mantém perto dele e sua cabeça se abaixa para mim, fazendo com que eu possa sentir sua respiração perto do meu rosto. Estou dolorosamente consciente do quanto ele é grande, em relação a mim, e dos seus cinco dedos abertos em volta da minha cintura, e do exato momento em que ele muda o nariz de posição e o deixa na parte de trás da minha orelha. Faz cócegas quando ele expira, e ele está tão perto que seus lábios iriam esfregar a parte de trás de minha orelha se falasse alguma coisa. Repentinamente ouço sua profunda inspiração, e os meus órgãos sexuais pulsam com tanta força que eu viraria e enterraria meu nariz em sua pele e sugaria todo o ar que pudesse em meus pulmões. Mas é claro que não faço isso. Ele me leva ao meu quarto, e meu corpo está em um estado tal que meu cérebro não pode sequer encontrar um tema de conversa para nos livrar do silêncio tenso que nos acompanha.
— Ei, cara, pronto pra luta? – um funcionário do hotel, que parece ser um fã, pergunta do outro lado do corredor. Shawn ergue o polegar para cima e dá um sorriso de covinhas antes de se virar para
mim, pressionando o queixo em meus cabelos, bem na parte de trás da minha orelha.
— A chave – diz ele, em um sussurro gutural que provoca arrepios, a pegando e me levando para dentro. Diana não está aqui, muito provavelmente ela está fazendo o jantar superluxo dele agora. Ele me coloca na beira da segunda cama de casal, que deve ter concluído ser a minha, porque Diana tem uma foto de seus dois filhos virada para a primeira cama, e então ele pega o balde de gelo.
— Vou pegar gelo.
— Está tudo bem, Shawn, farei isso mais tarde...
A porta se fecha antes que eu possa terminar, então solto a respiração e me inclino para apalpar meu tornozelo e avaliar os danos que causei. Ele deixa a porta destravada para que não tenha que bater, e fico tensa quando ele volta e a fecha. Abre a torneira do banheiro e então está de volta, parecendo enorme e imponente dentro do meu quarto de hotel quando coloca o balde no tapete.Ajoelha-se aos meus pés, e a visão de seu corpo forte e de sua cabeça de cabelos negros inclinando-se para cuidar de mim me provoca um fluxo de desejo tão forte que olho para o balde de gelo e quero mergulhar a cabeça lá dentro. Shawn tira fora meu tênis e a meia e então segura minha perna suavemente pela panturrilha, enquanto enfia meu pé no gelo.
– Quando estiver melhor, vou mostrar como me derrubar – ele fala baixinho. Quando não consigo responder e me sinto completamente hipnotizada pelo seu toque, ele olha para cima e seus olhos estão suaves e íntimos.
— Muito frio? - ele pergunta. Apesar do resto de meu corpo estar qualquer coisa, menos frio, meus dedos começam a esfriar à medida que a água gelada os recobre.
— S-sim.
Shawn afunda mais o pé, e todo meu corpo enrijece por causa da água gelada, e ele faz uma pausa no meio do caminho para baixo.
— Mais água?
Balanço a cabeça e forço o pé a descer o resto do caminho, pensando: Sem sacrifícios, não há ganhos. Meus pulmões param subitamente conforme meu corpo absorve o frio.
— Ai, merda.
Shawn percebe a minha careta e puxa meu pé para fora, então me esfrega, achatando os meus pés gelados contra o seu estômago para me aquecer. Seu abdômen se contrai debaixo dos meus pés, e seus olhos se prendem nos meus de uma forma tão intensa que me vejo afogar. Surtos de tensão me atravessam. Sua mão enorme e calejada e quente está curvada ao redor do peito do meu pé, mantendo-o no estômago tão firmemente que parece que ele queria que ficasse mesmo lá. Queria que minhas mãos fossem meus pés, sentindo a barriga de tanquinho sob meus dedos. Cada dobra se pressiona perfeitamente contra o arco do meu pé e meus dedos, a dormência desaparecendo por completo.
— Não sabia que você fazia pedicure, Shawn – digo, e não consigo entender por que pareço soar tão sem fôlego.
— É um fetiche meu.
Ele me dá um sorriso preguiçoso que me diz claramente que é brincadeira, então enfia a mão no balde e pega um único cubo de gelo. Coloca-o de leve sobre meu tornozelo e desliza-o sobre a pele, observando com cuidado o que faz. Minha reação é rápida e violenta, a consciência completa e total dele tomando todo o meu corpo. Meu coração de repente ruge na minha cabeça. Deus, este homem sabe usar as mãos. E como se para confirmar meus pensamentos, a mão que segurava meu pé no estômago
muda um pouco, e ele esfrega o dedão ao no do arco do meu pé, enquanto o cubo de gelo continua sendo esfregado na minha pele. Um formigueiro começa a se agitar no centro do meu estômago, e tenho medo de que em questão de minutos vá se apoderar de todo o meu corpo. Minha voz treme, como todo o resto.
— Você faz manicure também?
Ele olha para mim de novo, e meu coração dispara pelo efeito que os olhos marrons me provocam.
— Deixe-me cuidar de seu pé primeiro, depois eu cuido do resto de você.
Meu estômago aperta quando ele termina a frase com outro sorriso. Todos os músculos de meu sexo começam a ondular enquanto o cubo de gelo continua a atiçar o fogo que está crescendo suavemente dentro de mim. Estou hipnotizada enquanto ele observa o gelo sobre a minha pele branca e cremosa, o silêncio carregado de eletricidade. Impotente, arrasto os pés um pouco mais para seu estômago, sentindo o relevo de seu abdômen debaixo de mim. Ele olha para cima, e a intensidade penetrante em seus olhos me suga até que me vejo sem fôlego e me afogando.
— Sente-se melhor? – murmura Shawn, erguendo as sobrancelhas escuras, e não consigo acreditar como a voz dele me afeta, como o seu toque me afeta, seu cheiro, como outro ser humano pode ter esse poder sobre mim. Não posso permitir.
Eu.
Não posso.
Permitir.
Lembro que, quando você deseja um homem, é você quem está no controle do que vai dar a ele. No controle sobre o que vai deixá-lo tomar. Mas não consigo bloquear as imagens de mim e dele juntos. De me ver arrancando as roupas dele e de vê-lo me esmagando contra o corpo dele. Imagens de seus lábios nos meus, de nós dois caindo de forma imprudente na cama juntos, dele pulsando através de mim. Ele me faz sentir com dezoito anos. Virgem e devassa. Penso nos garotos... Só que ele me faz pensar em apenas um. E é muito masculino. Muito homem. Mas um pouco brincalhão, como um menino. Um menino grande e mau, que se divertiu com suas putinhas em sua mesa de café ontem à noite...
Essa súbita e brutal lembrança me esfria como um mergulho nas águas geladas do Alasca.
— Está perfeito agora, obrigada – digo, com a voz gelada como o gelo derretido ao passo que tento livrar meu pé de seu aperto. Estou quase livrando o pé quando a porta se abre e Diane entra:
— Aí está você. Deve ir comer agora para que você possa se recarregar pra amanhã!
Olhando para mim como se estivesse confuso com a minha mudança, Shawn franze a testa um pouco quando joga o cubo de gelo no balde e se levanta, colocando meu pé de volta no tapete.
— Desculpe-me por seu tornozelo – diz enquanto se endireita, a expressão confusa. — Não se preocupe se não conseguir ir até a luta.
— Não. Não foi culpa sua. Eu vou ficar bem – respondo depressa.
— Vou pedir ao Guilherme que arranje uma muleta pra você.
— Eu vou ficar bem. É um bom castigo pra mim por mexer com as árvores. – digo. Ele para na entrada, em seguida olha para mim na beira da cama, com o rosto ilegível.
– Boa sorte, Shawn – digo.
Ele me olha, depois para Diana, então passa a mão pelo cabelo e vai embora, parecendo de alguma forma... agitado. Diane me encara com perplexidade completa.
— Cheguei na hora errada?
— Não – nego com a cabeça. — Você veio na hora exata, antes que eu bancasse a idiota de novo.
Não que a tentativa de derrubar um homem como ele tivesse sido um movimento muito inteligente, para começo de conversa.

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