Capítulo 35

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Camila


Trinta e seis horas mais tarde, tinha deixado a Nina com meus pais, que continuavam a lhe perguntar sobre os crocodilos. A pobre da Nina vai ter que pagar por todas as suas mentiras, agora que está sendo questionada sobre a cultura indiana e a Torre Eiffel e outras coisas mais. A Taylor me ajudou a embalar as minhas coisas e ficou um pouco chorosa quando se despediu de mim no táxi, mas eu dizia a ela:
— Não é para sempre! É temporário, sua molenga! E vou chamá-la sempre!
Minha voz estava confiante, mas, sinceramente, nem sei como minha reunião ou entrevista ou que nome tenha vai ser esta noite. Só sei que estou indo para o Shawn, e meu corpo já se sente como um campo de batalha de desejo, medo, saudade, amor, necessidade e arrependimento. Não tenho certeza sobre qual Shawn vou encontrar esta noite. Tudo o que sei é que Shawn Mendes não é um homem com quem se planeje relacionamentos de longo prazo. Ele é um ímã para as mulheres, e tem um lado sombrio que não é controlado com facilidade. Ele é a minha fera. Minha luz e escuridão. Meu. Simplesmente não há outra opção para mim, exceto ficar com ele.
— Estamos muito felizes de ver você! Eu te abraçaria se não ficasse com medo de ficar sem meu pescoço mais tarde! – diz o Wallace quando me vê na porta, e está sorrindo tanto que seus olhos tristes de surfista estão brilhando de alegria.
— Ei, pensei que estivessem pobres. Pobres não reservam suítes presidenciais – digo ao entrar e deixar minhas malas na porta.
— Pobres pelos padrões anteriores do Shawn – diz o Gui ao carregar minhas malas para um dos quartos.
— Ele gasta alguns milhões por ano, então, naturalmente, tem que continuar produzindo muito, mas ele vendeu a casa de Austin, e estamos trabalhando para conseguir alguns patrocínios.
Concordo com a cabeça e lanço um olhar saudoso pelo corredor nos quartos, perguntando se ele está aqui. Quando o pessoal me leva para a sala de estar, desisto e digo:
— Tudo bem, então, preciso saber se o Sr. Mendes ainda está interessado em meus serviços, como especialista em reabilitação.
— É claro. – assegura o Gui, jogando-se no sofá e brincando com a gravata como sempre faz. – Ele quer se concentrar no que é importante. Ele quer você, e tem sido muito específico sobre não querer mais ninguém.
Dou risada, então fico séria quando ambos olham para mim como se eu fosse uma estrela cadente que pegaram.
— Gente – digo, revirando os olhos. — Não finjam. Ele está aqui? Ele mandou que me torturassem?
— Nunca! – os dois riem e o Gui se recupera primeiro, sua expressão séria.
— Ele andou por aqui mil vezes nos últimos dias. O Shawn saiu para uma corrida agora. – o Gui sustenta o meu olhar, sua voz caindo consideravelmente à medida que ele se senta e se inclina sobre os joelhos.
— Sua carta, Camila. Ele leu mil vezes. Ele não vai comentar com a gente, nós não sabemos o que ele está sentindo.
O som de uma porta se fechando me atinge, e quando salto para os meus pés, minha respiração para. Do outro lado da sala, coberto de suor, eu vejo a razão pela qual estou pronta a jogar tudo e a apostar tudo no meu amor. Meu coração fica parado por um momento, e então salta a toda velocidade, porque este homem faz isso comigo. Eu corro até ele mesmo quando estou parada. Seu cabelo está perfeitamente bagunçado, e ele está lá, o deus do sexo dos meus sonhos, o demônio de olhos de chocolate que se tornam negros dos meus sonhos. Ele olha para mim, depois para o Gui, depois para o Wallace, em seguida começa a vir para mim, seus tênis abafados no tapete. Posso ver as emoções evoluindo em seus olhos, começando com surpresa, uma pitada de raiva, e então pura necessidade. Não sei quanto tempo fico olhando para ele, mas é por muito tempo, até sentir o crepitar da nossa química no ar como algo irreal e elétrico pulando entre nós. Seu peito sobe e desce, e uma necessidade desesperada para fechar a distância emocional entre nós faz meu peito doer.
— Gostaria de falar com você, Shawn, se tiver um momento.
— Sim, Camila, eu quero falar com você também.
Seu tom seco não faz nada para recuperar a minha confiança rapidamente em fuga, mas o acompanho de perto. O leve cheiro de outono misturado com um cheiro de mar agarrado à sua pele me deixa terrivelmente quente, e estou quase vesga de desejo quando ele me leva para o quarto principal. Shawn fecha a porta e se vira para mim, e um fluxo de calor sobe por mim quando ele enrola a mão quente no meu pescoço e se inclina para me cheirar. Desfeita pelo gesto possessivo de seu nariz enterrado em meu cabelo, pego a sua camiseta e enterro meu rosto nele, ansiando por ele.
— Não me deixe ir, por favor – imploro.
Ele se arranca de meu aperto e me libera, como se estivesse irritado por ter me agarrado antes.
— Se você me quer tanto, então por que foi embora? – Ele me enerva enquanto me observa sentar no banco ao pé da cama, tem as sobrancelhas juntas e braços cruzados, ampliando sua postura quase ameaçadora. — Eu disse alguma coisa quando estava no estado maníaco?
Com uma súbita e vívida memória, lembro-me de cada momento incrível, e me aproveito de um:
— Você queria me levar para Paris.
— Isso é uma coisa ruim?
— E fazer amor comigo em um elevador.
— Sério?
— E queria me foder em minhas calças cor-de-rosa. – admito, e um calor inesperado sobe pelas minhas bochechas. Ele continua olhando para mim, com o rosto tenso de uma máscara indecifrável. Seus braços estão cruzados, apertados, como se estivesse segurando suas emoções furiosas, e estou tremendo porque não posso determinar se o olhar é de amor ou de ódio. Está simplesmente me consumindo. Me consumindo.
— Você esqueceu a parte onde nós tocamos uma canção um para o outro. – retruca ele em um murmúrio silencioso, e a percepção de que ele provavelmente se lembra do jeito carinhoso que fez amor comigo depois provoca uma emoção ardente em meu peito que se espalha com rapidez pela minha garganta. Prendo a respiração em choque silencioso quando ele pega a minha mão e leva meus dedos aos seus lábios. Meu coração acelera quando fico no meu lugar, assistindo em deliciosa agonia enquanto ele vira minha mão na dele. Shawn olha para a palma da minha mão antes de se inclinar e colocar sua língua sobre a minha pele e me lamber suavemente. A vontade explode na minha barriga.
— Aquela foto me deixou muito irritado, Camila. – diz, enquanto arrasta sua língua através dos nervos sensíveis no centro da palma da minha mão. — Quando você pertence a alguém... Você não beija ninguém. Você não beija seu inimigo. Você não mente. Nem trai.
Meus sistemas rugem de volta à vida quando os dentes arranham a palma da minha mão. Minha voz estremece:
— Sinto muito. Eu queria protegê-lo, como você me protege. Nunca mais farei as coisas pelas costas, Shawn. Não fui embora por causa de seu surto, só não queria que ficasse maníaco ou deprimido por minha causa.
Ele concorda de modo sombrio, me lança um olhar sedento e baixa minha mão ao meu colo.
— Então alguma coisa me escapou. Porque ainda não consigo entender por que, diabos, você iria me deixar quando eu mais precisava de você, porra!
A dor em sua voz atinge uma corda dentro de mim, e imediatamente meus olhos ardem.
— Shawn, me desculpe! – choro miseravelmente. Ele geme, agitado, em seguida puxa a carta que escrevi do bolso do jeans dobrado de qualquer jeito em uma cadeira no canto. O papel está amassado e meio rasgado no meio, de tantas leituras.
— Você queria mesmo dizer o que escreveu? – Ouvir sua voz densa, angustiada, faz meus pelos eriçarem.
— Qual parte?
Ele pega o papel e desdobra, batendo um dedo espesso nas palavras: Eu te amo, Shawn. Amassa então o papel novamente, me olhando com raiva e desespero. Meu coração se contrai ao perceber que ele não consegue dizer as palavras em voz alta para mim.
Quem uma vez disse que o amava?
Eu disse.
Em uma carta.
Em mil canções.
Mas não em voz alta.
Até mesmo seus pais só queriam dinheiro. Eles nunca o aceitaram ou deram o amor que ele merecia. E eu? Oh, Deus, eu o abandonei. Assim como todos os outros. Aceno com a cabeça para cima e para baixo muito rápido, e seu queixo fica duro como pedra, como se ele estivesse segurando algum sentimento selvagem.
— Diga – sussurra asperamente.
— Por quê?
— Eu preciso ouvir.
— Por que você precisa ouvir isso?
— É essa a razão pela qual você partiu após a luta?
Lágrimas ardentes enchem meus olhos. Há desespero na sua pergunta, e acho que ele quer tanto saber por que essa pode ser a única razão pela qual será capaz de superar a minha partida. Uma dor rasga meu peito enquanto o imagino ao acordar na cama do hospital, depois do que fez por mim, para perceber que eu o deixei. Quando disse que nunca teria o suficiente dele...
— Foi por isso que foi embora, Camila? Ou porque está pronta para me abandonar? Pensei que você tivesse mais coragem, diabinha, realmente pensei.
Ele está loucamente vasculhando o meu rosto, e me sinto tão selvagem quanto ao olhar para suas feições incrivelmente bonitas, observando que a pequena cicatriz acima das sobrancelhas permanece. Eu a toco por impulso, e no instante em que meu dedo se conecta com a pele, as palavras jorram para fora de mim.
— Eu te amo. Eu te amo. – Sua respiração se prende em seu peito, e eu continuo com pressa. — Mais do que jamais pensei que fosse possível amar qualquer outro ser humano. Fui embora porque você partiu meu coração com cada um de seus ossos. Porque eu não aguentava mais!

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