Capítulo 18

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Camila

Estamos voando para Las Vegas agora. Wallace e o Guilherme estão na frente com Diana e Lupe, e eu estou na parte de trás do avião com Shawn. Ele está ouvindo suas músicas, mas eu não, e tento ouvir a conversa acalorada entre Gui e o Wallace. Shawn ficou sem treinar por quatro dias, mesmo quando Wallace nos acordou naquele dia. Fui me trocar e esperei lá embaixo, mas o Shawn não apareceu. E não saiu de seu quarto em nenhum dos dias seguintes. Exceto por mim. Há algo acontecendo entre nós, e estou com medo de dar um nome pra isso. Nas últimas quatro noites, ele veio me buscar no quarto e me levou para o dele, onde, neste último dia, ficamos o dia todo. Nós nos beijamos como se isso fosse o que estivéssemos esperando, o que no meu caso era verdade. A Taylor havia mandado um SMS depois da minha mensagem de texto bêbada, na qual eu falava de fazer sexo com o Shawn. Ela queria saber se eu iria dar à luz a vários filhinhos do Shawn. E eu não sei bem o que andamos fazendo, mas a forma como ele me beija faz parecer que sou o crack dele, e é como se ele ficasse chapado comigo. Logo que chegamos à cama, sua boca se funde à minha e não escapa mais. Seus braços me prendem ao seu corpo como se eu o prendesse no solo. Me sinto como sua âncora, e ele parece tão poderoso e excitante quanto um salto de paraquedas.
— Os pontos dele não conseguem mantê-lo em primeiro lugar para sempre – murmura Wallace agora, e não há dúvidas sobre o perigo iminente em sua voz. — Ele já está em segundo, beirando o terceiro. Ele não pode faltar nem uma única noite e não pode mais perder nenhuma luta.
Desafivelando o cinto de segurança, chego até eles com a testa franzida.
— O que há de errado?
Fico de pé no corredor e apoio o ombro na parte de trás do assento de Diana.
— O Shawn não pode mais perder nenhuma luta. Este campeonato se regula pelos pontos, então se a gente pretende alcançar o primeiro lugar, ele não pode perder mais nenhuma luta e isso ele certamente não vai suportar.
— Ele não está comendo – diz Diana tristemente.
— E não tem treinado – acrescenta o treinador, amargamente.
— E os olhos dele ainda estão escuros.
Fico abismada com o comentário do Gui, mas sim... Nos últimos dias, os olhos do Shawn estão de fato escuros, mas a gente também não tinha dormido. Ficamos nos beijando como maníacos a noite inteira e nossos corpos estavam entrelaçados, e ficamos pedindo o serviço de quarto porque não consigo fazer com que ele concorde que alguém de sua equipe entre no quarto. Fico olhando para os rostos tristes e Wallace balança a cabeça.
— Se ele sai com aqueles olhos negros do diabo pra lutar, e uma pequena parte dele não concorda com o que o juiz diz, ele pode socar o babaca de vez.
Enrugo a testa.
— Não seja ridículo. Ele conhece as regras. E ele não é uma máquina de treinar 24/7. Deixe ele se recuperar. Ele treina até mesmo aos domingos e está perigosamente perto de ficar sobrecarregado. Todo atleta precisa de um tempo de inatividade.
— O Shawn não é um atleta comum, se ele não treinar ele fica acelerado – diz o Gui. Reviro os olhos, cansada de ouvir esse termo.
— Existe alguma coisa que não o deixe acelerado?
— Na verdade, sim. Paz e sossego. Mas ele não vai se transformar em um monge dentro em breve, não é?
Sério, não vejo o que há de tão errado no fato de ele tirar um tempo para descansar. Alguns dos meus amigos atletas ficam completamente deprimidos depois de uma competição. Tudo o que sobe tem que descer uma hora, e os neurotransmissores, por vezes, podem ficar um pouco malucos.
— Olhe, existe um ponto até onde você forçar o seu corpo, especialmente do jeito que ele força. Então, ele deixou de ir a uma luta? Grande coisa. Sua força provavelmente vai melhorar com o repouso de uns dias e ele vai chutar a bunda de todo mundo em Las Vegas.
Eles não conseguem responder e ficam me olhando em silêncio, e sei que eles estão se perguntando o que diabos está acontecendo entre nós, uma vez que o Shawn está agindo de forma muito possessiva em relação a mim, olhando para o Gui quando ele conversa comigo, até mesmo com Wallace quando ele se ofereceu para ajudar com a minha mala, há apenas algumas horas. O Shawn se apressou para pegá-la e ainda perguntou se o Wallace não tinha nada mais para fazer do que ficar olhando para mim. Sim, eles parecem desesperados para saber o que está acontecendo entre mim e o Shawn. Mas já que eu mesma não tenho ideia, acho que todos nós vamos continuar com essa dúvida. Suspirando, me viro em silêncio para voltar e, quando o faço, tomo a consciência de que ele está me olhando. Existe alguma coisa muito masculina naqueles olhos enquanto me observa voltando para o assento. É um olhar escuro e possessivo, que dispara uma ondulação pelas minhas terminações nervosas. Sou levada de volta para as quatro noites que passamos na suíte presidencial, quando trancamos o mundo do lado de fora. Foi como a Bela e a Fera, exceto que foi minha vontade me trancar com a Fera, para que pudesse me beijar, aquela linda criatura que me tortura de desejo. Quase gemo ao lembrar. A mão de Shawn deslizando pela minha garganta. Seus olhos semicerrados quando olha para mim. Nossa respiração entrecortada. Sua boca quente e úmida e sem vergonha de me beijar. Ele apenas me beija, beija minha boca, minha garganta e meus ouvidos, ele lambe e saboreia, e aciona todos os tipos de sensações em meu corpo. Me lembro de gemer. Me lembro da maneira que ele sorri ao som prolongado, e da forma como fica sério e intenso quando volta a me provar e chupa meu lábio inferior e, depois, morde e suga a pele da minha garganta. Lembro seu corpo pressionado contra o meu, e minha vagina latejante com a proximidade de sua ereção. Nossas línguas. Quentes e desesperadas, girando e procurando. Eu o desejo tanto que só consigo pensar nisso. Acho que implorei na noite passada, “Por favor...”, mas estava tão drogada com o tesão que nem tenho certeza. O que eu sei é que ele para às vezes, quando a respiração está rápida demais, e toma um banho de água fria. Mas ele volta, em calças de pijama ou nas sexy cuecas boxers, e mais uma vez envolve meu corpo com o tamanho protetor do corpo dele, apenas para dobrar aquela cabeça de cabelos negros e continuar me torturando. Ele fode minha orelha com movimentos lentos e profundos de sua língua. E faz o mesmo com minha boca. Lambe e prova a minha garganta. Minha clavícula. Ele me deixa tão quente, que meus dentes batem quando sinto o ar frio na minha carne. O tesão desce pelas minhas coxas. Meus mamilos ficam duros como diamantes. Ele trabalha em mim até um ponto onde um simples gole de sua boca me faz gemer profundamente, como se eu tivesse acabado de ser penetrada. Ele está me levando muito devagar, e me sinto como uma adolescente virgem, embora não seja nem uma coisa e nem outra. Mas me sinto desejada, e ligada a ele como fazem os animais. Sinto como se já tivesse sido capturada e presa, e ele está simplesmente me cozinhando, esperando com ansiedade pelo momento em que dará em mim a sua primeira mordida. Não posso suportar isso, é sério, e estou molhada até mesmo agora. Nós não falamos muito quando “nos conectamos” em seu quarto. Sinto que ele está em seus dias de homem das cavernas, e compreendo. Ontem, ele sequer me deixou sair do quarto, e me manteve presa em sua cama, uma escrava indefesa de seus beijos. Quando precisamos parar, às vezes ouvimos música, ligamos a tevê ou comemos, mas acima de tudo, nos beijamos. Há vezes em que não ouço nada a não ser os sons dele me beijando, e os dois ofegantes, tomando fôlego. Na noite anterior à da partida, eu estava tão preparada no momento em que ele veio me buscar no meu quarto que quase pulei em seus braços. No momento em que se afundou em sua cama, minhas mãos já estavam em seu cabelo, a minha língua empurrando desesperadamente em sua deliciosa boca, e quando ele respondeu com um grunhido animal e um beijo poderoso que sugou minha língua febril, senti, a cada vez que me sugava, pequenas agulhadas de prazer cutucando meu clitóris sensibilizado. Ele palpita quando nos beijamos, e entro em delírio só de lembrar. Agora, mesmo o menor olhar que ele me dá já me deixa palpitando. Quando ele olha para os meus lábios. Quando ele enfia a mecha de cabelo atrás da minha orelha. Sei que estamos apenas provocando nossos hormônios, fazendo isso. Segurar a saída desse desejo não é saudável, mas não posso impedi-lo. Na verdade eu quero mais. Quero que ele pare, porque estamos sofrendo, e quero que ele vá em frente até que me veja em seus braços, queimada até as cinzas de tanto tesão por ele. Eu o quero. A cada hora, minuto e segundo. Eu o queria na primeira noite, quando tentei me fazer uma lavagem cerebral e fingir que não. E agora eu o quero como quero respirar, comer, viver uma vida feliz, ver a minha irmã de novo, estar satisfeita no meu trabalho. Eu o quero como quero viver meu presente, sem medo do que possa, ou não, acontecer amanhã. Nem tenho medo de que ele vá me machucar. Sei que isso vai doer. Mas o medo nunca foi um amigo meu. Quando decidi que ia competir nas pistas, não fui com medo de que poderia perder, ou de que iria romper meu joelho e perder dez anos de minha vida treinando para nada. Você vai atrás de alguma coisa porque você deseja isso demais, a ponto de fazer todos os esforços para consegui-la, e até mesmo arriscar algumas perdas enquanto a persegue. Agora, todos os esforços do meu corpo parecem se concentrar naquela extrema necessidade física de ficar perto desse homem. Isso é tão esmagador quando eu o ajudo a alongar... A necessidade de senti-lo incorporado dentro de mim, onde ele faz doer, é tão grande que não sei mesmo o que fazer, e preciso parar. Mesmo agora, percebo que sentei ao lado dele o mais perto que pude sem que fique em cima dele, toda a extensão de meu jeans rosa apertado na coxa encostada no jeans da coxa dele, e ele sorri o sorriso de covinhas que faz enrolar meus dedos, porque acho que ele gosta de me sentir perto dele. Shawn tira os fones de ouvido e então inclina a cabeça para mim, como se pedisse silenciosamente que lhe contasse o que está acontecendo.
— Eles estão preocupados com você.
Ele se vira para manter o meu olhar.
— Comigo ou com meu dinheiro?
A pergunta tranquila parece tão íntima quanto os sussurros dele quando me beijou na noite passada, quando sussurrou beije-me e me chamou de linda e me disse que eu cheirava gostoso.
— Com você e seu dinheiro – respondo. As covinhas surgem de novo, mas apenas brevemente, aparecendo como se dois anjos apertassem as bochechas magras.
— Eu vou ganhar. Sempre ganho.
Sorrio, e quando seu olhar cai para o meu sorriso, a consciência da minha própria boca me provoca.
Meus lábios estão inchados e vermelhos por causa dele. Seus olhos ficam ainda mais escuros quando ele os estuda, e um arrepio passa por meu corpo. Tento sufocar esse arrepio, ao mesmo tempo que luto para não olhar para aquela linda boca, tão deliciosamente rosada e mais grossa por causa de meus beijos.
– Você quer correr hoje, pra se aprontar pra amanhã? – pergunto, e isso exige todo o meu esforço para eu me focar em outra coisa que não seja o fogo me consumindo. Ele balança a cabeça.
— Você está cansado? – pergunto. Ele assente com olhos tristes, a voz baixa, mas não pesarosa.
— Tão cansado que mal consigo levantar da cama.
Concordo com a cabeça em compreensão, porque eu sinto um pouco disso também. Não quero levantar. Especialmente com esse enorme homem musculoso na mesma cama, onde eu quero apenas me torturar mais uma vez com o meu desejo por ele. Eu me inclino para trás, sinto o ombro dele contra o meu descansando no encosto, e quero me enrolar como fiz ontem à noite, quando a gente não conseguia parar de se beijar e só dormiu apenas algumas poucas horas. Acho que ele percebe que estou cansada também, e muda um pouco de posição para que eu possa encostar a cabeça nele. E me passa uma canção. Estou com muita preguiça de lhe passar uma das minhas, então só escuto. A linda “Come Away with Me” de Norah Jones começa a tocar, com sensualidade, propondo que eu faça exatamente o que o título sugere. O tom é tão sexy e me lembra tanto de nossas noites juntos, nossos momentos roubados em beijos, que me dá uma febre. De repente, ele se inclina para tentar ouvir através dos meus fones de ouvido, e quando sinto o cheiro de seu perfume masculino perto de mim, meus músculos latejam dolorosamente apertados. De imediato pego meu aparelho e seleciono uma música que tem tocado na rádio ultimamente, sobre um boxeador que é forte e luta incrivelmente bem. Eu queria tocar “Iris” para ele. Queria tocar algo que implorasse para que ele faça amor comigo. Mas a equipe está preocupada, e sei que tudo o que estamos fazendo durante a noite não é propício para o bom desempenho atlético. Não importa o quanto eu deseje esses momentos e anseie pelo lugar onde isso nos está levando, não posso sabotar o Shawn assim. Ele é muito importante. Observo o seu perfil enquanto ele escuta. Sua expressão é ilegível à primeira vista. Quando finalmente levanta a cabeça, seu olhar é escuro e conturbado.
— Você me mostrou uma música sobre um lutador?
Concordo com a cabeça.Ele joga o iPod de lado com uma careta. Então, alcança meus quadris, me arrasta para seu colo e minha respiração para quando sinto o quanto inequivocamente ele me quer.
— Me mostre outra – exige. O olhar primitivo em seus olhos me faz tremer. Balanço minha cabeça.
— Não podemos continuar fazendo o que estamos fazendo, Shawn. Você precisa do seu sono – sussurro.
— Dê-me outra canção, Camila.
Ele é tão teimoso que me dá vontade de me afastar, mas na verdade... Isso me excita. Ele quer as minhas músicas tanto quanto quer meus beijos, e isso me provoca. Tudo bem, então. Se ele quer mesmo, temos que ir até o final nesta noite e fazer amor, e não apenas ficar nos provocando sem consumar. Então, acho “Iris” e toco para ele. Me endireito e fico olhando seu rosto enquanto ouve. Está ilegível mais uma vez, mas quando levanta a cabeça, seus olhos são torpedos de calor. Sua ereção é feroz debaixo de mim, e sinto seu coração pulsando ritmicamente lá. Na sua dureza.
— Idem – diz ele.
— Para quê?
Seus olhos espiam os outros passageiros antes de pegar o meu cabelo e puxar minha cabeça para baixo para que ele possa lamber meus lábios de um lado para o outro com a língua.
— Para a letra.
Tremo e me afasto.
— Shawn... Eu nunca tive um caso antes. Não vou te compartilhar. Você não pode ficar com mais ninguém enquanto estiver comigo.
Ele acaricia um polegar sobre meu lábio inferior úmido, seu olhar intenso.
– Nós não vamos ter um caso.
Fico olhando em silêncio, certa de que acabei de ouvir um órgão do meu corpo rachando no meu peito.
Suas mãos se fecham em torno de mim, e ele me esmaga em seu corpo quando desliza o nariz ao longo de minha orelha.
— Quando eu tomar você, você será minha – ele diz, uma promessa suave no meu ouvido. Desliza o dedo ao longo do meu maxilar, em seguida, delicadamente beija minha orelha. — Você precisa ter certeza. – Seus olhos são tão quentes que estou em chamas por causa do desejo, e a palavra “minha” faz o lugar vazio entre minhas pernas inchar de vontade. — Quero que você me conheça em primeiro lugar, e depois quero que me diga se ainda deseja que eu a possua.
A palavra “possuir” também está tendo um efeito. Sou apenas uma grande massa de necessidade pulsante.
— Mas eu já sei que quero você – protesto. Ele olha para os meus lábios com uma intensidade feroz, então nos meus olhos, seu olhar tão triste e atormentado que fico atordoada com a escuridão que vejo. Passa então a mão pelo meu braço nu, acordando todos os pelinhos lá.
— Camila, eu preciso que você saiba quem eu sou. O que sou.
— Você teve toneladas de mulheres sem esse requisito – imploro. Suas mãos grandes engolem minha bunda enquanto ele me puxa mais perto novamente, seus olhos cheios de necessidade, devorando minhas particularidades e me afogando em
suas profundezas.
— Este é o meu requisito com você.
Um flash selvagem de vontade se rasga em mim quando entendo o que ele está me dizendo. Ele não vai me ter agora. Mesmo que seja tudo o que penso. Tudo o que quero. Hoje já estou à luz do dia, e ainda estou vivendo na última cama em que estive, com ele, com sua boca devorando a minha. Ele quer que eu o conheça, e quero conhecê-lo, mas se eu o conhecer e se eu passar a gostar dele um pouco mais do que já gosto, nossa conexão emocional será tão forte para mim que não voltarei a ser quem eu era antes dele. Ele é poderoso fisicamente, mas emocionalmente, ele me derruba. Não aguento mais isso. E ele também não deveria aguentar. Sentindo um peso estranho em meu peito, me inclino em seu ouvido e sussurro:
— Nós não podemos mais continuar assim, Shawn. Não quando seu campeonato está ameaçado. Então, ou venha me buscar hoje à noite pra fazer amor comigo, ou me deixe em paz para que nós dois possamos descansar.
Espero que essa ameaça provoque uma reação. Ele é um homem. Este é um convite aberto para fazer sexo descomplicado, exatamente o que um homem deseja. Estou deixando as coisas fáceis para ele, aceitando-o “do jeito que ele é”, sem perguntar nada. Ou ele vai resolver as coisas comigo na cama e ficar pronto pra treinar amanhã, ou terá uma noite de sono sem mim. E detesto notar que ele não parece se mexer para escolher a opção de fazer amor, que era honestamente aquela que rezei para que ele escolhesse. Ele apenas estuda o meu rosto com olhos que hoje não estão castanhos.
— Tudo bem – responde com um sorriso, que não sei bem se alcança seus olhos. Ele se coloca do meu lado, pega seu iPod, liga sua música e não me dá outra canção. Quer dizer, acho que não vou dormir com ele.
Uau.
Acabo de partir meu próprio coração.

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