Camila
Estamos voando para Miami hoje.
O pessoal na parte da frente do avião está falando do tal Lobão e da “quase luta fora do ringue” que rolou na noite anterior. Sento-me no assento de trás com ele, como parece estar se tornando o costume, e nós dois trouxemos nossos fones de ouvido. Ele está com seu iPod na mão e já procura as canções, enquanto eu procuro as minhas, sem muita certeza se a música que estou escolhendo será ouvida por mim ou por ele. No carro a caminho do aeroporto, ele estende o braço e sussurra:
— Conserte meu pulso pra mim.
Ele tem o pulso mais grosso que já vi, e assim que começo a mexer, percebo que era uma desculpa para que eu o tocasse, porque o pulso parecia estar perfeitamente flexível, e isso faz minha intimidade se apertar quando me lembro. Será que ele quer sentir meu toque tanto quanto quero sentir o dele?
— Ponha uma música pra mim – ele fala baixo agora. Incrível como apenas um olhar dele faz meu coração pular. Concordo com a cabeça, mas não sei muito bem o que colocar para tocar. Ele está pesquisando também, e vejo que também hesita. Nenhum dos dois está mais sorrindo. Nenhum de nós tem sorrido desde ontem. Quando
quase fizemos algo louco e... maravilhoso. Ainda estou procurando por uma música quando ele me entrega seu iPod e eu conecto meus fones de ouvido para ouvir, e a música que começa é “talking body”, da Tove lo. Ela me leva de volta para sua primeira luta enquanto presto atenção na letra. A canção toca no meu ouvido, parecendo alegre, otimista, divertida, me lembrando de como eu fiquei olhando ele lutar, e, mais tarde, como a multidão se concentrou ao nosso redor e como sua mão tocou a minha, e como nós nos sentimos eletrificados... Estou me sentindo tão igualmente travessa e frustrada, e só quero ver o que ele vai fazer se eu fizer algo louco, então procuro uma música muito divertida, das antigas, que eu ouvi recentemente em um episódio de Glee, chamada “Anyway You Want It”, do Journey, e passo a ele. Ele começa a ouvir com um sorriso, e quando percebe que o coro está basicamente dizendo que ele pode conseguir “aquilo” do jeito que gostaria, levanta os olhos para mim. Há uma pergunta dentro daqueles olhos, e seu olhar salta sem parar entre os meus olhos e lábios, até descer e ficar em meus lábios. Eu passo a língua neles, e noto que os olhos crescem, como se aumentassem de tamanho.
— Shawn – o Gui chama lá da frente.
– Ele está com os fones de ouvido, não consegue ouvir – respondo. Eu conseguia ouvir porque a minha música já tinha acabado.
— Jesus, pare de provocar o cara, Camila. Especialmente se você não for...
Uma risada me escapa, e Shawn, alheio ao que o Gui disse, parece profundamente absorvido comigo e com a música. Não sei o que significa seu olhar, mas ele mergulha sua cabeça mais perto.
— Manda outra – ordena, seus olhos de chocolate sombrios me olhando fixamente. Hesito por um instante, mas por dentro estou borbulhando de desejo e malícia, então mando outra das antigas que parece apropriada, “Love me like you do”, de Elle Goulding. No momento em que o refrão começa, percebo que suas pupilas ficam amplamente dilatadas. Minha respiração falha, e percebo que, ao tocar essa música, estou basicamente implorando que o homem faça amor comigo, que ele diga que vai... A ansiedade no olhar faminto no rosto do Shawn me faz deslizar para trás no assento enorme, quando ele se inclina para frente. Seu olhar se detém no meu enquanto ele mergulha sua cabeça de cabelos escuros, seu olhar tão quente, que me eletriza. Ele desliza a mão em volta da minha cintura e me traz um pouco mais perto dele, inclinando a cabeça e apertando os lábios em meu ouvido. Acho que ele beijou minha orelha. Minhas terminações nervosas cantam quando ele pega seu iPod e coloca a música para mim. Ele toca “Iris” de novo, observando como cada batida rouba minha respiração novamente, e a letra me faz querer chorar. Inundada pelo desejo, mantenho seu olhar enquanto a música toca, e seus olhos são tão ardentes e me consomem tanto quanto as palavras que estou ouvindo. Quando a música termina, ele retira os meus fones de ouvido e tira os dele, sua respiração escarpada e desigual ao se inclinar para mim e beijar minha orelha novamente.
— Você me quer? – pergunta, com uma voz gutural que faz os pelos de meu corpo ficarem em estado de alerta. Concordo com a cabeça ferozmente contra sua cabeça, e suas mãos se apertam em torno de meus quadris. Ele abaixa a cabeça no meu pescoço e me cheira. Um tremor me invade subitamente, e sou tomada pela certeza súbita de que hoje à noite, hoje à noite após a primeira luta em Miami, Shawn vai fazer amor comigo. Pelo resto do voo, ele mantém o braço em volta dos meus ombros e me puxa para o seu lado, e continua fazendo preliminares sexuais em meu ouvido, o único lugar onde os outros não podem ver realmente o que ele está fazendo para mim. Ele puxa minha orelha com os dentes, lambe a curva dela, e se esquece totalmente de tocar músicas para mim. Enquanto estremeço desenfreadamente, molhada e me contorcendo, continuo olhando para os jeans, que quase estouram com a plenitude de sua ereção. O volume forçando o ziper é tão impressionante que a minha mão começa a coçar, minha língua quer saboreá-lo, lambê-lo, meu sexo desesperada de desejo. Chegamos ao hotel cinco estrelas, e a combinação inebriante de expectativa e excitação com a qual vim lutando vai às alturas quando percebo que o Shawn reservou minha hospedagem na suíte presidencial de dois quartos com ele. Quando as chaves são entregues, todo mundo parece notar a mesma coisa.
— Espero sinceramente que você saiba onde está se metendo – diz Guilherme, em um sussurro preocupado, franzindo a testa de preocupação. Os olhos de Diana estão quase cheios d’água quando ela me puxa de lado pelo saguão.
— Oh, Camila, por favor, reconsidere dividir um quarto comigo de novo.
Wallace vem e olha para mim com toda a abertura, dando um tapinha no meu ombro como se eu estivesse indo para a guerra.
— Ele está tentando o máximo que já vi por você, Camila.
As atitudes deles não me confundem, de fato. Sei que eles estão preocupados que isso acabe mal. Sou funcionária do Shawn e apenas temporariamente, e ele tem uma má reputação, com toneladas de evidências por trás dele. Ele, obviamente, tem mau gênio e pode se revelar alguém bem difícil de aturar. Mas mesmo sendo assim tão forte, sei instintivamente que ele nunca irá me machucar, e nunca fez nada para demonstrar o contrário. O resto não importa agora. E não me interessa de maneira nenhuma. Eu quero esse homem. Com uma força que não senti em mais de seis anos. E vou atrás disso. Talvez eu tenha um botão vermelho de autodestruição também? O que me deixa nervosa a respeito do que vai acontecer me abala ao subirmos para nossos quartos para nos aprontarmos para a luta, e de uma hora para outra preciso tanto
da Taylor que tiro meu telefone da bolsa e começo imediatamente e escrever para ela, porque já faz dois dias desde a última vez.Camila: Como tá minha amigaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa?
Taylor: Saudade! Mas te perdoo se me contar que já comeu o bonitão sexy!
Camila: Ooowwwnnn
Taylor: Quê? Já comeu?
Camila: Tay...
Taylor: Que foi? Que foiiiiiiiii?
Camila: Acho que estou me apaixonando por ele.Ele destruiu Miami como um tsunami. Estamos de volta de sua primeira luta, e eu ainda estou sem fôlego de alegria. Shawn mal foi atingido de raspão por seus oponentes. Ele tinha uma sobrecarga de energia, seu corpo preciso e tão poderoso nem sequer teve que dar muitos socos para derrubar seus oponentes. Ele passou por cima de cada um deles como se estivesse em férias, e até o final da noite as pessoas gritavam de alegria e até mesmo o locutor estava fora do ar.
— Que esses pobres homens descansem em paz, porque esse cara sabe bater! E sabe arrebentar! Arrebentar suas cabeças, arrebentar você! O matador, senhoras e senhores!
Mesmo Wallace estava tão animado lá de seu canto do ringue que escalou as costas do treinador e ergueu os punhos no ar, gritando a plenos pulmões. Enquanto isso, Gui parecia ter deixado para trás seu eu responsável em São Paulo, porque antes de sairmos do Underground, ele declarou:
— Devemos celebrar, porra!
Antes mesmo do Shawn saber o que tinha acontecido, já havia uma multidão indo conosco para o hotel em doze carros diferentes. Portanto, agora estamos na suíte presidencial com o que parece mil estranhos, mas é claro, não é possível que haja tanta gente assim. E, na verdade, o Gui diz que a maioria dessas pessoas já festejou com Shawn, por isso eles são estranhos apenas para mim. A multidão é tão grande, as pessoas estão até espalhadas no corredor, fazendo tanto barulho, que eu não posso deixar de pensar que é uma bênção que as outras duas enormes suítes presidenciais no último andar do hotel estejam vazias, ou então nós provavelmente estaríamos à procura de outro lugar para dormir esta noite. Estou desapontada por não ter sido capaz de vê-lo depois que ele tomou banho e se trocou. Ele está cercado por admiradores e foi trazido para o hotel por um grupo de velhos amigos de Miami, que deixaram que ele guiasse a Ferrari que um deles comprou. Agora, enquanto passo pelas pessoas amontoadas no que supostamente deveria ser a minha suíte e do Shawn, me pergunto se eu deveria participar da folia e me jogar e ficar bêbada, quando aplausos irrompem pela entrada, e são seguidos por gritos inconfundíveis que apenas um homem que conheço poderia provocar. Ele entra na sala carregado nos ombros de quatro rapazes. Meu coração falha. Ele tem um grande sorriso no rosto, o arrogante Shawn à décima potência, no alto de suas vitórias, e as mulheres gritam excitadas:
— Shawn! Shaaaawn!
— É isso aí, quem é o cara? – ele grita, e soca o punho no peito. Eu rio, completamente absorvida por isso, encantada e hipnotizada por ele. A aura que emana faz com que ele brilhe como um sol. Se agora ele dissesse que pode voar, acho que todos nós acreditaríamos. Todos os presentes parecem magnetizados por ele, impotentes e gravitando para onde ele está. Ele me vê, e seu sorriso amolece e seus olhos acendem um olhar estranho, com fome, e de alguma forma brilhante.
— Camila.
Ele pula dos braços dos rapazes e me chama, e a multidão se abre para que eu possa passar. Ele sorri para mim, e seus olhos castanhos se prendem nos meus enquanto ele caminha lentamente para frente e me encontra no meio do caminho. Shawn levanta-me em seus braços poderosos e me gira ao redor, e então me beija. No instante em que toma meus lábios, fogos de artifício disparam no meu corpo. Todo o desejo reprimido de dias e semanas soma-se a este momento em que tudo o que sou, e tudo o que eu quero, é reduzido a isso. Puxo a cabeça de Shawn Mendes para mais
perto da minha enquanto abro a boca e deixo que ele dê tudo o que quiser, para mim. Seu beijo gira meu estômago em um redemoinho selvagem. Ele me segura firmemente
pelos quadris e move os lábios com habilidade, esfregando a língua na minha. Um estrondo vibra no fundo do seu abdômen quando me traz mais perto e me obriga a sentir sua ereção, ao mesmo tempo que inclina a cabeça e fode minha boca como se não houvesse amanhã. Pessoas gritam alto nas proximidades e quando lhe dizem “Vai comer essa buceta!”, Shawn se afasta. Ele respira pelo nariz enquanto arrasta sua boca no meu ouvido, onde sussurra com voz quente e rouca:
— Você é minha hoje.
Um gemido febril me escapa. Ele colhe meu rosto naquelas mãos enormes que me fazem parecer frágil e pequena, e avidamente recaptura minha boca. Mas desta vez, mais lentamente, como se eu fosse valiosa e preciosa.
— Hoje você é minha.