Three

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Caitlyn's POV

  Confesso que acabei me assustando com suas palavras repentinas. No automático, afastei-me um pouco da mesma, enquanto ela se sentava.

— Por que veio até aqui?! Poderia ter matado meus pais de susto! — esbravejo, irritada.

— Você disse para eu me alistar e depois vir até aqui, e foi o que eu fiz. — responde Vi, apoiando a cabeça na cabeceira. — Tinha um esquisitão de quatro olhos na sua sala, e ele quase deu um tiro em mim quando entrei. Por incrível que pareça, ele me recebeu de forma bem mais educada segundos depois!

— Você deve estar falando de Morty. — arrumei rapidamente a barra da saia. — Eu o avisei sobre a sua chegada... E, como achou a minha casa?

Ao invés de me responder de imediato, Vi deu uma alta gargalhada.

— Que pergunta estúpida! — disse ela, ainda rindo. — Sua mãe era conselheira, você é a xerife... Está achando que sua casa é difícil de reparar?!

— Bom... Não. — murmurei, e me levantei da cama. — Eu vou tomar um banho, fique aqui e não diga nada sobre o nosso acordo para ninguém! Fale que você é só uma amiga antiga que voltou para a cidade e veio passar uns dias aqui.

— Claro, claro. — assentiu ela, entediada, me vendo ir até o banheiro. — Foi exatamente o que eu disse para seu pai antes, Cupcake.

— E pare de me chamar de Cupcake! — ordenei, antes de trancar a porta da suíte.

Ela abriu um sorriso travesso.

— Isso não posso fazer. — declarou a mesma. — Você é fofa, feito um cupcake.

Soltei um resmungo, irritada, e entrei no banheiro. Após um agradável banho quente, pus minha camisola roxa e saí do banheiro, ciente de que eu teria que encarar novamente minha "agradável" companhia.
Assim que a mesma me viu, levantou-se da cama num pulo, abrindo um sorriso largo, como se houvesse ganhado uma alta quantidade de dinheiro.

— Céus, e pensar que vou dormir com uma gatinha como você todas as noites... — riu ela. — Será que eu estou sonhando?

Ignorei seu comentário e fui até meu armário. Eu ainda não conseguia entender.
Ela havia conseguido sair de uma realidade terrível, para conseguir um emprego estável e justo numa boa cidade, mas a única coisa que importava para ela era estar com uma mulher que ela mal conhecia direito.

— Ora bolas, você só sabe pensar nisso? — questiono, procurando algo no alto da estante.

— Lógico, não é toda bonitinha de Piltover que fica com uma zaunita como eu. Mas você vai. Afinal, trato é trato não é mesmo, Cupcake? — disse ela, num tom zombeteiro e com um sorriso malicioso no rosto. Aquele sorrisinho já estava me tirando do sério e, diabos! Queria por tudo nesse mundo que aquela zaunita tivesse pedido dinheiro ao invés... Disso!

— Chega, já está na hora de dormir. — disse, me deitando na cama e apagando as luzes. — Boa noite.

— ... Boa noite. — ela ficou em silêncio por alguns minutos, mas voltou a falar quando eu finalmente pensei que teria paz. — Posso te dar um beijinho?

— Não.

— ... E um abraço?

— Você vai calar a boca depois disso?

— Vou.

— Então acabe com isso logo, Vi.

Parecendo satisfeita, ela me abraçou por trás e enfim conseguimos cair no sono. Quando acordei, Vi não estava mais no quarto. Pensei ter acordado atrasada por alguns instantes, mas quando vi, havia me levantado exatamente no horário de sempre. No entanto, escutei um burburinho vindo da sala.
Minha curiosidade falou mais alto, pois ignorei o fato de estar apenas de pijama e desci para a sala.
Lá, encontrei meus pais sentados no sofá, tomando chá na companhia de Vi, sentada na poltrona.

— Ah, Caitlyn! — exclamou minha mãe, assim que reparou minha presença. — Você finalmente acordou.

— Oh, sim. Bom dia, mãe... — eu falei, coçando o olho. — O que estão fazendo?

— Nada demais, apenas conversando com sua... Amiga. — ela olhou de relance para Vi, demonstrando que claramente não a aprovava. — Ela nos contou que vai passar alguns dias aqui, por que não nos contou nada?

— ... Oh, foi de repente! — gaguejei, pois não esperava que ela me fizesse aquela pergunta de forma tão repentina. — Não queria que uma conhecida ficasse sem lugar para ficar em Piltover, então a convidei.

— Mas não se preocupe, senhor e senhora Kiramman. — meteu-se Vi. — Logo, me tornarei Defensora. Não ficarei aqui por muito tempo.

— Não se preocupe, senhorita. É bem vinda para ficar o tempo que lhe for necessário! — mentiu ela, e logo voltou-se novamente para mim. — Caitlyn, você não devia ir para o trabalho agora?

— Ah, sim! — exclamei, saíndo da sala. — É melhor eu ir me arrumar, com licença.

Assim que me troquei e tomei um rápido café da manhã, fui direto para o meu trabalho. Morty chegou com algumas fichas de pessoas que haviam se alistado para a Academia recentemente. Imediatamente, eu li todas o mais rápido o possível para chegar até a de Vi, pois eu tinha certeza absoluta de que a dela estava ali, e eu precisava saber muito bem com quem eu estava me metendo.
Quando cheguei na dela, consegui encontrar algumas coisas interessantes. Seu nome na verdade era Violet, Vi era apenas um apelido — como eu já previa. Ela tinha praticamente a mesma idade que eu. Seu grau de escolaridade era um tanto baixo para se tornar oficial, mas eu acreditei que, como ela estava doida para transar, ela conseguiria estudar o suficiente para passar nos testes. E logicamente, tinha algumas habilidades de luta.

— A xerife parece bastante interessada na sua... Futura parceira, eu imagino. — Morty comentou, ajustando seus óculos arredondados.

Se ele soubesse o que eu prometi pela ajuda daquela mulher, a qual o mesmo garantiu que achou muito "estranha", ele entenderia.

— Não estou interessada, Morty. — respondo secamente, enquanto continuava lendo as outras fichas que não me importavam nada. — Eu só preciso ter certeza de que fiz uma boa escolha.

— Acredito que você poderia ter gastado seu tempo com uma pessoa melhor. — declarou ele.

— Não devemos subestimar a senhorita Violet, Morty. Agora, por favor, vá ver se está tudo em ordem com os outros.

Ele assentiu, e se retirou da minha sala. O resto do dia foi um pouco tedioso, no entanto, quando voltei para minha casa, deparei-me com meu pai novamente na sala.

— Olá, querida. — disse ele, assim que notou minha presença. — Sua mãe está descansando agora, e a senhorita Vi está estudando no seu quarto.

— Estudando?! — questionei, surpresa.

Meu pai não disse mais nada, e então eu apenas subi para o meu quarto. Quando eu entrei, Violet estava mesmo estudando. Por mais que estivesse com uma expressão que misturava foco e confusão, ela se esforçava o máximo para entender os cálculos dos meus livros de matemática.

— Oh, olá, Cupcake! — disse ela assim que notou minha presença, abrindo um sorriso de orelha a orelha.

— O que está fazendo? — eu questiono, sentando ao seu lado.

— Estudando. — responde, virando-se novamente para o livro. — Aquele cara disse que eu tinha de fazer algumas provas para me tornar Defensora, logo, eu devo me preparar!

— Entendo... Quer alguma ajuda?

— Seria de bom grado se você me dissesse se estes exercícios estão certos. — respondeu ela, me entregando o livro.

De qualquer forma, alguns exercícios estavam certos. Fiquei surpresa que Vi soubesse algumas coisas de matemática, pois ouvi falar que a maioria das crianças de Zaun não podiam ir a escola, sendo obrigadas a trabalhar. Ela respondeu que eram apenas "coisas básicas que ela ouviu por aí e se lembrou".
Ainda assim, alguns exercícios estavam errados, o que era prova de que eu ainda teria que a ajudar a estudar algumas coisas.

Trato é TratoOnde histórias criam vida. Descubra agora