Capítulo VI - Lotus

152 5 1
                                    

Apanhei um táxi até ao Lotus e sentei-me na esplanada. Não estava um tempo agradável, mas o vento tinha acalmado e dentro do café estava muita gente. Eu precisava de silêncio.

Nunca tinha entrado neste café. Lembrei-me porque o Ryan me tentou convidar a vir aqui com eles, mas o Noah fez aquele drama.

A esplanada é agradável. O chão é de madeira, tem grandes guarda-sois brancos a fazer sombra, se bem que neste dia nem era necessário. As mesas eram de madeira escura, e em vez de cadeiras tinha sofas pequenos em volta das mesas.

Pedi um café duplo. A dor de cabeça teimava em não passar e depois desta discussão só piorava.

- Já pela rua miúda nova? Depois da noite de ontem achei que só ias sair de casa para ir para a univ na segunda.

Péssima altura, Noah.

- Começo a achar mesmo que me persegues - disse, fria.

- Sabes que eu acho que vieste aqui de propósito porque sabes que venho aqui - ironizou ele.

- A sério, estou sem paciência Noah.

- Toma, faz bem à dor de cabeça. Até depois - disse, pousando um comprimido na minha mesa e entrando no café.

Se calhar fui fria demais com ele, mas tinha mais em que pensar. Que se dane.

- Chloe, desculpa a demora. A minha avó insistiu em trazer-me e céus, se ela conduz devagar! - justificou-se a Susan enquanto se sentava ao meu lado.

- Não faz mal, Susan, eu também cheguei há pouco tempo.

- Boa tarde, podia trazer-me uma água fresca, por favor? - pediu ela a uma empregada que ali passava.

Bzzz, bzzz

- Não vais atender? - perguntou a Susan, enquanto o meu telemóvel vibrava em cima da mesa.

Olhei para o visor. Era o meu pai.

- Não! - gritei, e desliguei o telemóvel.

- Problemas com os teus pais? - perguntou.

Expliquei-lhe tudo o que se tinha passado. Expliquei também o quanto me revoltava ver a minha mãe triste todos os dias até às tantas à espera dele. A acordar e ele já ter saído. O quanto me custava a mim não o ter por perto. O quanto me irritava as justificações de ser tudo pelo bem da família. A família estava a desmoronar-se por causa dele.

- Oh Chloe, tenho tanta pena. Ainda por cima a tua mãe é uma mulher tão querida, tão meiga. Ela não merecia isso. Mas tenho certeza que o teu pai gosta de vocês e se preocupa. Só não tem a forma mais própria de o mostrar.

- Não sei. Eu só queria que ele estivesse mais presente. E que não nos tentasse compensar com bens. Preferia almoçar em casa com eles, vermos um filme todos juntos, passearmos pelo parque. Como uma família normal percebes? Ele faz estes grandes planos e depois desaparece durante uma eternidade.

- Pode ser que ele fique a pensar no que lhe disseste e mude de atitude - tentou animar-me.

- Duvido. - disse, enquanto brincava com o pacote do comprimido que o Noah me deu.

- Que comprimido é esse? - perguntou ela, curiosa.

- Ah, foi o Noah que me deu - respondi distraída.

- O Noah? - perguntou boquiaberta.

- Sim, ele está lá dentro. - apontei.

Olhamos pelo vidro, e ele estava numa mesa com o Ryan, o Kevin e duas raparigas que me são familiares, provavelmente da universidade. O Kevin tinha uma nódoa negra na testa. Será que houve confusão na festa ontem?

Thank you. ChloeOnde histórias criam vida. Descubra agora