Capítulo XXVII - Como se fosse o último

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Dia 5 de Janeiro

- Então mãe, tens falado com o pai? - perguntei.

- Sim, ele tem ligado. Chega por volta das 12h à capital no dia 8. Deve estar cá por volta das 16h. Ouvi dizer que vai estar um tempo terrível nesse dia. Não gosto nada que ele ande de avião nessas condições - preocupou-se ela.

- Vais ver que corre tudo bem, o pai está farto de viajar com mau tempo. Mãe, eu vou ter de sair. Mas não disse ao Noah. Por favor, se ele aparecer aqui, diz que não sabes onde fui, que devo ter ido correr ou assim.

- Chloe, o que andas a fazer?

- Nada de mal, mãe. Mas é uma coisa minha, que não quero que ninguém saiba.

- Muito bem. Tem juízo Chloe - respondeu.

Entrei no carro e rezei para não me cruzar com o Noah pelo caminho.

- Vamos? - perguntei, parando o carro.

- Vamos - respondeu o Ryan, entrando no carro.

*

- Então, como é que correu? - perguntei ansiosa quando o Ryan apareceu na sala de espera da clínica.

- Mal - tinha um ar derrotado.

- Mal? - perguntei.

- Não há nada a fazer Chloe. É grande demais.

- Como não há nada a fazer?! Tem de haver!

- Só operando. O risco é demasiado alto. Eu não quero. Eu prefiro viver cada dia como se fosse o ultimo a entrar numa sala de operações e passar lá as últimas horas da minha vida - disse, decidido.

- Quanto tempo? - perguntei, tentando não chorar.

- É incerto. Pode acontecer a qualquer altura - respondeu, melancólico.

- Não! - gritei, abraçando-me a ele.

Eu não podia perder o Ryan. Não podia.

- Ryan, está na hora de abrires o jogo com as pessoas que gostam de ti.

- Tens razão. Tem de ser.

*

Quando cheguei a casa, o Noah estava à porta, dentro do carro.

- Passei o dia todo à tua procura - disse, saindo do carro e encostando-se à porta.

- Desculpa Noah.

- O que se está a passar? Eu vi-te apanhar o Ryan na república. Diz-me a verdade.

- Não posso ser eu a dizer. O Ryan vai falar contigo.

- O Ryan?! Tu é que és a minha namorada, tu é que tens de falar comigo!

- Eu prometi. Eu não posso dizer. O assunto não é meu.

-Chloe, chega. Ultimamente andas ausente, cheia de mistérios, não te aproximas de mim, evitas-me sempre que podes, andas sempre com o Ryan de um lado para o outro. Eu não consigo mais. Eu não vou passar por isto. Para mim chega.

Seguiu para dentro do carro.

- O Ryan tem um aneurisma porra! - gritei.

- O quê? - perguntou, voltando para perto de mim.

- Ele descobriu há uns meses quando estavas na capital como a tua mãe.

- O quê?! - repetiu - Porque é que ele não disse nada?! Tu já sabias?

- Não! Soube há uns dias. Mas eu prometi que não dizia nada a ninguém Noah. Ele nunca me vai perdoar.

- Como é que ele descobriu? Eu sou amigo dele, sou teu namorado, ele vai entender.

- Estava na república sozinho no natal. Sim, o Ryan passou o natal completamente sozinho. Ele não sabe de família nenhuma, porque cresceu numa instituição longe daqui! Assim que pôde fugiu de lá e veio para aqui. Ele não tem ninguém Noah! - expliquei, consumida por pena - Então parece que sentiu uma dor de cabeça horrível, mal conseguia andar. Então chamou uma ambulância. No hospital fizeram vários exames e descobriram que ele tinha um aneurisma cerebral. Grande de mais, por pouco não rebentou naquela noite. Eu tenho-o acompanhado ao médico e hoje ele foi receber o resultados dos exames.

- O que é que o médico disse? - o Noah estava ansioso e preocupado.

Eu não devia ter contado. Eu prometi ao Ryan. Ia ter de falar com ele.

Mas o Noah estava a interpretar tudo mal e eu não podia deixá-lo ir com as ideias todas erradas.

- Não há nada a fazer. A única hipótese é operar. O médico disse-lhe que era uma operação de alto risco e que as probabilidades de sucesso eram mínimas. Disse que cabia ao Ryan decidir.

- E o que o Ryan decidiu?

- Decidiu que vai viver um dia de cada vez. Como se fosse o último - murmurei.

Thank you. ChloeOnde histórias criam vida. Descubra agora