Capítulo XXXI - Patudo

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Conduzi sem pensar. Já sabia para onde queria ir. As palavras, as últimas palavras que o meu pai disse à minha mãe ecoavam na minha cabeça.


Estou preso aqui dentro. A estrada está impedida e eu não me consigo mexer. Tenho um vidro espetado no peito, não consigo respirar bem.


Que horror. Ele devia estar a sofrer tanto e não havia ninguém para o socorrer. Ele morreu. Sozinho.


Parei o carro do Noah e suspirei.

Saí, tranquei as portas e atravessei aquele caminho entre as árvores, que hoje já não me pareciam tão belas.


Sentei-me no banco e olhei para a cidade.

Nós nunca devíamos ter vindo para aqui. Se não vivessemos aqui, isto não tinha acontecido. Nada disto.

Mas se não tivesse vindo para aqui, não teria conhecido o Noah. Nem o Ryan. Nem a Susan. Nem o Kevin. E essa é uma das coisas das quais não abdicaria nunca.


...Evelyn. Escuta. Eu não vou aguentar mais tempo. Ouve o que tenho para te dizer. Perdoa-me. Eu não te queria magoar. Não queria ser a desilusão da tua vida nem da Chloe. Perdoem-me.


O que é que ele quis dizer? Ele nunca iria ser a desilusão da minha vida. Ele é o meu pai! Era... o melhor do mundo.

Não conseguia chorar. Sentia-me sozinha, vazia. Só queria que alguém me dissesse que era tudo mentira, que não passava tudo de um engano, que não era o meu pai e que entretanto ele estava em casa à nossa espera, com o seu copo de whisky na mão e o comando da tv na outra, rindo-se das tontices da minha mãe.


- Como é que nos pudeste abandonar assim? - Gritei para o vazio - Eu preciso de ti pai.


*

- Chloe, está na hora de irmos para casa - era a voz do Noah.


Eu estava deitada no banco, no mesmo lugar. Já estava noite cerrada, mas eu não queria sair dali.


- Como sabias que estava aqui?


- Porque somos almas gémeas, lembras-te? Sentimos as coisas da mesma maneira. Vieste para o único sítio para onde eu também iria. Vamos para casa Chloe - pediu-me, ternurento.


Levantei-me e aproximei-me dele.


- E agora, o que vai ser de mim, Noah? - perguntei.


- Eu vou estar aqui, sempre, Chloe. Para tudo o que vocês precisarem. Dói muito, eu sei. Mas com o tempo, vai aliviando um pouco - disse-me, docemente, enquanto me abraçava.


- Eu não quero ir para minha casa - disse-lhe.


- Eu percebo.


- A minha mãe, onde está? - perguntei.


- Está na minha casa. Com a Eleanor


Thank you. ChloeOnde histórias criam vida. Descubra agora