Capítulo XXIX - 8 de Janeiro

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Quando acordei, a minha mãe já tinha saído.
Tomei um banho rápido, vesti-me e fui ter com o Noah à República.

Um rapaz ia a sair de lá quando cheguei, então aproveitei e entrei.

Subi para o quarto dele e abri ligeiramente a porta.

-Meu amor, minha esposa! A morte nenhum poder teve sobre a tua beleza! Aqui fixarei a minha eterna morada. Ao lado de ti minha bela e tão amada Julieta. Assim morro, com um beijo.

Entrei no quarto dele.

- Romeu! O que é isto? Uma taça na mão do meu fiel amor! Oh, ingrato! Bebeste sem deixar uma gota? Beijarei os teus lábios, talvez haja um resto de veneno! Preciso de me apressar - peguei numa caneta que ele tinha pousada ao lado dele e fingi apunhalar-me com ela - Enferruja-te aqui e deixa-me morrer.

Atirei-me para os braços do Noah, que desatou a rir.

- Não sabia que conhecias as falas de cor - sorriu, dando-me um beijo na testa.

- Eu fiz teatro no secundário, esta foi das ultimas peças que fiz na festa da escola.

- Eras a Julieta?

- Sim - sorri

- Aposto que foste fantástica!

- O que não é fantástico é teres de fazer cenas românticas com a Sally - resmunguei.

- Ela não me interessa. É trabalho. Tu é que és a mulher da minha vida.

- Sou? Então a tua vida tem uma novidade para ti!

- Ai sim?

- Sim. O que fazes no próximo fim de semana?

- Bem, vou buscar a minha mãe à estação dos autocarros, mas tirando isso, nada.

- E ela chega a que horas? - perguntei.

- Perto das 9, penso eu, no sábado.

- Excelente. Então vais buscá-la e depois vais ter comigo a minha casa. Vamos passar o fim de semana fora! - anunciei, feliz.

- Fora? Onde? - perguntou, curioso.

- O meu pai ofereceu-me uma estadia num Hotel fabuloso, no litoral, com piscina coberta e tudo!

- E a ideia dele era eu ir contigo? - estranhou ele.

- Sim, tonto. A sério, o meu pai está diferente. Ele confia em ti. Estou muito feliz. Tenho o meu pai de volta. Aliás, eu tenho sorte em tudo! Porque tenho o melhor pai do mundo, a melhor mãe, os melhores amigos e o melhor namorado do mundo! - sorri.

- Amo-te - sussurrou ele, abraçando-me.

Dei-lhe um beijo apaixonado e puxei-o para a cama, nunca afastando os meus lábios dos dele.

- Chloe, eu tenho de estudar - sussurrou ele enquanto me beijava e me empurrava para cima da cama.

- Estudas depois - ri, ajudando-o a tirar a t-shirt.

- Tu pões-me doido - riu, com a respiração ofegante.

De repente e sem aviso, o chão começou a tremer.

- Noah? O que é isto?

O tremor tornou-se cada vez mais agressivo, eu já só conseguia gritar em pânico enquanto as coisas caiam à nossa volta.

- Noah!

- Chloe, vai para baixo da secretária! - gritou, mas mal o ouvia com o som de móveis a cair e coisas a partirem-se dentro e fora do quarto.

A estante do quarto dele caiu mesmo entre nós, espalhando as coisas pelo chão.

-AGORA, CHLOE, VAI!

Corri para baixo da secretária, encolhi-me e cobri a cabeça com as mãos.

O candeeiro do tecto dele desfez-se em pedaços no chão ao meu lado, os estilhaços espalharam-se por todo o lado.

A agressividade daquele tremor de terra era assustadora.

- Noah! - gritei em plenos pulmões.

Nada.

Abanei-me para trás e para frente, consumida pelo medo.

Já chega, por favor, faz com que pare, por favor - pensei, quando caiu um móvel mesmo em cima do meu braço, que estava um pouco de fora da secretária. Um pico de dor fez-me largar um grito.

De repente, o tremor parou.

Fiquei quieta no meu lugar. O meu corpo tremia freneticamente. Continuava a abanar-me para trás e para a frente de olhos fechados.

- Chloe!

Não conseguia responder-lhe. Eu não podia falar. Não sabia porquê, só sabia que não podia.

Ouvi o barulho de coisas a serem atiradas ao meu lado. Encolhi-me ainda mais.

- Chloe! Oh meu deus o teu braço. Chloe, olha para mim!

Mantive os olhos fechados.

- Chloe - o Noah sacudiu-me os ombros.

Abri os olhos. Olhei para ele. Estava coberto de pó e tinha um corte feio ao longo da face e outro no peito.

- O que foi isto? - perguntei.

- Não sei, foi de repente, não houve alertas nem nada. Acho que foi um sismo bastante forte. Anda, não podemos ficar aqui, a casa é velha demais, pode abater - pediu, esticando a mão para mim.

- Eu não consigo Noah - respondi.

Não sentia nada. Não conseguia chorar, não queria falar, não tinha força para me levantar.

- Espera aqui por mim. Eu vou ver se conseguimos sair pela porta.

Acenei que sim com a cabeça. Ouvi o Noah tentar abrir a porta mas algo estava a barra-la do outro lado. Ele deu murros desesperados na porta.

- Ryan!!! Steve!!! Malcom!!! Kevin!!!! Está aí alguém? - gritou.

Nada.

- Merda!

- Amor - disse ele, ajoelhando-se perto de mim - Vamos ter de sair pela janela.

- Mas estamos no primeiro andar - respondi.

- Eu sei. Eu vou descer primeiro. Vou tentar tirar as escadas que estão na arrecadação e venho buscar-te.

- Não me deixes aqui sozinha, Noah - supliquei.

- Eu não demoro - acalmou-me, fazendo festas na minha cara - Céus, Chloe, estás gelada. Temos de sair daqui. Eu venho já.

Vi-o sair pela janela e mantive-me no mesmo sítio. Era como se, caso me mexesse, tudo voltaria acontecer. Daquela forma eu estava segura, só não podia fazer nenhum movimento.

Thank you. ChloeOnde histórias criam vida. Descubra agora