Os dias foram passando, sem que o Noah se tentasse redimir. Cruzamo-nos uma ou outra vez na universidade, mas não falei para ele e ele também não tentou conversar comigo.
Estava cansada desta situação. Nada disto fazia sentido e, sinceramente, estava tão desiludida que me sentia melhor distante dele.
- Chloe, logo à tarde podes encontrar-te comigo no Lotus? - perguntou a Susan, quando a fui levar a casa, depois das aulas.
- Claro, a que horas? - perguntei, distraída.
- Lá para as 16h?
- Tudo bem - não me apetecia muito, mas a Susan não tem culpa do que se passou comigo e não merece que me afaste de novo.
*
Quando cheguei ao Lotus, ela ainda não tinha chegado. Estava a chover imenso, o céu estava cinzento, como se nos alertasse para uma tempestade.
Fiz o meu pedido e sentei-me na mesa do canto, dentro do café.
Passado algum tempo, estranhei a Susan nunca mais chegar, então enviei-lhe uma mensagem.Demoras? Não me apetece estar aqui.
Ela nunca mais respondia.
- Posso sentar-me?
Fiquei num estado de nervos absoluto. À minha frente, estava nada mais nada menos que a mãe do Noah.
- Hum.. eu estou à espera de uma amiga... e sinceramente não estou preparada para ouvir mais insultos que nem sequer compreendo, por isso, preferia que não se sentasse - respondi, friamente.
- A tua amiga não vem. Vim eu no lugar dela - respondeu ela, ainda em pé. Pelo menos o seu tom era mais calmo e ponderado do que da última vez.
- Como assim? - perguntei, sem entender nada.
- Se autorizares que me sente contigo, eu explico.
- Tudo bem. - respondi.
- Quando foste embora de nossa casa...
- Correção, quando vocês me expulsaram de vossa casa - interrompi.
- Certo. O Noah estava furioso comigo. Esperou que me acalmasse um pouco e explicou-me tudo. Eu senti-me mal pelo que te fiz, provavelmente nem compreendeste nada. Pedi-lhe que falasse contigo, mas ele disse que não valia a pena, porque já te tinha magoado uma vez e não irias deixar passar uma segunda vez. Então pedi-lhe que me deixasse falar contigo. Era lógico que se ele te pedisse para te encontrares com ele tu não irias, estando tão magoada como deves estar. Então ele pediu à Susan que simulasse este encontro entre vocês. Ela no início recusou. Inclusive disse que o melhor para ti era estares afastada dele. Depois de ver o teu estado esta semana, ela mandou mensagem ao Noah. E aqui estou eu - explicou ela, pausadamente.
Processei a informação durante algum tempo.
- E o que quer de mim?
- Quero que não culpes o Noah. Aceito que não gostes nem um pouco de mim neste momento e não te censuro. Mas o Noah não teve culpa da reacção que tive contigo. Eu nem lhe dei margem para ele poder falar.
- Pois. Mas ele não precisava de ter gritado comigo daquela forma, muito menos de me ter escorraçado assim - estava a ficar nervosa, a imagem dele a gritar comigo deixava-me furiosa.
- Ele ficou assustado quando me viu desfalecer no sofá. Teve medo que eu tivesse uma recaída. Eu sei que não sabes muito sobre nós, mas sei que sabes que não tenho andado bem. Felizmente recuperei bastante nos últimos tempos - explicou.
Lamento, mas de facto aquele apelo à minha sensibilidade não estava a resultar.
- Tudo bem. Mais alguma coisa? - perguntei.
- Eu nunca pensei que fosse possível alguém ser tão parecido. - comentou ela, olhando para mim - Mas realmente o teu olhar é diferente, nem tem a mesma malícia que o dela.
- Sabe quantas vezes é que eu já ouvi isso? - perguntei, sem paciência.
- Imagino. Lamento muito ter-te colocado naquela situação. Fui muito injusta contigo e com o Noah. Achas que podemos tentar outra vez? - perguntou ela, apoiando a mão na minha.
- Não vai fazer sentido nenhum agora. Não vou entrar em sua casa e fingir que não aconteceu - respondi.
- Aquela rapariga fez-nos tanto mal, Chloe. Ninguém imagina. Eu só queria poder esquecer as memórias que tenho aqui dentro. O sofrimento do Noah, o ano de faculdade que ele perdeu por causa dela. Eu não sabia que ele tinha alguém até ele me dizer que te ia levar lá. Mas sabia que ele estava diferente, mais feliz, mais leve, mais ele. Achei que tinha simplesmente ultrapassado tudo o que aconteceu. A verdade é que foste tu quem o fez acordar de novo. E eu devo-te isso. Eu só quero que o Noah seja feliz! Ele contigo é feliz. Só te peço que lhe dês uma oportunidade. Se não for pedir demais, que me dês uma a mim também. Sempre quis ter uma nora simpática e que gostasse genuinamente dele. Tu pareces bater certo com esse perfil - sorriu.
Pronto, derreteu-me completamente.
Sorri e estiquei-lhe a mão.
- Boa tarde, Sra. Eleanor. Eu sou a Chloe, muito prazer.
Ela sorriu-me de volta.
- O prazer é todo meu.
*
Parei o carro em frente à república de teatro. Estávamos a meio da semana, o Noah certamente estaria por lá.
Bati à porta, abriu um rapaz que conheço de vista da universidade.
- Olá. O Noah está? - perguntei.
- Sim, está no quarto dele. Queres que te acompanhe lá? - perguntou ele.
- Não, obrigada, eu sei onde é.
Bati à porta do quarto dele.
Nada.
Insisti.
- Porra Ryan, já disse que não quero sair, deixa-me em paz! - resmungou ele do outro lado.
- Olá Noah - cumprimentei, abrindo a porta é por pouco não levei com uma almofada na cara.
- Chloe! Chloe desculpa, pensei que fosse o Ryan a chatear-me a cabeça outra vez!
Ele estava sentado na cama, de tronco nu e calças de fato de treino.
O quarto estava um caos.- Passou aqui um furacão? - perguntei.
Ele olhou para os joelhos sem responder.
- Chloe, eu não tive coragem de ir falar contigo. Achei que nem valia a pena, com a raiva com que deverias ter de mim.
- Pensaste bem. Eu não ia querer ouvir. Mas entretanto cruzei-me com alguém bastante persistente. Não sei se conheces. Eu só a conheci hoje. Chama-se Eleanor e parece-me uma senhora bastante simpática - sorri, afastando-me da porta e deixando a Eleanor entrar no quarto.
Ele sorriu.
- Noah! Que desarrumação é esta? Que vergonha! Pareces uma criança! Arruma lá isto! - refilou ela, apanhando a roupa que estava espalhada pelo chão.
- Está bem, está bem - resmungou sorridente.
Olhou para mim e sem falar, movimentou os lábios num obrigado, e eu acenei com a cabeça.
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Thank you. Chloe
RomanceChloe - Uma rapariga ruiva, inocente, feliz. A vida pregou-lhe várias partidas que ninguém deveria viver, mas ele estará sempre ao lado dela. Certo?