Capítulo XXVI - Ryan

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A minha mãe estava deslumbrada.

- Oh Chloe, foi tão bom! O fogo de artifício reflectia na água, o teu pai foi tão romântico! Há tanto tempo que não tínhamos um momento assim!

- O pai está tão diferente não está?

- Está o homem por quem me apaixonei outra vez - sorriu para mim.

- Fico tão feliz mãe! Está tudo tão bem. Eu adoro-vos! - abracei-a.

- E como estão as coisas com o Noah?

- Estão bem. Ele está no anfiteatro a ensaiar - comentei, nervosa. Estava com receio que a Sally lhe contasse o que tinha acontecido.

- Então o que vais fazer esta tarde? - perguntou.

- Vou beber café com o Ryan. A Susan foi assistir aos ensaios do Kevin e do Noah mas eu prefiro não ver - respondi.

- Eu percebo que te faça confusão. Mas não podes dar tanta importância a isso - disse-me.

- Eu sei. Bom, até logo mãe - respondi, saindo.

*

- Grande animação anteontem hum, Ryan? - gozei enquanto bebia o meu chocolate quente.

- Sim, foi muito bom mesmo - o sorriso dele era triste.

- O que se passa contigo? - perguntei.

- Nada. Só quero aproveitar ao máximo estes momentos com vocês - respondeu, pensativo.

- Ryan, eu estou a ficar mesmo preocupada contigo. Fala comigo, por favor - supliquei.

- Eu não quero falar. Não vai mudar nada - murmurou.

- Vai fazer-te bem. E a mim também, porque estou mesmo preocupada contigo e quero ajudar-te mas não sei como. Eu estou aqui Ryan. Eu estou aqui!

- Prometes-me que não contas a ninguém? - perguntou.

- Claro que não Ryan.

- Nem ao Noah?

- Nem ao Noah.

- Eu não queria que ninguém soubesse. Mas se não falar nisto vou explodir - disse, enquanto lágrimas começavam a escorrer pela sua cara, a testa apoiada na mão.

- Confia em mim, Ryan, por favor! - pedi, já assustada.

- És a minha melhor amiga Chloe. Eu confio em ti.

Enquanto ele falava, cada palavra era como uma facada no meu coração. As lágrimas tomaram o controlo de mim e eu já soluçava enquanto ele me contava tudo o que o estava a atormentar. Agarrei a mão dele e olhei-o com uma dor e uma compaixão que nunca tinha sentido antes.

- Ryan... como é que puseste passar por isto tudo sozinho? Porque é que não falaste comigo? Porquê? Eu estava lá para ti! Eu estive sempre aqui! - gritei, entre soluços.

- Tu estavas a sofrer por causa do Noah. Tu precisavas de mim! - respondeu ele, em sofrimento.

- Não podes comparar! Tu precisavas muito mais de alguém ao teu lado! Precisavas do meu apoio, de palavras de conforto! Como é que eu não me apercebi disto antes? - suspirei, frustrada.

- Eu não queria que me olhassem de forma diferente. Muito menos tu.

- Eu nunca vou olhar para ti de outra forma. Aliás, vou. Olho para ti como o rapaz mais corajoso que conheci! Ryan, deixa-me estar ao teu lado, por favor. Deixa-me ficar - pedi.

- Eu preciso tanto disso Chloe - chorou ele, abraçando-se a mim.

Ficámos naquele abraço profundo durante imenso tempo. Eu não o ia largar agora.

*
Cheguei a casa com o coração despedaçado. Só conseguia pensar no Ryan e sentia uma mágoa que me consumia por completo.

Estou despachado. Vou ter contigo?

Não, Noah. Hoje não.

Porquê? Preciso de falar contigo.

Já disse que não Noah. Eu preciso de estar sozinha.

Estou a caminho de tua casa.

Que pressão, porque é que ele não me dava espaço?

*

- Chloe, o Noah está lá em baixo. Queres que o mande subir? - perguntou a minha mãe, à porta do meu quarto.

- Sim. - respondi, apática, agarrada à minha almofada, encolhida em cima da cama.

- O que se passa Chloe? - perguntou o Noah.

- Nada - respondi, distante.

- Nós temos de falar .

- Diz.

Ele estava sentado no canto da minha cama e eu estava na mesma posição, tentando que ele não visse a minha cara.

- É verdade a história que a Sally me contou? - perguntou, num tom frio.

- Não sei o que ela te contou.

- Não gozes com a minha cara Chloe. Isto vai ser assim? Cada vez que tiver de contracenar com uma mulher tu vais persegui-la até à casa de banho e esmurra-la?! Ameaçar a Sally para sair da peça? Estou desiludido sabes. Não te via tão imatura.

- Foi isso que ela te disse? Muito bem. Se já acabaste o teu discurso, podes sair.

- É só isso que tens para me dizer? - perguntou ele, frustrado.

- A uma pessoa como tu, que prefere acreditar no que uma rapariga qualquer te disse antes de confirmar as coisas comigo? É.

- Mas eu estou a confirmar as coisas contigo!

- Não. Tu já tiraste as tuas próprias conclusões. Sai.

- Chloe, eu vi o lábio dela, vais negar que foste tu a fazer aquilo?!

- Não.

- Então porra!

- Mas vou negar que a persegui. Eu estava sossegada com a Susan na esplanada. Ela é que veio provocar, disse que não tarda te ias cansar de mim porque agora passas mais tempo com ela, e que a propósito disso eu tinha muito bom gosto porque tu beijavas muito bem. Se isto não é justificação suficiente para ti, ou se não acreditas, pergunta à Susan. E eu não a ameacei para ela sair da peça. Nem sequer falei nisso.

- Ela disse isso? - perguntou.

- Disse. Agora se não te importas, sai. Já te tinha dito que queria estar sozinha.

- Que merda Chloe, o que se passa? - gritou, puxando-me o braço e forçando-me a ficar cara a cara com ele.

- Estiveste a chorar? O que aconteceu? Foram os teus pais? O que se passa Chloe? Não chores por favor!

- Não. Dá-me só um abraço, eu já fico bem - respondi, pousando a cara no ombro dele.

- Eu estou aqui - sussurrou, abraçando-me.

Thank you. ChloeOnde histórias criam vida. Descubra agora