Capítulo XI - Bilhete

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Existem coisas que nunca serei capaz de explicar. Não te quero envolver nisto. Tu mereces tudo, Chloe.
Não peço que me entendas. Mas quero que saibas que só te quero ver feliz. Eu sei que vais ser. Eu sei que o mundo tem o melhor guardado para ti.
Não desistas de sonhar. E sorri. Porque onde quer que esteja, levo o teu sorriso comigo.
Sei que quando voltar não vais lá estar. Ou estarás, mas diferente. Sabe que és muito mais do que esperava. Muito mais do que eu merecia.

Adoro-te Cinderela.
Noah.

Já tinham passado três sábados desde aquela noite. Desde a última vez que o vi.

Já não perguntava porquê. Já não queria saber. Doía muito. Doía ainda mais porque não conseguia deixar de ler aquele papel estúpido, que já estava quase ilegível de tanto chorar por cima dele.

Sinto-me enganada, usada. Ele levantou-me bem alto no céu e deixou-me cair sozinha.

- Então, miúda nova, vamos? - a voz de Ryan interrompeu mais um dos meus momentos depressivos.

- Sabes que isso já não faz assim tanto sentido não sabes? Já sou a miúda nova há mais de um mês -tentei sorrir. A verdade é que doía sorrir. Era como se não pudesse, como se fosse um erro, uma infração.

- Chlo. Já falámos sobre esse sorriso! - respondeu.

- Eu sei - murmurei.

- Então a princesa importa-se de se levantar e acompanhar-me? - perguntou meigo, abrindo a porta do carro.

O Ryan tem sido o meu melhor amigo desde que o Noah desapareceu. A Susan também claro, mas ela está a viver uma fase tão boa com o Kevin que eu acabei por me afastar. Ela detesta que o faça, mas eu sei que deprimo todos à minha volta.

Hoje, o Ryan ia comigo a uma das minhas ultimas aulas de condução antes do exame. O código já tinha feito uns meses antes das aulas começarem, então só faltava aprender a conduzir na prática. Já tinha tido quase todas as aulas, e deixei que o meu pai se metesse para acelerar o processo. Eu precisava da carta. Eu precisava de estar sozinha.

Quando chegámos à escola, eu estava cheia de náuseas. Estava ansiosa, e a minha cabeça estava longe dali.

- Tens de parar de pensar nisso Chlo - disse-me o Ryan, enquanto ainda estávamos no carro.

- Ele ainda não apareceu na república pois não? - perguntei.

- Não. Mas pelo que ele me disse quando decidiu ir embora, estará cá na próxima semana, no máximo, na outra.

- Será que ele está na casa dele? Podias levar-me lá Ryan - supliquei, com as lágrimas a formarem-se nos meus olhos.

- Chlo... ele não está em casa. Ele não está aqui. E é só isso que te posso dizer. Eu não te quero ver nesse estado. Levanta-te daí e mostra à instrutora que nasceste para isto! - disse, empurrando-me para fora do carro.
- Logo à noite vamos a algum lado? - perguntei - Não quero estar sozinha.

- Claro que vamos. Eu não te vou deixar sozinha.

*

Eu sei que o Ryan prometeu ao Noah que tomava conta de mim. No início isso irritou-me. Cheguei a tratar mal o Ryan. Não precisava de ninguém a tomar conta de mim. Eu estava bem. Eu não gostava assim tanto do Noah. Nem o conhecia assim tão bem.

Era pelo menos isto que pensava. Nos dias seguintes, percebi que estava completamente errada. Eu estava apaixonada pelo Noah. Eu não conseguia pensar em mais nada. Eu não conseguia comer, eu não conseguia dormir, eu não me conseguia concentrar em nada. E quando ficava sozinha doía demais, como se me abrissem a meio e tirassem tudo de dentro de mim. Sentia-me vazia. Sozinha.

Tentei falar com a minha mãe. Mas a única coisa que conseguia era começar a chorar. Ela ficava aflita. Eu não conseguia explicar porquê.

Com o tempo e muito graças ao Ryan, foi acalmando. Comecei a chorar menos, comecei a concentrar-me mais, voltei a comer. A dor, essa, não foi embora. Acomodou-se algures, era como se fizesse parte de mim, parte de quem eu sou.

*

À noite fomos ao Lotus. Estávamos quase em Novembro, o frio era cada vez mais intenso.
Entrámos no café, e a Susan veio a correr na minha direcção.

- Chloe! - gritou, enquanto me dava um abraço forte.

Correspondi e disfrutei daquele abraço, que precisava tanto. Quando me afastei, ela também tinha os olhos inundados de lágrimas.

- Eu não vou falar nisto Chloe. Mas quero que saibas que estou aqui para tudo - sussurou, enquanto limpava as minhas lágrimas.

- Eu sei Susan. Obrigada - respondi com um meio sorriso.

Seguimos as duas para a mesa onde estava o Kevin e já se tinha sentado também o Ryan.

Ficámos lá até tarde, apesar de ser dia de semana. Eu sei que eles estavam cansados, que só estavam a fazer aquilo por mim. Eram os melhores amigos que eu podia pedir.

*

- Chloe, não estou a entender nada de Zoologia. Achas que na sexta podes passar em minha casa e ajudar-me? - perguntou-me a Susan no dia seguinte, depois das aulas.

-Claro. Se tudo correr bem, já tenho a carta nesse dia, até vou no Pajero da minha mãe - sorri.

- Pois é, o teu exame é já amanhã! Sentes-te segura a conduzir aquele jipe? É enorme! - exclamou ela.

- Pois é. Mas até ter carro vai ter de ser - respondi.

*

Cheguei a casa, entrei no quarto e fui directamente para a banheira. Liguei o chuveiro, pendurei-o na parede, sentei-me no chão da banheira enquanto a água escorria pelo meu corpo e fechei os olhos.

O teu sorriso, a tua inocência, a tua visão das coisas. Tu és muito diferente. És tudo o que eu precisava agora.

As palavras do Noah na última noite chocavam com tudo o que ele me estava a fazer agora. Eu só queria uma justificação, um motivo. Qualquer coisa, sem fugas, sem desculpas, sem omissões. Eu merecia isso.

*

Thank you. ChloeOnde histórias criam vida. Descubra agora