Eram perto das duas da manhã quando o Noah me deixou em casa.
Foi uma noite mágica, e eu não queria nada ter de dizer adeus.
Acho que estava com medo que no dia seguinte as coisas mudassem, ou que tudo não tivesse passado de um sonho bom.
O Noah parou o carro à porta de minha casa e ficou a olhar para mim.
- Não quero ir - disse, enquanto ele me agarrava a mão.
- Porquê? - perguntou.
- Porque tenho medo que cumpras o que disseste, e que amanhã ou segunda volte tudo ao mesmo. - respondi.
Ele apertou a minha mão com mais força.
- Isso não vai acontecer Chloe. Eu não vou voltar a ser desagradável contigo - garantiu-me.
- Prometes? - perguntei, esticando-lhe o meu dedo mindinho.
- Prometo Cinderela - sorriu, entrelaçando o dedo mindinho dele ao meu.
Saiu do carro e veio até ao meu lado, abrindo-me a porta.
- Estás entregue - disse, enquanto me ajudava a sair do carro.
- Boa noite Noah - despedi-me, enquanto me dirigia para o portão.
Ele puxou o meu braço, fazendo com que quase chocasse com o seu peito.
- Não será de certeza, sem um beijo de boa noite - sussurrou, enquanto apoiava a mão na minha cara e aproximava a boca da minha.
Foi um beijo demorado, sem pressas, sem urgências. Como se tudo à nossa volta tivesse deixado de existir e só fossemos só os dois.
Quando se afastou de mim, olhou-me com aqueles olhos cor de avelã que faziam arrepiar cada centímetro do meu corpo.
- Dorme bem Cinderela - voltou a sussurar, enquanto me fazia festinhas na cara.
Entrou dentro do carro e abriu a janela.
- Vemo-nos amanhã? - perguntou sorridente.
- Como, se nem tenho o teu número? - ri.
- Eu encontro-te - respondeu, piscando-me o olho.
Aguardou que entrasse em casa e ouvi o carro afastar-se.
Fui à dispensa, peguei num pacote de bolachas de chocolate que a minha mãe não se esqueceu de comprar e segui para o quarto.
Pousei a mala no bengaleiro que tinha à entrada e atirei-me de costas para a cama. Abri o pacote de bolachas e recordei cada palavra, cada gesto e cada sensação desta noite.
Foi a melhor noite da minha vida.
*
Acordei em sobressalto. O meu pai estava sentado aos pés da minha cama, a olhar fixamente para mim.
- Pai? Credo! - gritei, enquanto esfregava os olhos.
- Desculpa, não te queria acordar - disse ele.
- Tudo bem, não faz mal. Que horas são? - perguntei, sentando-me na cama.
- Perto das três - respondeu, consultando o relógio.
- Então e não me acordaram para almoçar?
- A tua mãe teve uma emergência no salão. Acho que uma noiva em pânico. - sorriu.
- Hum.
- E também te quis deixar descansar. Chloe, eu...
- Pai, a sério, não me apetece mesmo falar sobre isso - respondi, antevendo que ele iria falar do almoço do dia anterior.
- Tudo bem. Só te quero dizer que tens razão, eu ando demasiado ausente. Não tinha consciência de como isto te estava a afectar. A ti e à tua mãe, claro. Mas entende que estou com muita responsabilidade em cima. Com o tempo as coisas vão acalmar. E estava a pensar em ter um dia de pai e filha contigo hoje! - disse, num tom sugestivo.
- Um dia de pai e filha? E o que tens em mente?
- Vamos à pesca! - respondeu, num tom decidido.
Desatei-me a rir.
- À pesca pai? Nós vivemos no interior, o mar é a milhares de quilómetros daqui! E não pescamos desde os meus sete anos, já nem sei como se faz!
- Mas há um rio relativamente perto! E é como andar de bicicleta, nunca se desaprende!
- Pai, sabes bem a teoria da mãe sobre cozinhar peixes de rio.
- Mas quem é que falou em cozinhar? Devolvemo-los ao rio de novo. É pesca desportiva! - riu.
- É um bocado sádico para os peixes pai. - censurei.
- Veste-te e come qualquer coisa! Eu vou buscar as canas e os coletes à garagem! - e saiu animado do quarto.
Ok. Pesca. Vamos lá a isso.
Comi o resto das bolachas e fui vestir-me.
*
- Pai, este barco não me parece nada seguro - reclamei, enquanto ele remava arduamente para o centro do rio e o barco abanava por todo o lado, deixando entrar água.
- Não quero que o nosso dia seja cheio de luxos. Um barco a remos é mais que suficiente.
Ele estava a fazer um esforço e resolvi não protestar mais. A verdade é que o barco que ele alugou era de uma madeira duvidosa, e apesar de estar sol, não estava calor, e não me apetecia nada ir parar à água.
Ele estava tão engraçado, parecia um turista. Calções brancos com flores havaianas verdes e uma camisa do mesmo tom verde. Pôs um chapéu típico de um pescador, com uma imitação de um anzol de lado. Isto associado ao esforço dele a remar era uma das imagens mais cómicas que tenho do meu pai.
- Pronto, este sítio é perfeito. Preparada? - perguntou entusiasmado.
-Sempre!
Lançámos as canas, prendemo-las no barco e aguardamos.
- Chloe?
- Sim pai?
- Não tenho sido um bom pai pois não?
- Oh pai. Tu és um bom pai. Aliás, és o meu pai, o melhor do mundo. Só andas demasiado ausente e isso magoa-me. Sinto a tua falta.
- Desculpa Chloe. A última coisa que quero é desiludir-te. És muito importante para mim!
- Eu sei pai. Adoro-te. Sabes disso certo? - sorri.
Ele aproximou-se de mim e deu-me um abraço apertado. Soube tão bem ter o meu pai de volta, sentir aquele carinho que não tinha há demasiado tempo, nem que fosse apenas por umas horas.
- Chloe! - exclamou.
- O que foi? - respondi assustada
- A tua cana! Está a mexer! É um peixe, e pela força deve ser dos grandes!
Corremos os dois para a cana e a custo tentamos puxar. O barco balançava cada vez mais a cada tentativa de trazermos o peixe, era teimoso e forçava a linha no sentido oposto. De repente, sem estarmos à espera, a cana deu um puxão valente, o barco virou, e quando demos por nós, estávamos dentro de água.
Ficámos uns segundos a olhar um para o outro e desatamos a rir.
- Grande peixe hum? - ironizou ele entre risos.
Ajudei-o a virar o barco, nadámos para apanhar os remos e subimos para o barco.
- Pai, definitivamente nós não temos jeito nenhum para isto - gozei.
- É, concordo contigo. Vamos voltar para terra. Trocamos de roupa em casa e depois vamos comer qualquer coisa! - riu.
Era bom ouvir o meu pai rir. Principalmente, era bom estar com ele sem sermos interrompidos pelo telemóvel dele, sem as conversas aborrecidas dele sobre a empresa.
Era bom quando ele deixava de ser o Dr. Smith e se dedicava a ser só o meu pai.
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Thank you. Chloe
RomanceChloe - Uma rapariga ruiva, inocente, feliz. A vida pregou-lhe várias partidas que ninguém deveria viver, mas ele estará sempre ao lado dela. Certo?