Capítulo XXXVIII - Ilusões

53 3 2
                                    

A viagem foi muito boa para mim, mas foi excepcionalmente boa para a minha mãe. Vinha renovada, feliz, cheia de projectos e novos sonhos.

- E também estava a pensar em associar uma biblioteca ao cabeleireiro, uma sala de chá. Já viste o inovador que era? Entre, relaxe, leia e deixe-nos tratar de si! É perfeito Chloe! - desde que saímos do SPA do hotel que ela falava nesta teoria. Adoro esta mulher!

- Sim, mãe, parece-me arrojado, mas é capaz de resultar! Eu ajudo-te, vamos ver o que dá! - sorri.

Estavamos a chegar a casa. Depois de dois dias tão bons, tão relaxantes e que me aproximaram ainda mais da minha mãe, eu só queria pousar as coisas e correr para os braços do meu Noah.

- Não vais arrumar pelo menos as coisas, Chloe? - perguntou a minha mãe, vendo-me procurar as chaves de casa na mala.

- Não mãe, arrumo quando voltar.

- E nem vais almoçar?

- Não mãe. Vou ver o Noah!

- Ai, o amor. Vai lá então. Eu hoje vou ficar por casa.

- Tudo bem, mãe, até logo!

Só queria vê-lo, dar-lhe um abraço, dizer-lhe o quanto o amo e o quanto vamos ser felizes. Ele é, definitivamente, o homem da minha vida, e estar sem ele fez-me perceber exactamente isso.

Passei por casa da Eleanor, mas o carro dele não estava lá, então segui até à república.

- Burra, devias ter passado primeiro na república que era mais perto - pensei para mim.

Estacionei o carro à porta, atrás do dele. A República tinha finalmente sido remodelada, estava muito mais bonita, mais moderna, e principalmente, mais segura. O problema era descobrir onde é que era o quarto dele, já que ainda não tinha entrado lá desde que as remodelações tinham acontecido.

Podia ligar-lhe, mas queria fazer-lhe uma surpresa, ele ia ficar feliz e eu só queria aninhar-me no colo dele.

Bati à porta, e o rapaz tímido que recebeu os nossos convites na festa do primeiro semestre abriu-a.


- Chloe?! - ele sabia o meu nome. Uau.

- Sim... O Noah está?

- Está... - raio do miúdo era mesmo estranho.

- E podes dizer-me onde é que é o quarto dele? - perguntei.

- Sobes as escadas até ao primeiro andar, é a terceira porta à direita. Mas ele sabe que estás cá? - perguntou ele.

- Ele é meu namorado. É suposto anunciar cada vez que venho ter com ele? - ironizei. A atitude dele incomodava-me, sempre tão esquisito e tão alienado.


Subi as escadas, como ele me disse, contei as portas, e abri devagarinho a porta, temendo acordá-lo.

O cenário com que me deparei não fugia muito ao que imaginava. Ele estava a dormir, de facto. Mas não estava sozinho.

Lágrimas transbordaram dos meus olhos enquanto o vi deitado de barriga para cima, com o peito à mostra, adormecido. A Amber deitada no peito dele, sem qualquer roupa, apenas com a cintura tapada. Fiquei estática a olhar para aquilo, à porta do quarto, chorando em silêncio.

- Chloe? - O Ryan atravessava o corredor e viu-me ali, congelada.

Olhou para dentro do quarto e depois para mim.

- Oh, Chloe - lamentou ele, agarrando-me.

- Não! Larga-me. Larga-me! - gritei. Ouvi a voz do Noah enquanto descia as escadas a correr.

- Chloe? Amber? Chloe, espera!

Não esperei. Não quis saber. Não quero ouvir. O Noah estragou tudo. Eu nunca pensei que ele fosse capaz. Como é que fui tão burra? Tanta mágoa, tanta coisa por resolver, só podia dar nisto. Como a Amber disse, bastava olhar para mim para perceber que ele a iria desejar sempre.

Fui idiota em acreditar que era para sempre. Não existem finais felizes. Não existem "para sempre"s. Só existia a minha veia de sonhos, que herdei da minha mãe. Arranquei a aliança do dedo e mandei-a contra a porta da República e entrei no carro.


*


- Já de volta Chloe? Porque estás a chorar? O que é que aconteceu?

Contei-lhe o que tinha acabado de ver. Ela chorou comigo. Depois, tomei a minha decisão. Ela concordou, ainda que lhe custasse.

Fui até ao quarto. Procurei uma caneta e arranquei uma folha do caderno.

Escrevi até a mão me doer.

Apertei o pulso e apercebi-me da pulseira que o Noah me deu. Tirei-a e deixei-a em cima da minha secretária.

Olhei em volta, para cada pormenor do meu quarto.

Era a última vez que iria olhar para ele.


Thank you. ChloeOnde histórias criam vida. Descubra agora