Capítulo X - Eleanor

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- Noah -

Chloe...

Só conseguia pensar nela.

Naquele cabelo laranja aos caracóis que cheirava a mar.

No que senti quando juntei os meus lábios aos dela.

Na pele suave que toquei, enquanto lhe fazia festas na cara.

O sorriso inocente dela.

Aquele olhar que ela me fazia sempre antes de entrar em casa.

As sensações tão boas que ela transmite.

Não é só físico, como tudo o que tenho vivido de há dois anos para cá. Com ela nunca foi.

Tive medo, quando choquei com ela.

Eu sabia que não era ela. Não podia ser.

Mas são tão parecidas que achei que só podia ser uma coisa má.

Com o tempo, descobri que só eram parecidas fisicamente e que, de resto, eram o oposto uma da outra.

Na aula fantasma ela portou-se bem. Ela teria saído dali a correr à procura da atenção de algum rapaz que passasse.

Aliás, era isso que esperava que a Chloe fizesse.

Mas ela aguentou firme, focada e determinada com os seus objetivos.

Foi aqui que comecei a sentir algo diferente.

Tentei bloquear, tentei irrita-la para que ela me tratasse mal, para que ela se revelasse e eu percebesse que não havia nada de bom nela.

Mas ela sempre manteve a postura.
Sempre falou com respeito. Doía-lhe que eu a tratasse assim, eu via isso. Ela era diferente, porque era humana, era genuína, tinha princípios e era fiel a eles. E isso só foi fazendo com que me fosse apaixonando cada vez mais por ela.

Claro que a desejo, ela é uma mulher lindíssima, atraente, sedutora no seu jeito inocente de agir.

Mas não tinha pressas. Cada toque, cada beijo, cada conversa, cada evolução era uma conquista.

As memórias daquela noite assombravam-me. As palavras dela ecoavam na minha cabeça.

Gosto muito de ti Noah

Como é que eu deixei que isto acontecesse?

Não pode ser. Outra vez não. Eu não podia. A minha vida não o permitia.

Demasiadas explicações, demasiadas feridas teriam de ser abertas de novo e eu não podia.

O meu coração não podia mais.

Eu jurei a mim mesmo que não ia deixar que isto acontecesse de novo. Jurei que mulher nenhuma iria fazer parte da minha vida. Mulher nenhuma sem ser Eleanor.

Mas a Chloe. A Chloe não é uma mulher qualquer. É uma lembrança de tudo o que foi mau, mas uma possibilidade do que pode vir a ser perfeito.

Revolta-me gostar assim de alguém.

Acordar e ter a imagem dela na minha cabeça, aquele sorriso enorme dela que contagia todos os que a rodeiam.

Tomar banho e perguntar-me o que estará ela a fazer.

Almoçar e perguntar-me será que ela gosta desta comida?

Ver uma série na TV e questionar-me quais os géneros que ela mais gosta.

Recordar a sensação de a ter junto a mim, no meu peito, o tom de voz dela, a forma como ela diz o meu nome.

O olhar dela, aqueles olhos negros que me sugam e fazem com que deixe de existir mais alguma coisa à minha volta.

O cheiro do cabelo dela, o cheiro da pele dela. Eu queria-a sempre do meu lado.

Eu tinha de a proteger, não podia deixar que ninguém lhe fizesse mal. Ela era minha, de uma maneira segura, que eu não sabia bem explicar. Eu não suportava a ideia de alguém a fazer sofrer.

Mesmo que esse alguém fosse eu.

Chloe...

O nome dela repetia-se na minha cabeça e eu era invadido por uma tristeza arrebatadora.

Eu sei que lhe prometi. Eu sei que ela não merece. Mas eu não posso. Mais tarde ou mais cedo iria acontecer, eu ia magoa-la.

Suponho que a esta hora ela me odeie. Há duas semanas que não apareço na univ.

Deixei-lhe um bilhete, entreguei-o ao Ryan, não sei se ela leu.

Despedi-me antes sem ela saber.

Vi-a chegar com o pai a casa, todos molhados e divertidos. Era bom vê-la feliz. Era bom saber que ela estava bem. Era bom saber que continuaria a haver uma figura masculina na vida dela que a fizesse sentir protegida e segura.

Se bem que essa figura, o pai dela... eu conhecia-o. Só não consigo relacionar com nada neste momento.

Magoei-a antes de ela ter tempo de ver o que realmente sou. E foi melhor assim.

Porque é exactamente isto que eu sou. Eu acabo sempre a magoar as pessoas que amo, a afasta-las de mim. A Chloe foi a única que afastei por proteção. A única a quem dei esse valor. E nem ela consegue mudar isso.

- Noah... - ouvi o sussuro de Eleanor, debilitada na cama.

- Sim, estou aqui. Vou estar sempre aqui - dei-lhe a mão, enquanto uma lágrima escorria da minha cara.

- Vamos? Está a ficar tarde - suplicou, em sofrimento.

- Vamos. Não tenhas medo. Eu vou estar sempre aqui.

Thank you. ChloeOnde histórias criam vida. Descubra agora