Capítulo 1 - A aluna de Hogwarts

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Queridos,

Vocês me permitem conversar com vocês por esta carta? Preciso de algo que me ajude, vocês sabem como eu gosto de escrever. Se não for assim, não vou conseguir.

Como começar? Já fiz tantas tentativas, tantas que nem tenho coragem de contar. Se fizer isso vou desanimar, e não posso, nem devo.

Acho que devo começar me desculpando. Um pouco por ter sumido e preocupado vocês, um pouco pelas ideias insensatas que atravessaram minha mente. Mas não vou me desculpar pelas decisões que tomei, e por isso conto com todo seu amor para que tentem me entender, mesmo não aceitando.

Eu sou a pessoa a quem todos recorrem quando precisam entender os fatos, que sabe encadeá-los em uma ordem lógica, desvendar os intrincados fios que os ligam e aos quais se subordinam, chegando a resultados exatos e irrefutáveis. 

Mas por melhor que eu seja nisso, não consigo usar essa qualidade para explicar o que aconteceu com a minha vida. Talvez porque não tenha muita explicação lógica, por mais que eu resista a admitir isso. É algo que precisa ser sentido.

Eu optei por abrir o meu coração para vocês e me mostrar em um nível em que não tive coragem de fazer nem para mim mesma até hoje. É um gesto desesperado, mas é o único que consigo pensar. Me desculpem se os magoo, ou se não atendo às suas expectativas. Essa sou eu, peço que compreendam. Não posso fazer diferente. Não mais.

Depois dos últimos acontecimentos, em que todos fomos novamente testados de formas que há muito tempo não experimentávamos, algo aconteceu. Um significado repentino, invasivo e irrefreável irrompeu diante dos meus olhos. De repente, tudo fez sentido, como quando descobrimos a solução de uma ilusão de ótica e nunca mais conseguimos olhar a antiga imagem da forma como a víamos antes.

Como reagir diante disso? Não sei, não consigo explicar, queria apenas que entendessem como me sinto. Será que conseguem se colocar no meu lugar? Eu, Hermione Granger, que fiz uma planilha para definir quando iria me casar, concluir meu doutorado, engravidar, me tornar Ministra da Magia? Eu fui vencida, e estou resignada a viver  submissa a experiência da derrota. Estou abatida aos pés do vencedor, e nada me resta a não ser aceitar o destino.

Eu fui vencida por algo contra o que sempre lutei: contra o ambíguo, a confusão, o descontrole, a fraqueza, a submissão à paixão. Lutei com tudo que tinha ao meu alcance, como uma autêntica gifinória. Lutei, mesmo avaliando que as minhas chances eram mínimas, como a criança que está no mar e sente que não consegue encostar mais o pé no chão, ao mesmo tempo que vê a onda se avolumando lenta e inexorável na sua direção, e ainda assim se debate, luta para não ser tragada e submersa. Ela sabe que é uma questão de tempo até ser engolida, mesmo assim não quer admitir, e esses pensamentos a fazem demorar o suficiente para não conseguir mais sair e voltar para um lugar mais raso, conhecido, em que possa respirar. Quando a onda chegou foi pior do que tudo o que eu previ, do que eu achava que sabia.

Eu sabia racionalmente o que ia acontecer mas não consegui me mover, me libertar, como se estivesse presa num feitiço Petrificus Totalus, e percebi que lutar contra isso significaria a minha morte, ao mesmo tempo que me entregar traria a minha redenção. E eu já havia lutado tempo demais.

Eu fui tragada e submersa. Pensei que não fosse mais voltar. Eu desejei, me perdoem, nunca mais voltar. Sei também que nunca mais vou voltar completamente, como a pequena sereia que fez um pacto para poder andar na terra - só que no meu caso é o contrário, mergulhei no mar mais profundo, fiz um pacto de renascimento e adquiri uma natureza marinha. Agora, não sou mais capaz de andar em terra firme, preciso do oceano para continuar respirando.

Wannabee | dramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora