Capítulo 19 - O aspirante

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Sei que é difícil entender racionalmente minha relação com Draco. Eu mesma nunca consegui compreender, apenas reagi aos meus sentimentos. Sempre temi as acusações de ser uma traidora por me sentir assim.

Era o que pensava: que esses sentimentos me tornavam uma traidora de Harry, de Rony, dos Weasley, da Ordem, de Dumbledore e de tudo pelo que estávamos lutando.

Muitas vezes, fui intolerante com Harry e Rony, apontando o dedo acusador, mas meus amigos podem estar certos de que o julgamento mais rígido foi o que fiz comigo mesma. O que sentia estava além da minha capacidade de compreensão.

Eu buscava entender meus sentimentos tentando compreender a dor de Draco. Uma criança amada pela família, com certeza, mesmo que numa forma doentia de amor, vindo de uma infância em que foi tratado com frieza intercalada com indulgência excessiva, ensinado a ser preconceituoso e a desprezar aqueles não tão favorecidos como ele. Tudo isso me ajudou a entender quem era Draco Malfoy.

E agora, depois de tudo que aconteceu, ele experimentava um tipo de abuso ainda não conhecido e que viria a estraçalhar a redoma em que estava até então, passando a viver como um Comensal da Morte e partilhar o círculo íntimo de Voldemort.

Uma coisa é desejar a morte de alguém, de uma forma fantasiosa e infantil. Outra, é ver sua professora ser lentamente esmagada por uma cobra na sua frente, ouvindo o barulho dos ossos quebrando e o sufocamento, tendo como companhia o terror de que o mesmo iria acontecer com seus pais.

Draco teve que aprender a sobreviver, uma habilidade que um garoto privilegiado como ele desconhecia. A cada dia precisava fazer algo pior para não morrer, para merecer cada hora de vida, enquanto era usado de maneiras que nunca imaginou existir, para as coisas mais sórdidas. Uma vida de mimos e caprichos atendidos não o preparou para isso, diferente de Harry, que foi criado num ambiente de privações que o fortaleceu.

Eu não estou tentando justificar o que Draco fez. Mas eu sinto como ele se sente, eu o compreendo e aceito, e, por mais que vocês não entendam, eu o perdoo.

É assim que me sinto hoje, mas não era assim que me sentia naquele verão desolador em que Dumbledore morreu. Naquele momento, havia acabado de enterrar Draco simbolicamente, e vivia em segredo um luto angustiante, tentando não submergir na tristeza. Mas tinha uma tarefa importante pela frente: ajudar Harry a vencer Voldemort, e isso me fazia continuar a viver.


A decisão de acompanhar Harry na busca e destruição das Horcruxes sempre foi maior do que Rony e eu. Era como se estivéssemos caminhando nessa direção desde o momento em que nos conhecemos, e não fizesse sentido tomar outro rumo.

Harry relutava, mas nossa decisão o transcendia também - não havia como nos impedir de estar junto com ele. Era uma missão para nós três.

O casamento de Gui e Fleur foi uma despedida de uma vida normal e conhecida. Depois dele, embarcaríamos em uma viagem sem rumo certo.

Harry manteve a promessa feita a Dumbledore de não contar a ninguém sobre as Horcruxes, nem mesmo para Gina. Os únicos que sabiam éramos eu e Rony, e partiríamos em breve com ele.

Todos pareciam aceitar essa limitação e respeitar nossa decisão de viajar, mas com a Sra. Weasley foi um pouco mais difícil. Ela tentava nos manter ocupados, achando que assim não teríamos tempo de planejar nossa partida.

Ela não contava com a minha capacidade de planejamento, que estava melhor do que nunca, ainda mais depois que decidi que essa missão seria o objetivo da minha vida dali para frente.

Já havia organizado toda a bagagem necessária para a viagem numa pequena bolsa encantada com um Feitiço Indetectável de Extensão. Poderíamos partir a qualquer momento.

Wannabee | dramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora