Capítulo 31 - Conversando sério

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Ele se deixou cair exausto ao meu lado, e por alguns momentos ficamos assim, olhando para o teto. A Lua Cheia de Peixes estava alta, iluminando o mar grego, e sua luz parecia ser mais forte do que a do abajur. A voz de Draco pronunciando meu nome e dizendo que me amava ecoava na minha cabeça, como um mantra sagrado.

Estávamos sobre a coberta amassada e comecei a sentir sua textura, era um tecido meio brilhante e incomodava um pouco. Não tinha nada para me cobrir, e pensei que seria bom ter alguma coisa para me proteger da intensidade do olhar de Draco, ainda que um lençol fosse um escudo um pouco frágil.

- Tá tudo bem, Granger?

Tínhamos transado apenas duas vezes, mas identifiquei um padrão: Hermione era um nome apenas para ser dito durante o sexo, quando Draco se permitia ficar vulnerável, aberto para mim. Ele iria continuar a me chamar de Granger, por mais intimidade que tivéssemos. E jamais me chamaria de Weasley.

- Sim, tudo bem... é essa colcha, ela pinica... vamos tirar?

Ele se levantou e começou a tirar a colcha. Pela Deusa, o seu corpo era lindo, e eu poderia passar o resto da minha vida apenas olhando pra ele. Me levantei para ajudar, mas senti a fraqueza de novo, e sentei.

Ele se preocupou, disse que eu não estava bem no restaurante, e me acomodou na cama, convocando a água e as frutas e insistindo que eu comesse. Comecei a mordiscar a maçã verde, que eu sempre o observava comer na escola. Ele me serviu um copo de água.

- Você viu a Lua Cheia de Deméter, Granger? Como está bonita? Amanhã, durante o primeiro ritual, o aspecto estará exato.

Concordei, sem me espantar por ele conhecer a configuração astrológica dos Mistérios de Elêusis.

- Apaga a luz pra gente deixar o quarto iluminado só por ela - pedi.

Ele fez um gesto com a varinha para desligar o abajur, e me olhou sorridente, feliz com o efeito. Parecíamos um casal de namorados, com uma intimidade insuspeitada para a nossa segunda vez, a primeira em uma cama de verdade. De repente, ele ficou sério.

- O que foi? - Perguntei.

- Lembrei da nossa primeira vez, na Torre de Astronomia... era Quarto Crescente, mas a Lua estava tão iluminada como se estivesse cheia.

Ele cobriu distraído a Marca com a mão direita, acariciando-a levemente, como se quisesse apagá-la e às memórias que ela lhe trazia.

- Granger... eu queria te pedir perdão.

Fiquei em silêncio, olhando para ele.

- Você não precisa me perdoar, mas eu tenho que pedir... Não pelo que eu fiz como Comensal, pelos crimes que eu já paguei. Eu queria que você me perdoasse por ter te chamado de sangue ruim quando tínhamos doze anos, e por você ter sofrido com isso.

Minhas lágrimas escorriam. Lembrei de Severo e Lílian.

- Hoje eu consigo ver, antes não. Eu vivia na sombra do meu pai, sufocado pelos preconceitos da minha família de "sangue puro". Eu nunca tinha parado para pensar o quanto isso é sem sentido, não tinha coragem de questionar essa bobagem. Eu mudei, Granger, não sou mais assim.

Eu continuava ouvindo, atenta.

- Sabe o Scorpio? Eu e... a mãe dele... nós ensinamos ele assim, que fazer diferença no tratamento de bruxos pela pureza de sangue é errado.

- Puxa, o seu pai não deve gostar nada disso. - Não resisti e comentei. Ele riu.

- Não gosta mesmo. Já tivemos algumas brigas por isso. Mas a educação do meu filho é um problema meu e da mãe dele, não admito interferências dele ou da minha mãe.

Wannabee | dramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora