Capítulo 37 - Autoconhecimento

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- Rony, eu quero a separação.

Estávamos sentados na cozinha da casa vazia de filhos, cada um segurando sua xícara de chá. Ele me olhou intrigado, como se tivesse dito algo na linguagem das cobras.

- O quê? Mas... como assim? A gente não vai renovar os nossos votos?

Rony foi entendendo aos poucos o que eu estava dizendo. Sempre apreciei a organização como um valor maior, mas o que estava propondo agora era um enorme tsunami na nossa vida tão bem alinhada, que caminhava para a cena dos dois velhinhos de mãos dadas na varanda. Não havia varanda, nem casa, nem velhinhos. Não havia mais Rony e Hermione, pois eu queria a separação.

Quando Rony entendeu o que estava acontecendo, e viu que era sério, quis saber por quê. Eu contei para ele a minha experiência, os sentimentos que aquilo que vivemos em Godric's Hollow despertou em mim. Que havia visto o quanto estava insatisfeita, e que não queria mais viver assim. Ele me olhava boquiaberto, sem acreditar.

- Rony, você é o melhor pai do mundo... eu não quero que as crianças sofram, não mais do que o necessário. A gente precisa se entender para fazer as coisas da melhor forma pra elas.

- Como elas não vão sofrer? Você tá querendo acabar com a nossa família, Hermione.

- Rony, é desonesto a gente continuar casados assim, não é isso que eu quero ensinar pra eles. Não está mais dando certo, não está bom pra nenhum de nós.

- Fale por você, Hermione. Eu amo a minha vida, minha casa, meus filhos. Eu amo você!

- Rony, eu sempre vou te amar, você é o pai dos meus filhos. Mas não assim, como homem, como um casal. Nosso casamento acabou faz tempo, e quando as crianças foram pra Hogwarts, não deu mais pra disfarçar. A gente nem se encosta mais, pela Deusa!

- Você só trabalha, Hermione. Não tem tempo pra mim, e mal tem tempo pras crianças.

- Eu amo meus filhos, Rony, e sempre estive presente quando eles precisaram de mim. Eu não quero brigar com você por causa disso, eu preciso que você compreenda que nosso casamento acabou pra mim. Não posso continuar, você não vê? Como eu vou fingir pra você? Eu não quero ser desonesta.

Ele abaixou a cabeça, desolado. O peso do que estava falando ia tomando conta dele, e quanto mais ele entendia, mais afundava na cadeira.

- Eu concordo que o meu trabalho atrapalhou nossa vida. Eu não estou feliz com ele, Rony. Quero sair do Ministério.

Ele me olhou como se eu tivesse enlouquecido.

- Mas como?... Você sempre quis...

- Será que eu quis, Rony? As pessoas diziam que eu era capaz, Harry dizia que precisava da minha ajuda, e eu fui me deixando levar pelo prazer do desafio, você sabe como eu sou competitiva. Eu traduzi os Contos, Rony! O que eu fiz com isso depois? Eu poderia ter escrito livros infantis, feito outras traduções, sei lá. Mas eu fui seguindo em frente, no automático. Eu não posso mais, Rony, não depois de tudo que a gente viveu em Godric's Hollow. A vida merece que a gente esteja à altura dela.

Ele não respondeu. Eu quase ouvia seu cérebro tentando raciocinar em busca de uma saída, ou tentando acordar de um pesadelo.

- Eu quero que você fique aqui, Rony. Eu sei o quanto essa casa é importante pra você, é a base para os nossos filhos também. Eu vou sair, vou pra casa dos meus pais. Pelo menos por enquanto, depois eu me organizo melhor.

Observar-me fazer algo que não estava milimetricamente planejado talvez fosse o que mais estivesse assustando Rony.

- E o que você vai fazer... depois?

Wannabee | dramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora