Capítulo 12 - A discípula encontra o mestre

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No dia seguinte, meu humor estava sombrio. Agradeci aos céus por não ter aula com os garotos pela manhã, e principalmente por não ter nenhuma aula com a Sonserina. Corri para a biblioteca, alegando que precisava de absoluta concentração para fazer uma tradução de runas antigas. Harry e Rony tinham tantas tarefas atrasadas para fazer que nem perguntaram muito.

Eu me sentia naquele ponto além do sofrimento, quando alguém constata que nem vale a pena chorar. Esse ano tinha começado estranho e triste, e eu não estava aguentando mais carregar esse sentimento opressor sozinha. Eu poderia tricotar quilômetros de lã e não me sentiria melhor.

O ambiente em Hogwarts não ajudava. Umbridge fez sua primeira vítima entre os professores, e demitiu Trelawney do cargo de professora de Adivinhação. Foi um episódio constrangedor e humilhante. A professora chorava ao lado de suas malas, jogadas no chão do pátio, sob os olhares assustados dos alunos, o que parecia não afetar Umbridge, que respondia com seu melhor sorriso hipócrita.

Dumbledore teve que intervir para que a professora Trelawney continuasse no castelo, caso contrário ela não teria para onde ir. Foi um episódio degradante, e mesmo não gostando dela, senti pena. Naquele momento, eu não poderia imaginar os efeitos que a demissão da professora Trelawney teriam em minha vida.

O novo professor indicado para o cargo por Dumbledore desagradou Umbridge e empolgou os alunos na mesma medida. Parvati estava animadíssima, e pensei comigo: bruxo morto, bruxo posto. Para seu horror, disse a ela que não gostava muito de cavalos. Ela e Lilá suspiravam apaixonadas pelo novo professor, que diziam ser lindo.

Para não ser injusta com elas, contaram que se preocuparam em fazer uma visita à Trelawney, que estava inconsolável. De qualquer forma, essa história ainda não ia acabar bem, pois Umbridge não engoliria passivamente a indicação de Dumbledore, e ela estava com um centauro atravessado na garganta.

Harry e Rony ficaram bem impressionados com a primeira aula do professor Firenze. Ele era, sem dúvida, muito diferente da charlatona da Trelawney, e pelo que pude perceber tinha uma abordagem mais filosófica da Magia Antiga. Os centauros eram reconhecidos mestres na leitura dos astros. Confesso que fiquei curiosa para conhecê-lo, mas não admiti. Não queria dar o braço a torcer, muito menos que os garotos suspeitassem que eu me interessava mais por Magia Antiga do que deixava transparecer.

Minha oportunidade chegou graças às tarefas da monitoria. Robins estava fora por alguns dias para visitar a avó doente, e Fawley me encarregou de procurar o professor Firenze para dar a ele as boas vindas em nome da equipe de monitoria, uma vez que estava na enfermaria por ter sofrido um acidente no treino de quadribol e só poderia encontrar o professor pessoalmente em alguns dias, quando tivesse alta. Ele pediu para que eu verificasse se o professor precisava de algo que pudéssemos ajudar, e que manifestasse a ele as boas vindas em nome dos monitores.

O fato de Fawley ter me escolhido para essa missão diplomática de boas vindas, apesar de eu ser uma jovem monitora do quinto ano, não era casual. Eu costumava me destacar na monitoria assim como nas aulas, e pensava que, no futuro, teria boas chances de ser indicada para monitora-chefe no sétimo ano. Se eu soubesse como seria o meu sétimo ano, e que ser ou não monitora-chefe seria a minha última preocupação, ficaria bastante espantada.

Ao entrar na sala onze me detive, fascinada. Os garotos contaram que ela havia sido encantada para parecer uma floresta, mas eu não imaginava um trabalho tão minucioso. Não conseguia precisar bem qual seria a hora naquela floresta, se um amanhecer ou entardecer. Uma névoa envolvia o ambiente, mas diferentemente da sala sufocante da professora Trelawney, era uma fumaça suave, com cheiro de grama recém cortada, que era um dos cheiros que eu mais gostava.

A floresta parecia viva através de movimentos sutis, quase imperceptíveis. Seus ruídos se faziam presentes de forma suave, e ao fundo se ouvia um som contínuo e grave, como um mantra. O céu estava escuro o suficiente para que se percebesse as estrelas brilhando suavemente, entre as quais se destacava Marte, que reconheci pela cor e posição naquela época do ano. A impressão que eu tive, ao entrar lá, é que o tempo estava suspenso.

Wannabee | dramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora