Capítulo 6 - A Copa de Quadribol

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Longe de Hogwarts, nas férias, consegui o distanciamento necessário para pensar sobre tudo o que havia me acontecido no ano letivo passado. Toda aquela leitura sobre Magia Antiga me inspirou a formular as coisas nos seguintes termos: quem sou eu? Não pretendia responder essa questão com uma profundidade metafísica, mas ela me ajudou a voltar a raciocinar de forma mais lógica, o que era um alívio imenso.

Eu sou Hermione Granger, aluna de Hogwarts - não era essa a apresentação que melhor me definia? Eu estudo, analiso fatos, extraio conclusões lógicas. Pois bem, então seria assim que eu passaria a lidar daqui para frente com a questão Malfoy.

Eu tenho algum tipo de ligação com ele. Não vou negar, já recolhi evidências suficientes disso. É algo de ordem mágica, sobrenatural, não racional. Também já concluí isso. Mas o fato de ser irracional não significa que eu tenha que me entregar a esse sentimento. 

Eu posso, por exemplo, ter uma vontade irracional de matar alguém, como sinto quando Rony quer copiar minha lição ou quando Harry se arrisca desnecessariamente. Mas isso não quer dizer que vou matá-los de fato, ou mesmo feri-los de alguma maneira (apesar de já ter socado Rony uma ou duas vezes).

O que estou querendo dizer é que o fato de um sentimento ser irracional não significa que ele possa me dominar ou não possa ser controlado - ainda que não eliminado, como parece ser o caso do Synchro.

Uma coisa pela qual eu devo me congratular é que procurei conhecer bem meu inimigo, o que é uma característica muito típica minha. Eu estudei o Synchro. Nenhum fator externo pode me obrigar a tomar uma decisão interna, o Synchro é apenas uma indicação. Astra inclinant sed non obligant

Com isso, quero dizer que a conclusão obrigatória do Synchro não é que eu me case com Malfoy e viva feliz para sempre. Não é isso. É um sinal, alguma coisa que eu tenho que aprender sobre relacionamentos, elaborar internamente.

Além disso, há um limite que deve ser muito bem estabelecido. É impossível, por qualquer lugar que se aborde a questão, que eu tenha algum tipo de relacionamento afetivo com Draco Malfoy. Simplesmente impossível.

Primeiro, porque ele me despreza pelo que ele considera ser uma marca de inferioridade, o fato de eu ser nascida trouxa, ou sangue ruim. Depois, isso jamais seria aceito por aquela família odiosa dele, e não vejo nele a disposição suicida do Romeu de Shakespeare para ficar comigo. Ele me ignora, ou no máximo me acha impertinente, e nem o tapa na cara mudou isso.

Mas esses obstáculos, numa avaliação justa, não vinham apenas da parte de Malfoy, e eu devo ser honesta comigo. Eu não suportaria o olhar de decepção de Harry e de Rony se soubessem que eu tenho algum tipo de interesse romântico por Draco Malfoy - fico envergonhada só de pensar nisso.

O caráter de Draco é abominável, ele reúne tudo que eu detesto em uma pessoa, como esnobismo, crueldade e covardia. Portanto, nosso repúdio é mútuo, e eu posso dizer que a conclusão lógica, diante dessas evidências, é que nunca teremos nenhum tipo de relacionamento afetivo. Ponto final.

Levantados os dados preliminares do projeto, resta agora montar um procedimento. Sempre preferi ignorar as afrontas de Malfoy, e avalio que isso é bem efetivo, já que ele é movido às reações dos outros às suas provocações. Para ele, eu devo continuar essa pessoa a quem ele não atinge (reconheço que o tapa foi uma falha nesse procedimento - mas nada que eu não possa recuperar).

Mas só ignorá-lo não é o suficiente. O Synchro me sinaliza essa questão afetiva, romântica. Namorar ou me envolver com alguém, mesmo em um encontro sem compromisso, não é algo que estava nos meus planos, pois não combina com o papel de aluna exemplar com o que me identifico. Os estudos vêm sempre em primeiro lugar.

Wannabee | dramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora