Capítulo 36

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Eu tive dúvidas na noite de domingo para segunda-feira

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Eu tive dúvidas na noite de domingo para segunda-feira. As passagens estavam compradas e as malas, feitas. Eu já havia combinado tudo com Lorena e até mesmo Kevin estava por dentro da viagem. Porém, uma ansiedade terrível me atropelou de madrugada.

A última e única vez que fiz uma viagem tão longa foi com meus pais, há 10 anos, e a verdade é que aquela foi uma viagem para a desgraça, pois, muito pouco tempo depois, acabei perdendo as duas pessoas mais importantes da minha vida na cidade que deveria ter sido o nosso lugar de prosperidade.

Não posso negar que, de repente, me vi temeroso diante do que estava por vir. Eu planejava ir reencontrar minha avó, mas tinha medo de não encontrá-la. Porém, mais do que isso, eu tinha medo de me perder novamente, de cair na rua outra vez. Afinal, apesar de ser de Pernambuco, eu não conhecia absolutamente nada por lá.

Minha ansiedade — nunca suave — me tomou de uma forma que não consegui ficar deitado. Era como se os edredons estivessem me sufocando. Olhei as horas no celular e constatei que se aproximava das 10:30 da noite ainda.

Todos na casa haviam ido dormir cedo por ordem de Lorena, mas, ao sair do meu quarto e passar em frente a porta de Bernardo, presumi que ele estivesse acordado, pois notei sua luz acesa. De toda forma, desci para o primeiro andar, sentindo meu coração no pé da garganta, e caminhei na direção dos fundos da casa, enquanto pedia, suplicante, a Deus que me ajudasse. Eu estava sem ar.

Eu não sabia o que meu coração temia naquele instante, tudo que sei é que, de repente, meu espírito se perturbou. Então me sentei em um dos pequenos sofás que decoravam o exterior da casa e apoiei meus cotovelos sobre meus joelhos, escondendo meu rosto entre minhas mãos para fechar os olhos e pedir a Deus uma direção.

E, tão logo finalizei minha prece, percebi a presença de alguém. Olhei para trás e vi Lorena se aproximando.

— Achei que tinha ido dormir — ela disse se sentando ao meu lado.

— E tinha, mas não consegui pegar no sono.

— Ansioso com a viagem?

Assenti e ela sorriu fraco.

— Vai dar tudo certo, Raul.

— Se Deus quiser.

Lorena me fitou e eu, como se não fosse capaz de fazer algo diferente, a fitei de volta por alguns segundos, até que ela falou em um tom baixo, como se tivesse deixado as palavras escaparem:

— Eu queria que você fosse só um pouquinho mais velho.

Ri de suas palavras sem entendê-las bem.

— Por quê? — Perguntei.

Ela balançou a cabeça negativamente e respondeu:

— Por nada. Deixa pra lá! Pensei alto.

Ri novamente. Então um novo silêncio nos inundou, mas não por muito tempo, e, dessa vez, fui eu que o rompi:

O Malabarista - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora