Capítulo 50

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À noite naquele mesmo dia, Raul esperou por um momento em que Lorena estivesse só para, então, ir se desculpar com ela. Sentia uma sincera necessidade de esclarecer os seus pensamentos e atitudes diante da loira. Explicar-lhe que aquele pequeno, mas significativo gesto de mais cedo foi fruto de um impulso.

Ao entrar na cozinha, encontrou Lorena guardando a louça já lavada. Então, hesitante, Raul passou uma mão pelos cabelos levemente úmidos — havia se banhado ainda há pouco — e, tomando coragem de repente, chamou pela loira:

— Lorena.

Ela se virou imediatamente e sorriu.

— Ah, oi, Raul. Não vi que estava aí.

— Na verdade, eu acabei de entrar... Será que a gente pode conversar por um instante?

— Claro!

Lorena olhou em volta e, por fim, perguntou:

— Aqui mesmo ou...?

— Pode ser aqui mesmo. Não vai demorar. É que eu só...

Raul respirou fundo.

— Eu queria te pedir perdão pelo que aconteceu mais cedo.

— Perdão? Pelo quê? Pelo beijo? — Lorena perguntou com um pequeno sorriso, enquanto se aproximava da bancada onde Raul estava apoiado.

— Sim.

— Raul, você não precisa pedir perdão por aquilo.

— Não foi correto da minha parte.

— Como assim não foi correto?

O jovem rapaz suspirou e desviou o olhar para os seus próprios dedos, pensando na melhor resposta para dar. Mas Lorena respondeu sua própria pergunta antes que ele fosse capaz de proferir qualquer coisa:

— Você acha que é pecado.

Raul abriu a boca para concordar, mas a loira continuou:

— Não acho que seja pecado. Talvez, se você tivesse uma namorada ou eu, um namorado, aí sim poderíamos usar essa palavra. Mas não é o caso.

— Não é isso. É que eu entendo que esse tipo de coisa é algo íntimo de um casal e nós não somos um...

Um silêncio incômodo reinou entre os dois. Ao fundo, era possível escutar o som da TV na sala. Os olhos azuis de Lorena estavam fixos sobre Raul, que, sem pestanejo, a fitava de volta.

— Eu não estou dizendo que o sentimento que me motivou é falso. Ele não é. — O jovem rapaz retomou as palavras, vacilante, depois de alguns segundos. Não queria deixar nenhuma dúvida no ar. — Mas é que eu não quero pular etapas. A gente não começa uma casa pelo teto ou pelas janelas, nem mesmo pelas paredes. O alicerce é a primeira coisa que deve ser feita. É ele que garante que uma casa fique de pé por um bom tempo. E eu penso que não é saudável queimarmos essa etapa.

— E qual é a primeira etapa? — Lorena perguntou quase num sussurro.

Raul pensou e pensou, mas a resposta parecia não ser tão simples.

— Um jantar, um cinema... — respondeu a loira, divertida, ao notar Raul pensativo.

O jovem rapaz, então, sorriu e murmurou:

— É uma boa maneira de começar, eu acho.

— Estamos marcando um encontro?

— Parece.

Sorriram como duas crianças.

— Onde gostaria de ir?

— Ah! — Raul riu. — É difícil de escolher. Eu não conheço nada em Belo Horizonte, a não ser o centro.

O Malabarista - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora