Eu subi para pegar a minha loirinha assim que escutei seu choro. Eu havia passado boa parte da noite em claro com ela, que tinha pegado um resfriado, e estava realmente preocupada, pois doenças respiratórias é algo que parece estar em nossa genética.
— Pronto, amor! — Exclamei ao pegá-la no colo.
Seu narizinho estava vermelho e sua respiração, pesada. Além disso, só quando a peguei, foi que percebi a quentura de sua pele. Então apanhei o termômetro, que estava dentro de uma bolsa sobre a cômoda, pois, ainda no dia anterior, eu havia passado longas horas no hospital com ela; e coloquei debaixo do seu braço, beijando seu rosto logo em seguida, enquanto ela deitava em meu ombro, esmorecida.
— Lorena...
Fui tirada dos meus pensamentos quando ouvi a voz de Raul. Virei-me e o vi à porta.
— A Gilda estava trazendo esse remédio para a...
Ele pausou e sorriu fraco, dizendo:
— Ela realmente se parece muito com você.
— O importante é que tem saúde — brinquei.
Raul riu baixo e eu também, pois era bom vê-lo feliz.
— Vem cá! — Chamei-o, pois ele ainda estava na porta do quarto. — Vem cá ver a minha loirinha, que, geralmente, põe essa casa de cabeça para baixo, mas que, nos últimos dias está um pouco amuada... Né, amor? — Beijei seu rostinho outra vez.
— Licença — Raul, sempre educado, murmurou e entrou no quarto, enquanto a minha cota de ilusão só triplicava.
Então, quando ele chegou perto de mim, Beatriz ergueu a cabeça levemente e o fitou. E bastou que Raul mexesse as sobrancelhas divertidamente para que ela deixasse o semblante amuado de lado por um instante e sorrisse.
É impossível descrever o tamanho da felicidade que eu senti naquele instante.
— Olha só! Parece que alguém gostou do Raul.
Beatriz me olhou, mas só por alguns segundos, pois logo voltou o olhar para Raul e esticou uma mão em sua direção.
— Ela vai puxar seu cabelo — alertei quando vi Raul mais próximo daquela mãozinha astuta.
— Eu não tenho muito cabelo para ela puxar — Raul disse de um jeito brincalhão e eu ri apenas porque... Na verdade, não há um porquê.
De fato, Raul estava com pouco cabelo se comparado a quando o conheci. Eu imaginava que a razão fosse alguns dos muitos remédios que administraram nele quando ainda estava em coma. Alguns ele ainda teria que tomar por mais algumas semanas. Mas o que são simples semanas diante de todo o tempo que já passou?
— Posso segurar ela? — A pergunta de Raul me trouxe à realidade.
— Claro que pode! — respondi sem hesitar.
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O Malabarista - Concluída
SpiritualitéRaul é um morador de rua que perdeu sua mãe e, desde então, vive debaixo de um viaduto com o seu irmão mais novo chamado Kevin, de apenas 7 anos. Ele vive sem muita esperança de ter a sua sorte mudada, embora esteja sempre consolando o seu irmão, di...